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20 outubro 2024 16h03

Mia Couto apela a líderes moçambicanos para entenderem que violência não é solução

O escritor Mia Couto defendeu este domingo, 20 de outubro, que a situação de tensão em Moçambique apela a uma liderança que entenda que a violência não é solução e que a tranquilidade não será conseguida com tumultos ou com repressão policial.

Reagindo ao homicídio de dois apoiantes do candidato presidencial Venâncio Mondlane, que levou à convocação de uma manifestação de repúdio para segunda-feira, o escritor moçambicano disse à agência Lusa que "situações de tensão como esta apelam para uma liderança que entenda que a violência não é a solução", sustentando que "a qualidade de um verdadeiro líder revela-se exatamente no modo como é capaz de superar a crise a bem de todos e no interesse do país que pretende governar".

A tensão em Moçambique escalou depois de Elvino Dias, advogado de Venâncio Mondlane, e Paulo Guambe, mandatário do Povo Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos), partido que apoia o candidato presidencial, terem sido mortos a tiro na sexta-feira à noite, no centro da capital moçambicana.

O candidato convocou marchas pacíficas para segunda-feira, repudiando o homicídio dos dois apoiantes, dizendo, citando a Bíblia, que o "sangue" das vítimas "tem de ser vingado", e responsabilizou as Forças de Defesa e Segurança (FDS), garantindo ter provas.

Mia Couto disse hoje esperar que as forças policiais "sejam capazes de provar a sua eficiência, sobretudo, a sua isenção e sua credibilidade como força ao serviço da ordem pública que não é propriedade de nenhum partido". Para isso, acrescentou, "é necessário que se apresentem provas irrefutáveis a partir de uma investigação policial célere e independente".

O escritor considera igualmente necessário "o mesmo processo de esclarecimento com provas e factos" em relação ao processo eleitoral.

"Já não bastam perceções, já não bastam proclamações de um e de outro lado. É preciso factos concretos que sejam incontestáveis", afirmou, considerando que "não se pode simplesmente repetir os mesmos processos já contaminados pela suspeita generalizada de fraude" e ser preciso que, "como sugeriu a Ordem dos Advogados, se tornem públicas as atas e os editais de modo que se revele a verdade dos resultados".

No entender de Mia Couto "a tranquilidade e a reconciliação" que o país necessita agora "não será conseguida nem com tumultos nem com repressão policial", apelando a que "sejam anunciadas sem mais demoras garantias de que todo este processo será conduzido de forma que se reconquiste a confiança e a credibilidade e se afaste, de parte a parte, o recurso ao medo e à ameaça da força".

No sábado, em declarações à Lusa, o escritor tinha já defendido não ser do interesse de nenhum dos candidatos "herdar um uma nação rasgada pelo ódio e pelo ressentimento" e que o presidente que vier a ser eleito "terá de ser o presidente de todos os moçambicanos".

"Não será apenas o dirigente dos seus adeptos partidários", acrescentou hoje, vincando que o próximo presidente de Moçambique "poderá converter esta situação de crise nacional numa oportunidade de afirmação de maturidade política, cívica e humana".

Se o fizer, "ganhará a simpatia de todos nós", disse Mia Couto, lembrando que, "como alguém já escreveu, a grandeza de um presidente não se mede pelos aplausos dos seus seguidores mas pelo respeito que granjeia entre os seus adversários".

As eleições gerais de 9 de outubro incluíram as sétimas presidenciais - às quais já não concorreu o atual chefe de Estado, Filipe Nyusi, que atingiu o limite de dois mandatos -, em simultâneo com as sétimas legislativas e quartas para assembleias e governadores provinciais.

A CNE tem 15 dias, após o fecho das urnas, para anunciar os resultados oficiais das eleições, data que se cumpre em 24 de outubro, cabendo depois ao Conselho Constitucional a proclamação dos resultados, após a conclusão da análise, também, de eventuais recursos, mas sem um prazo definido para esse efeito.