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"Portugal não é uma ilha, o que acontecer a nível mundial vai afetar-nos imenso"
Questionado sobre se Portugal está a ser influenciado pela conjuntura internacional, João Borges de Assunção é taxativo: "Nós não somos uma ilha, o que acontecer a nível mundial vai afetar-nos imenso. Não apenas nos preços e na inflação, mas também na atividade económica. Acompanhamos o resto do mundo desenvolvido".
No segundo trimestre o crescimento económico abrandou mas, na leitura do economista, é cedo para associar essa quebra ao um abrandamento a nível mundial. "Pelo contrário, penso que é quase uma compensação de crescimentos inesperadamente elevados nos trimestres precedentes", afirma.
Contudo, para Borges de Assunção, as metas para este ano que o Executivo colocou no Orçamento do Estado (OE) "talvez sejam mais dificeis de atingir e ainda é cedo para rever em baixa as previsões para o próximo ano. Mas certamente que a elaboração do próximo OE num cenário macro vai ser mais difícil do que parecia no início do ano, quer em termos do crescimento económico, quer em termos das metas orçamentais".
Além disso, sublinha, a conjuntura política e a composição da Assembleia da República "também criam incertezas e uma complexidade própria nas negociações para o OE".
Sobre o cenário global, o economista da Universidade Católica lembra que "a economia mundial nos últimos 20 anos teve crises muito severas, ainda estamos a viver sob efeitos da crise de 2007, a das crises soberanas e as consequências da pandemia de Covid-19. Ou seja, crises enormes que não estão ainda digeridas. Portanto, tudo o que se possa prever de negativo é excessivo comparado com estas crises".
No caso da Alemanha, o economista considera "surpreendente - e até preocupante - que ainda não tenha recuperado face aos níveis anteriores à pandemia. A explicação mais simples tem a ver com a demografia, um envelhecimento muito grande da população e uma redução da população ativa, o que faz com que seja difícil a Alemanha crescer". Contudo, uma vez que é o "motor" da economia europeia, "cria um problema para todas as outras".
Já nos Estados Unidos, Borges de Assunção vê um abrandamento como o cenário normal. "Foi feito um esforço muito grande de normalização das políticas orçamentais e monetárias. No essencial, isso tem sido surpreendentemente bem sucedido, ou seja, a tese da chamada 'aterragem suave' parece a mais credível", afirma. O economista acredita ainda que não são os números do desemprego menos positivos que vão criar turbulência quer no estado da economia quer na política monetária.
Quanto à China, sublinha, houve um crescimento bastante fraco no segundo trimestre "e muitas vezes os dados [estatísticos] chineses não são os mais consistentes, o que significa que as coisas podem ser ainda piores".
A China "tem problemas próprios ligados ao imobiliário antigos e que dificilmente estão resolvidos e demoram muito tempo a resolver, tem o problema de maior fragilidade no comércio externo, as fricções com os países ocidentais estão também a pesar muito negativamente, o consumo interno não é muito punjante e isso também é fator de fragilidade. A própria desvalorização do yuan reflete o medo dos investidores internacionais em colocar capital na China", elenca.