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20 junho 2013 07h58

Pires de Lima contra o discurso de "apologia do empobrecimento"

Para que haja, em Portugal, "uma luz ao fundo do túnel" é necessário "estabilizar o consumo privado" (que representa "65 % da nossa economia"), sustentou o gestor e dirigente centrista, que falava, na noite de quarta-feira, num hotel de Coimbra, numa conferência integrada no ciclo "Há Luz ao Fundo do Túnel?".
 
"Se continuarmos a fazer um discurso que é uma espécie de apologia do empobrecimento, a demonizar o consumo privado, se continuarmos a pretender fazer a figura de uma espécie de apóstolo do empobrecimento, aquilo que vai acontecer é que esta trajectória não vai ser corrigida", alertou.
 
"É preciso dar um sinal de previsibilidade e de estabilidade às pessoas que vivem dos seus rendimentos, do trabalho ou das pensões", sublinhou Pires de Lima, considerando que "seria importante -- mesmo que essas mudanças não se possam fazer já em 2014" --, estabelecer "um calendário, um compromisso, que desse um sinal às pessoas" sobre quando é que "as sobretaxas que foram criadas" sobre os rendimentos do trabalho, reformas e pensões, "podem ser retiradas".
 
Para o dirigente do CDS-PP "não é razoável que pessoas com rendimentos médios paguem 40 ou 50% de IRS", nem é "saudável que se encare como definitivo o que foi apresentado como provisório e temporário, há cerca de dois anos".
 
Seria importante, salientou, que "o Governo de Portugal assumisse esse trabalho quando estiver a preparar o Orçamento [de Estado] para 2014, mesmo que chegue à conclusão que ainda não é possível reduzir a carga fiscal das pessoas que trabalham e pensionistas em 2014".
 
O processo de "ajustamento económico" tinha, "de alguma maneira, de funcionar de acordo com as regras" definidas pela 'troika', "dado que perdemos a soberania, ao nos deixarmos cair na armadilha do endividamento do país", afirmou Pires de Lima, advogando que Portugal "não tinha muita margem de manobra para não deixar de executar o memorando" de entendimento e as suas "sucessivas avaliações".
 
Mas "é preciso retirar ilações daquilo que não correu bem ao longo destes dois anos porque, de facto, o regime de austeridade a que estamos a ser sujeitos, nomeadamente quando já se percebeu os resultados que traz, por [ser] excessiva, acaba por ser um registo de austeridade pouco inteligente, não construtiva".
 
Essa austeridade, sublinhou, "não nos ajuda a criar uma solução" para "os problemas com que estamos confrontados", sobretudo de "elevados níveis desemprego", acentuada quebra do consumo e "queda do investimento, que será em 2013 cerca de metade" do registado em 2000/2001.
 
"Há um conjunto de prioridades que deviam ser agarradas a fundo por este Governo", de modo a que o "segundo ciclo da governação" -- últimos meses de 2013, 2014 e 2015 -- possa "corrigir a trajectória" nas "matérias onde as coisas não estão a correr a bem", salientou.