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21 março 2023 11h20

Obrigacionistas do Credit Suisse sofrem perda histórica de 16 mil milhões de euros

Obrigacionistas do Credit Suisse sofrem perda histórica de 16 mil milhões de euros
O Credit Suisse, sob o aval do regulador financeiro suíço e no âmbito do acordo com o UBS, alterou a hierarquia das perdas de capital imputadas aos investidores aquando de um cenário de resgate.

O acordo de aquisição do Credit Suisse pelo UBS por três mil milhões de francos suíços (3,04 mil milhões de euros à taxa de câmbio atual) vai implicar a perda de 16 mil milhões de francos suíços (16,12 mil milhões de euros) para os detentores de obrigações "tier 1", isto é, títulos que podem ser convertidos em capital, do banco liderado por Ulrich Koerner.


Estas perdas foram anunciadas pelo regulador financeiro suíço em comunicado, que acabou por, excecionalmente, inverter a hierarquia de perdas de capital quando decorre um resgate de um banco.


"A questão que se colocou aqui dentro deste quadro de resolução do Credit Suisse é que as autoridades helvéticas criaram um quadro de excecionalidade onde alteraram a hierarquia das perdas de capital", começa por explicar João Queiroz, responsável pela negociação da sala de mercados do Banco Carregosa.

As obrigações "tier 1" - ou "CoCos" (singa inglesa a para instumentos convertíveis de capital contingente) - "não são das primeiras a perderem". "Houve uma alteração com o patrocínio das autoridades helvéticas, ao contrário do que acontece geralmente na Europa", adianta o analista.


Por norma, as perdas neste tipo de situações são primeiramente imputadas aos acionistas, depois aos titulares de obrigações subordinadas e só a seguir aos detentores de títulos "tier 1".


Esta "alteração momentânea", como define João Queiroz, levou a Autoridade Bancária Europeia (EBA, na singla inglesa) a frisar que a hierarquia de absorção de perdas se mantém.

Para o responsável da sala de mercados do Banco Carregosa esta alteração na hierarquia dos instrumentos financeiros que respondem pelas perdas de capital de um banco em situações de resolução deve-se à necessidade de o Credit Suisse "tentar não dececionar os investidores que acorreram ao aumento de capital no quarto trimestre de 2022".


Esta foi a maior perda até ao momento sofrida pelo mercado de "CoCos". Mas a operação mais recente até à compra do Credit Suisse pelo UBS teve lugar quando o espanhol Banco Popular foi adquirido pelo Santander, tendo resultado em perdas de eliminação de 1,35 mil milhões de euros neste tipo de instrumentos de capital contingente.


Atualmente, e segundo a Bloomberg, o mercado europeu de "CoCos" - a que recorrem investidores de longo prazo como fundos de pensões e seguradoras - está avaliado em cerca de 275 mil milhões de dólares, segundo a Bloomberg, o equivalente a 257 mil milhões de euros, ao câmbio atual.