Voltar
31 outubro 2024 01h20

Regresso à maior montra abre a porta a novos credores

Regresso à maior montra abre a porta a novos credores

OBRIGAÇÕES



A dívida pública portuguesa vai voltar a negociar no principal índice de obrigações do mundo, na mesma altura em que o Tesouro vai tentar seduzir novos investidores num "roadshow” pela Ásia. Os analistas antecipam um impacto positivo para o financiamento.



Em plena crise das dívidas soberanas europeias, Portugal foi considerado "lixo” financeiro pelas três principais agências de rating norte-americanas. A canadiana DBRS manteve a classificação do país como investimento de qualidade, o que permitiu que as obrigações nacionais fossem incluídas nos programas de compras do Banco Central Europeu (BCE), mas não foi suficiente para para permanecer no FTSE World Government Bond Index – a maior montra de dívida global.



Em fevereiro de 2012, Portugal foi excluído do WGBI, o índice de referência que tenta medir o desempenho de títulos soberanos de taxa fixa, moeda local e grau de investimento emitidos por governos, sobretudo das economias avançadas. Quase 13 anos depois e já classificado como rating A, Portugal volta esta sexta-feira a negociar no WGBI, o que abre a porta a novos credores.



"É importante para o financia mento do país. O WGBI é um dos índices de referência para investidores institucionais internacionais, tais como fundos de pensões, seguradoras e fundos soberanos. Muitos destes investidores estruturam as suas carteiras de obrigações de acordo com o WGBI. Também aumenta a liquidez, melhora a credibilidade internacional, fortalecendo a nossa independência financeira via maior diversificação, reduzindo a sua dependência de instituições como o BCE”, diz Paulo Monteiro Rosa, economista s énior do Banco Carrego sa.



"Deverá abrir a porta a novos investidores e, por conseguinte, tem um impacto positivo, mas é difícil dizer em que medida, uma vez que alguns investidores podem já ter comprado, mas é definitivamente um fator positivo”, refere Jens Peter Sørensen, analista-chefe de "research” do Danske Bank sobre o regresso ao índice.



Para o economista sénior do Banco Carregosa, este regresso torna o país "mais atrativo” em termos de financiamento e acessível a mais investidores, o que é uma forma de diversificação das fontes de financiamento. Além disso, antecipa "uma redução dos custos com o acesso a uma base de investidores mais abrangente, aumentando a confiança dos investidores, reduzindo, assim, o prémio de risco associado”.



A "yield” das obrigações portuguesas a 10 anos negoceia atualmente nos 2,8% – e já chegou mesmo a tocar terreno negativo, no final de 2020 –, longe dos níveis superiores a 12% por altura da exclusão do WGBI. Já o "spread” face à Alemanha está em apenas 39 pontos-base.



É neste indicador, que funciona como barómetro de risco para os investidores, que Paulo Monteiro Rosa espera ver impacto. O economista sublinha, contudo, que Portugal já tem beneficiado dos efeitos positivos da consolidação das contas públicas, com excedentes orçamentai s e redução do rácio da dívida pública em relação ao PIB nominal, o que se tem refletido em "spreads” mais baixos do que os de países mediterrânicos e até de França.



Sørensen lembra ainda que o impacto direto pode ser "pequeno”. O mais visível será, segundo o especialista, nos "spreads”, em que Portugal é suscetível de ter um desempenho superior ao dos seus pares. Contudo, "penso que uma parte desse impacto já foi calculado, uma vez que os investidores que acompanham o FTSE WGBI podem reequilibrar-se antes da inclusão provavelmente já o fizeram, mas para os investidores mais passivos, como os ETF, o reequilíbrio ocorre quando é incluído e devemos ter um impacto”.



A inclusão no índice de referência e o rating A vão ser fatores-chave para Portugal conseguir não só mais, mas também diferentes investidores em dívida. Segundo disse o presidente da Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública - IGCP, Miguel Martín, o país está a captar a atenção de fundos soberanos e de pensões, incluindo da Noruega ou do Médio Oriente. E prepara-se para rumar à Ásia para um "roadshow” com o objetivo de seduzir novos credores.



Em setembro, o líder do IGCP anunciou que vai realizar, no próximo mês, uma série de encontros com investidores asiáticos. Explicou que Noruega, Médio Oriente ou Singapura são geografias de onde os fundos de pensões e soberanos já estão a investir em Portugal, graças ao rating A. "Também o Japão pode começar a comprar” com a inclusão no principal índice mundial de obrigações WGBI, segundo Miguel Martín.



"Aumenta a liquidez, melhora a credibilidade internacional, fortalecendo a nossa independência financeira."
PAULO MONTEIRO ROSA
Economista sénior do Banco Carregosa



"Alguns investidores podem já ter comprado, mas é definitivamente um fator positivo."
JENS PETER SØRENSEN
Analista-chefe do Danske Bank