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02 janeiro 2025 00h20
Fonte: Visão

Como vamos gerir o dinheiro em 2025

Como vamos gerir o dinheiro em 2025

A notícia mais importante do ano que aí vem é, provavelmente, a descida das taxas Euribor. No país dos endividados, vão sobrar mais alguns euros no final do mês. O que podemos fazer para aproveitar estes ventos favoráveis? Saiba o que vai mudar em termos de salários, impostos, custo de vida… E quais são as apostas (de risco) dos investidores.

 

 

1º. A Descida Das Taxas

 

 No dia 1 de outubro de 2008, a Euribor a seis meses chegava aos 5,405%. Este "disparate” que atirou muitas famílias para a situação trágica de perder a casa, por não conseguirem suportar o valor da prestação ao banco, tinha sido provocado pela explosão de uma bolha imobiliária, simbolizada pela queda do Lehman Brothers. Passaram 16 anos.

 

 

Desde aí, nunca a Euribor a seis meses tinha estado tão alta como em outubro de 2023, em que ultrapassou os 4%. Foi um ano de "recessão global”, como o caracterizaram as Nações Unidas. Na Zona Euro, a inflação atingira os 10,14% em outubro de 2022. Na ressaca da Covid-19, com o mundo a querer voltar a consumir como se não houvesse amanhã, mas ainda com a produção e o abastecimento fragilizados, a escassez de produtos levou ao aumento de preços nos bens alimentares. Juntando à "festa” a guerra na Ucrânia e a subida do preço dos combustíveis, tivemos o Banco Central Europeu (BCE) a querer controlar a inflação com as taxas de juro, para refrear o consumo.

 

 

E agora? A Euribor a seis meses está nos 2,6% e a 12 meses nos 2,4%. "As previsões apontam para que o BCE desça a taxa de referência para 2% até ao verão do próximo ano. Isto significa que podemos esperar que as taxas de juro em 2025 associadas ao crédito habitação também desçam”, explica a Doutor Finanças, empresa especializada em finanças pessoais e familiares (ver opinião de Sérgio Cardoso, administrador da Academia Doutor Finanças, nestas páginas).

 

 

"Após tocarem neste nível, as taxas Euribor devem recuar de forma ligeira, não se afastando muito da referência do BCE (que deverá estar nos 2%). Dentro deste contexto, muitas famílias questionam o que devem fazer ao seu crédito habitação: taxa mista ou taxa variável? O que nos dizem os dados disponíveis é que atualmente conseguimos contratar um crédito com taxa fixa de 2,6% durante dois anos. Se as taxas Euribor recuarem para níveis de 1,85%, como se prevê que aconteça no final do próximo ano, a diferença entre os dois cenários é nula, uma vez que no caso de termos um contrato a taxa variável, temos de acrescentar o spread (1,85% mais 0,75% de spread corresponde a 2,6%)”, descreve ainda.

 

 

Claro que esta é a previsão a curto prazo e, num crédito à habitação, muitos anos passam e outra crises virão. Por isso, a análise deve ser feita de outra maneira: tenho margem para enfrentar alguma instabilidade no futuro? Ou é melhor ficar pela segurança da taxa fixa, tendo de eventualmente pagar mais nas alturas em que a variável está baixa?

 

 

"A evolução da economia, nomeadamente na Alemanha e em França, e as questões geopolíticas, nomeadamente as que envolvem os EUA [com as ameaças de Donald Trump de impor novas e gravosas tarifas comerciais], podem fazer toda a diferença na política monetária”, continua a Doutor Finanças, mostrando que navegaremos sempre nas movediças terras da incerteza.

 

 

2º. As Poupanças e o Risco

 

 

Se para quem está endividado a queda da Euribor é uma boa notícia, para os depósitos a prazo nem por isso. "Se as taxas de juro descerem ao ritmo antecipado, as famílias podem esperar um retorno menor das suas poupanças. As taxas de juro dos depósitos e dos Certificados de Aforro vão acompanhar a evolução, o que significa que o retorno das poupanças dos portugueses vai diminuir”, continua a Doutor Finanças.

 

 

Para quem tem dinheiro e gosta de arriscar mais, os analistas de mercados já estão a dar os seus conselhos para 2025. A Santander Asset Management, por exemplo, fala em "oportunidades de investimento atrativas, tanto em ativos tradicionais como em mercados privados”, muito devido ao controlo da inflação, nos Estados Unidos e na Europa, assim como a um "sólido crescimento económico de cerca de 3% a nível global”.

 

 

E onde se investe melhor, segundo a gestora do banco Santander? Ativos de risco como as ações norte-americanas, alavancadas em "políticas previstas de impostos mais baixos e desregulação da nova administração de Donald Trump, que poderão ser um catalisador positivo para os mercados de ações”. Prevê-se um crescimento de 12% no índice S&P (Standard & Poor’s 500, que apresenta um ganho de 70% desde outubro de 2023), composto pelas 500 maiores empresas americanas cotadas em Wall Street. E as tecnológicas ligadas à Inteligência Artificial (IA) continuam a ser as rainhas dos ganhos.

 

 

"Para 2025, identificamos cinco ideias-chave de investimento: as ações dos EUA, as obrigações de empresas da Zona Euro e do Reino Unido, as obrigações da América Latina, o dólar e a Inteligência Artificial generativa 2.0, ampliando o investimento a todo o ecossistema”, refere José Mazoy, diretor de Investimentos da gestora, em comunicado.

 

 

Mas cuidado: se é um principiante – e nunca é demais dizê-lo –, não se aventure em territórios que desconhece, levado por gurus que encontra nas pesquisas do Google. Sobretudo, não ponha os ovos todos no mesmo cesto.

 

 

A febre das criptomoedas, por exemplo, ainda continua, mas atente-se às palavras de Paulo Monteiro Rosa, economista sénior do Banco Carregosa, no Eco. Embora "a lógica para qualquer gestor e investidor é centralizar o seu portefólio nos EUA”, "uma eventual implosão das criptomoedas diferenciar-se-ia de outras bolhas históricas, como a da internet, que deixou infraestruturas de banda larga que impulsionaram a economia, a da ferrovia do século XIX, que deixou linhas férreas, ou até a crise do subprime em 2008/09, que, embora tenha originado uma crise financeira que ditou a Grande Recessão, deixou habitações construídas. No caso das criptomoedas, não sobraria nada de tangível, apenas zeros e uns num computador, uma vez que o seu valor, mesmo o do BTC, assenta na confiança dos investidores na lógica dos algoritmos que as sustentam”.

 

 

Mesmo o crescimento da IA não tem uma "dinâmica garantida indefinidamente, especialmente após mais de uma década de taxas de juro próximas de zero. A IA pode ser comparada com uma barragem que sustém uma albufeira a transbordar de taxas de juro elevadas”.

 

 

Com todas as cautelas, o certo é que o dinheiro está agora a ir em direção aos EUA, "impulsionado pelas tensões geopolíticas no Médio Oriente, pela guerra na Ucrânia e pelos problemas políticos e económicos na Europa, nomeadamente no eixo franco-alemão”.

 

 

Anda ali uma euforia, que inclui empresas como a Amazon ou a Tesla, e uma esperança no liberalismo económico mais radical de Donald Trump que faz a grande tendência nos investimentos para o ano que aí vem.

 

 

ALEXANDRA CORREIA