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16 agosto 2022 09h00
Fonte: Novo

Bitcoin já está acima dos 23 mil dólares, mas retoma depende da conjuntura

Bitcoin já está acima dos 23 mil dólares, mas retoma depende da conjuntura
MERCADO

Bitcoin acima dos 23 mil dólares ainda não significa retoma

MERCADO

A mais famosa moeda virtual estabilizou em torno dos 23/24 mil dólares, depois dos tombos do início do Verão. Eventual valorização estará dependente do contexto macroeconómico e das empresas de chips

Cautela e conservadorismo são as palavras de ordem nas próximas semanas para o mercado das criptomoedas. Os tempos de chuva no São João talharam o vinho e não deram pão a estes investidores, que viram a bitcoin perder mais de 35% do valor e ter o seu pior mês em 11 anos. A ethereum conseguiu superar pela negativa e desvalorizou-se mais de 45%, perfazendo a maior peida desde Março de 2018.

Nos últimos dias, a situação reverteu-se e os valores, entretanto, normalizaram-se entre os 23 mil e os 24 mil dólares, mas o contexto macroeconómico continuará a criar obstáculos à procura, sobretudo se na Europa não acontecer como no outro lado do Atlântico, onde a inflação abrandou para os 8,5% em Julho.

"Exceptuando as criptomoedas que possam estar mais associadas às compras em marketplaces [lojas online], de que a ethereum é um adequado exemplo, a evolução destas divisas digitais deverá continuar a ser observada de fornia bastante conservadora e de risco extremo, sobretudo nos momentos em que a aversão ao risco é elevada, aguda e severa”, adverte João Queiroz, responsável de

trading do Banco Carregosa, em declarações ao NOVO.

A seu ver, há ainda a questão do sector dos semicondutores, onde se inserem as empresas que produzem chips e processadores necessários à mineração das moedas digitais, através do processamento algorítmico. "No segundo trimestre observou-se uma forte estagnação ou mesmo contracção da procura por parte das empresas e particulares que se dedicam à geração destes activos, o que, conjugado com os mais elevados preços da energia eléctrica, toma mais onerosa a sua geração, atendendo a que perante as mais elevadas temperaturas se observa um acréscimo dos encargos com o necessário arrefecimento das máquinas”, explica.

A fabricante de placas gráficas Nvidia, marca usada em plataformas de mineração de bitcoin, já veio alertar que, no dia 24 de Agosto, as receitas apresentadas pela empresa serão piores do que o esperado. A electrónica foi também um dos pontos de faísca, esta semana, entre as duas maiores economias do mundo, quando o Presidente dos Estados Unidos promulgou uma nova lei com estímulos de 52 mil milhões de dólares à produção de semicondutores. Nas palavras de Joe Biden, esta é a "competição económica do século XXI”.

"Os mercados continuam muito atentos ao que se passa nos Estados Unidos”, diz Henrique Tomé, analista da XTB, ao NOVO. Segundo o analista, embora a situação no leste da Europa continue a ser um motivo de preocupação para os investidores, a atenção continua centrada no mercado norte-americano, nomeadamente no impacto que as políticas monetárias mais restritivas adoptadas pela Fed e pelos restantes bancos centrais, "dado que estas medidas podem ter consequências económicas ainda mais negativas”.

Além de mudanças como aquela na lei, na opinião de João Queiroz, a proibição de transacções de criptomoedas - na China, Egipto, Iraque, Catar, Omã e, mais próximo, em Marrocos e Argélia -, quando os bancos centrais já têm divisas digitalizadas em experiências, reforça a percepção de que elas "continuarão a ver limitada a sua procura e apreciação” (com excepção do caso de EI Salvador, com uma inflação elevada e reservas baixas de divisas).

"Os próximos meses deverão revelar-se desafiantes, uma vez que o mercado de trabalho come-, ça a dar sinais (ligeiros) de deterioração que podem agravar-se após o período do Verão, levando a um aumento do desemprego, dado que muitos dos empregos são apenas sazonais. Deste modo, diria que o foco dos investidores irá essencialmente para a evolução do mercado de trabalho nos próximos tempos, pois, enquanto se mantiver sólido, é possível descartar a ideia de recessão. Porém se começar a dar sinais de deterioração, então o cenário de recessão poderá voltar a ganhar novamente destaque”, antevê Henrique Tomé.

O responsável do Banco Carregosa recorda que a cotação da bitcoin se corrige -67% em relação ao máximo de 68 991 dólares e, enquanto se mantiver abaixo dos 25 mil dólares, o mercado estima que pode testar os 15 mil dólares. "Uma possível queda dos preços da energia e uma mais generalizada utilização poderiam alterar de forma relevante o seu desempenho, mas com a continuada digitalização e evolução tecnológica dos meios de pagamento, a importância e relevância das moedas digitais pode observar uma acrescida dificuldade na sua retoma”, afirma.

O fim do Verão será também a despedida da rede Ethereum na sua versão actual, devido à actualização para a definitiva (Ethereum 2.0), conhecida no ecossistema como "The Merge” ("A Fusão") e da qual se falava há vários anos. Parece que desta vez será mesmo em meados de Setembro que irá avançar, de acordo com a informação transmitida esta semana pelos peritos, como o investidor e formador Anthony Sassano. A acontecer a mudança levara a que deixem de ser necessários mineradores e poderá ter um impacto deflacionário na segunda moeda mais famosa do mundo virtual.