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01 November 2024
10h20
Source:
Jornal de Negócios
Lagarde completa cinco anos de mandato "turbulento e não consensual" no BCE
Christine Lagarde assumiu as rédeas do Banco Central Europeu (BCE) há cinco anos e já teve de enfrentar uma pandemia, guerras na Ucrânia e na Palestina e inflação elevada, num mandato "turbulento" que ainda se prolonga por mais três anos.
Este mandato, que completa esta sexta-feira cinco anos, tem sido "algo turbulento e não consensual", destaca o economista Ricardo Amaro, da Oxford Economics, à Agência Lusa.
Henrique Tomé, analista da XTB, também aponta que "os últimos cinco anos têm sido de altos e baixos para o crescimento económico na Zona Euro, sendo que os desafios do mandato de Lagarde têm sido inúmeros".
A ex-ministra das Finanças francesa tem estado debaixo dos holofotes da economia europeia, depois de ter sucedido a Mario Draghi ao leme do BCE para um mandato de oito anos. Foi em novembro de 2019 e passaram-se apenas dois meses até surgir a pandemia de covid-19, um desafio para a responsável que tinha até aí estado à frente do Fundo Monetário Internacional.
As taxas estavam negativas e em setembro de 2020 ainda chegaram a passar de -0,40 para -0,50, mas depois disso o BCE não voltou a alterar até 2022, após um surto de inflação, com a reabertura das economias pós-pandemia e também a guerra na Ucrânia, que fez disparar os preços da energia.
O BCE foi mais lento do que a Fed em avançar com uma subida de juros para travar a inflação, tendo avançado com uma diferença de quatro meses. Subiu as taxas pela primeira vez em julho de 2022, deixando de estar em terreno negativo, e continuou um ciclo de subidas até setembro de 2023. Desde esse mês, manteve inalteradas as taxas até junho de 2024.
Com o recuo da inflação e perspetivas de atingir a meta de 2% no futuro, o BCE avançou para a primeira descida de juros deste ciclo, em junho deste ano, que foi repetida em setembro e outubro.
Para Ricardo Amaro, "a resposta à pandemia foi o aspeto mais positivo, com o BCE a adotar de forma rápida e decidida um conjunto de medidas significativas que ajudaram a estabilizar os mercados e que permitiu que famílias e empresas continuassem a ter acesso a crédito numa fase de muito incerteza e aversão ao risco na economia mundial".
No entanto, "a resposta à escalada da inflação será sempre mais discutida", admite. "Alguns apontarão que o BCE devia ter reagido mais rapidamente, e haverá uma discussão acesa sobre se o BCE não exagerou na subida dos juros dada a natureza do choque inflacionário na Europa", aponta.
"Há também um estilo de comunicação que não convence parte da comunidade analista", sublinha, sendo que "as performances nas conferências de imprensa costumam ser pouco ricas em conteúdo, a mensagem e análise nem sempre tem sido consistente e há também a apontar um ou outro deslize pouco comuns para alguém naquela posição".
O economista assume ainda assim que "seria sempre uma missão difícil suceder a Mario Draghi e a presidente Lagarde poderá sempre queixar-se dos desenvolvimentos muito exigentes, mas em alguns casos tem faltado alguma sensibilidade económica".
Henrique Tomé, por sua vez, destaca que os últimos cinco anos de Lagarde "têm sido assentes em três pilares: resposta à crise da pandemia provocada pela covid-19, estabilidade de preços e o combate à inflação e transição energética que continua a decorrer na Europa".
"Este último pilar tem sido um dos principais legados de Lagarde, a preocupação de incluir a sustentabilidade e o combate às mudanças climáticas", nota o analista, sendo que a presidente do BCE "tem defendido que os bancos centrais devem considerar os riscos financeiros associados às mudanças climáticas, e o BCE passou a priorizar o financiamento de ativos verdes e sustentáveis (alinhados com as práticas ESG)".
Já passou mais de metade do mandato, mas Lagarde continua com desafios pela frente. "A economia europeia está numa situação delicada" e "não está a crescer ao ritmo que o BCE perspetivava", salienta Ricardo Amaro.
Numa entrevista ao Le Monde publicada esta segunda-feira, Lagarde admitiu que "a Europa está a ficar para trás, e a França também", apontando que "o relatório Draghi destaca esse atraso em termos de produtividade, que se deve essencialmente ao setor de tecnologia".
"Por outro lado, o espectro da inflação ainda persiste o que levou a uma fase inicial dos cortes dos juros cautelosa", aponta Ricardo Amaro, pelo que se está a "entrar numa nova fase em que o BCE está a aumentar a frequência dos cortes à medida que intensificam os sinais de que a inflação ficará abaixo do que anteveu para os próximos anos".
"Terá de haver uma certa flexibilidade por parte do BCE nos próximos meses, e à presidente Lagarde caberá tentar direcionar a narrativa dentro do BCE de forma a engendrar a chamada aterragem suave", conclui o economista.
Este mandato, que completa esta sexta-feira cinco anos, tem sido "algo turbulento e não consensual", destaca o economista Ricardo Amaro, da Oxford Economics, à Agência Lusa.
Henrique Tomé, analista da XTB, também aponta que "os últimos cinco anos têm sido de altos e baixos para o crescimento económico na Zona Euro, sendo que os desafios do mandato de Lagarde têm sido inúmeros".
A ex-ministra das Finanças francesa tem estado debaixo dos holofotes da economia europeia, depois de ter sucedido a Mario Draghi ao leme do BCE para um mandato de oito anos. Foi em novembro de 2019 e passaram-se apenas dois meses até surgir a pandemia de covid-19, um desafio para a responsável que tinha até aí estado à frente do Fundo Monetário Internacional.
As taxas estavam negativas e em setembro de 2020 ainda chegaram a passar de -0,40 para -0,50, mas depois disso o BCE não voltou a alterar até 2022, após um surto de inflação, com a reabertura das economias pós-pandemia e também a guerra na Ucrânia, que fez disparar os preços da energia.
O BCE foi mais lento do que a Fed em avançar com uma subida de juros para travar a inflação, tendo avançado com uma diferença de quatro meses. Subiu as taxas pela primeira vez em julho de 2022, deixando de estar em terreno negativo, e continuou um ciclo de subidas até setembro de 2023. Desde esse mês, manteve inalteradas as taxas até junho de 2024.
Com o recuo da inflação e perspetivas de atingir a meta de 2% no futuro, o BCE avançou para a primeira descida de juros deste ciclo, em junho deste ano, que foi repetida em setembro e outubro.
Para Ricardo Amaro, "a resposta à pandemia foi o aspeto mais positivo, com o BCE a adotar de forma rápida e decidida um conjunto de medidas significativas que ajudaram a estabilizar os mercados e que permitiu que famílias e empresas continuassem a ter acesso a crédito numa fase de muito incerteza e aversão ao risco na economia mundial".
No entanto, "a resposta à escalada da inflação será sempre mais discutida", admite. "Alguns apontarão que o BCE devia ter reagido mais rapidamente, e haverá uma discussão acesa sobre se o BCE não exagerou na subida dos juros dada a natureza do choque inflacionário na Europa", aponta.
"Há também um estilo de comunicação que não convence parte da comunidade analista", sublinha, sendo que "as performances nas conferências de imprensa costumam ser pouco ricas em conteúdo, a mensagem e análise nem sempre tem sido consistente e há também a apontar um ou outro deslize pouco comuns para alguém naquela posição".
O economista assume ainda assim que "seria sempre uma missão difícil suceder a Mario Draghi e a presidente Lagarde poderá sempre queixar-se dos desenvolvimentos muito exigentes, mas em alguns casos tem faltado alguma sensibilidade económica".
Henrique Tomé, por sua vez, destaca que os últimos cinco anos de Lagarde "têm sido assentes em três pilares: resposta à crise da pandemia provocada pela covid-19, estabilidade de preços e o combate à inflação e transição energética que continua a decorrer na Europa".
"Este último pilar tem sido um dos principais legados de Lagarde, a preocupação de incluir a sustentabilidade e o combate às mudanças climáticas", nota o analista, sendo que a presidente do BCE "tem defendido que os bancos centrais devem considerar os riscos financeiros associados às mudanças climáticas, e o BCE passou a priorizar o financiamento de ativos verdes e sustentáveis (alinhados com as práticas ESG)".
Já passou mais de metade do mandato, mas Lagarde continua com desafios pela frente. "A economia europeia está numa situação delicada" e "não está a crescer ao ritmo que o BCE perspetivava", salienta Ricardo Amaro.
Numa entrevista ao Le Monde publicada esta segunda-feira, Lagarde admitiu que "a Europa está a ficar para trás, e a França também", apontando que "o relatório Draghi destaca esse atraso em termos de produtividade, que se deve essencialmente ao setor de tecnologia".
"Por outro lado, o espectro da inflação ainda persiste o que levou a uma fase inicial dos cortes dos juros cautelosa", aponta Ricardo Amaro, pelo que se está a "entrar numa nova fase em que o BCE está a aumentar a frequência dos cortes à medida que intensificam os sinais de que a inflação ficará abaixo do que anteveu para os próximos anos".
"Terá de haver uma certa flexibilidade por parte do BCE nos próximos meses, e à presidente Lagarde caberá tentar direcionar a narrativa dentro do BCE de forma a engendrar a chamada aterragem suave", conclui o economista.