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"Relatório Draghi transformou uma inconveniência numa calamidade"
O relatório sobre o futuro da competitividade europeia, elaborado por Mário Draghi, "tem a vantagem de tornar óbvio que o que parecia ser uma inconveniência - ter uma certa incapacidade de crescer - passou a ser uma calamidade", afirma António Ramalho no 17.º episódio do podcast Partida de Xadrez, que vai para o ar esta segunda-feira no site do Negócios e nas principais plataformas.
O gestor não tem dúvidas que "como relatório de alerta é uma pedrada no charco", mas "como proposta de ação é um relatório centrípeto e estatístico, que mostra uma visão da Europa territorial e centralizada". Em seu entender, a aplicação das medidas propostas pelo ex-presidente do Banco Central Europeu "tornaria a Europa mais competitiva", mas duvida que fosse o suficiente para que se diferenciasse positivamente dos Estados Unidos e da China.
Já Gonçalo Moura Martins salienta que o relatório Draghi exibe uma realidade complexa, com "a Europa a evidenciar um ‘gap’ tecnológico e de inovação surpreendente face aos outros dois grandes blocos económicos", e não tem dúvidas que se nada for feito "resultará na irrelevância económica da Europa a prazo e conduzirá à não sustentabilidade do seu modelo social".
O responsável concorda com Draghi de que este é para a Europa "um desafio existencial", mas o que considera mais significativo no documento "é o ponto de partida": um "diagnóstico chocante a nível da inovação, da capacidade de indústria e do que são as empresas", que mostra como está a perder espaço para os EUA e para a China.
Para António Ramalho, o documento fica aquém do que promete nos três grandes métodos que deveria discutir: o financiamento, a ‘governance’ e o sistema de incentivos.
O problema da ‘governance’ é, para Moura Martins, quase insolúvel, já que "a comparação que se faz é entre blocos económicos que são uma nação contra um bloco económico que são 27 nações", diz, considerando essa dificuldade "a maior falha do relatório".
Se Draghi estima que a União Europeia precisa de mobilizar mais 750 a 800 mil milhões de euros por ano para acompanhar EUA e China, o gestor questiona "onde é que está a vontade política para o fazer", lembrando que "estamos sempre a viver 27 ciclos políticos, com influências e partidos muito diferentes".
António Ramalho admite dúvidas sobre a aplicabilidade do relatório, que entende que "não está desenhado para a execução". "Muita gente não o vai ler e muita gente vai citá-lo, mas acho que vai ser um instrumento de discussão", frisa.