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22 September 2024 15h26

Os dois desconhecidos que vão tentar travar o défice francês

O primeiro-ministro francês Michel Barnier entregou a uma dupla pouco conhecida a tarefa de lidar com enorme buraco orçamental, colocando a lealdade à frente da influência política na descrição das funções dos seus ministros das Finanças e do Orçamento.

Após semanas de suspense, Barnier revelou este sábado a lista de ministros que integrarão o seu governo, nomeando Antoine Armand, de 33 anos, para o prestigiado Ministério da Economia e Finanças.

Barnier também nomeou Laurent Saint Martin, 39 anos, chefe do gabinete governamental que promove o investimento estrangeiro em França, como ministro do Orçamento, colocando-o diretamente sob a sua alçada e não sob a alçada do Ministério das Finanças, numa rutura com a tradição.

Desconhecidos fora dos círculos políticos parisienses, os dois governantes enfrentam uma enorme pressão para encontrar uma forma de controlar o défice orçamental francês, que se aproxima dos 6% do PIB, devido a uma quebra nos impostos e a despesas superiores ao previsto.

Embora não tenham peso político, os economistas dizem que os dois governantes correm pouco risco de pôr em risco o legado do Presidente Emmanuel Macron se conseguirem aprovar o Orçamento para 2025.

"É uma forma de manter a continuidade política, eles são fiéis e seguirão a linha política de Emmanuel Macron", diz o economista Mathieu Plane, do influente think tank francês OFCE.

Antoine Armand, de 33 anos, é deputado desde 2022. Este domingo, afirmou em entrevista ao "Le Journal du Dimanche" que excluir "certos impostos excecionais e seletivos desde o início não seria responsável" nas atuais condições das finanças públicas francesas.

O recém nomeado afirmou ainda que no atual contexto "inédito (...) cada ministério terá de fazer propostas para corrigir as finanças públicas".

Ainda assim,assegurou que não será "o ministro do confisco orçamental" e que não está disposto a que a França não faça os investimentos necessários para o seu "futuro económico e ecológico".

Já Laurent Saint Martin foi deputado e em 2023 foi nomeado por Emmanuel Macron diretor-geral de negócios em França, uma função sob a alçada do Presidente e que funciona como organismo de atração de investimento esntrangeiro para o país.

Ainda não é claro qual dos dois governantes assumirá a liderança na condução do projeto de lei orçamental para 2025.

Normalmente, o ministro das Finanças de França elabora e conduz a proposta orçamentalentregue ao parlamento, com o ministro do Orçamento a desempenhar um papel secundário para resolver os problemas.

Em todo o caso, caberá a Armand defender as opções orçamentais do Governo em Bruxelas, onde os parceiros franceses da União Europeia não deverão ter grande simpatia pelo facto de Paris voltar a pedir mais tempo para reduzir o seu défice orçamental.

Terá também de representar a França em fóruns internacionais como o G7 e o G20, onde partilhará o palco com responsáveis políticos muito mais experientes, como a Secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen.

O esforço do próximo governo francês para reduzir o défice orçamental terá de vir de cortes impopulares na despesa e que deverão rondar os 20 a 30 mil milhões de euros, dependendo da rapidez com que o Governo decidir reduzir o saldo orçamental, segundo cálculos do Tesouro.