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24 abril 2024 08h25
Fonte: Executiva

Os 50 anos do 25 Abril não se contam sem mulheres

Executiva

Para assinalar os 50 anos sobre o 25 de abril de 1974, o jornalista Filipe Fernandes faz um retrato do que era a vida das mulheres antes dessa data e dos direitos que entretanto conquistaram, e destaca algumas das muitas portuguesas que fizeram, e fazem, história.


"Veio do 25 de abril de 1974…. A mulher esteve presente e continua presente. Em todos os partidos e no próprio dia das eleições ela apareceu com firmeza e dignidade. Agora sim! Deixou de ser espectadora como desejava o seu historiador D. António da Costa, representa o seu grandioso papel. Tenhamos confiança no futuro de Portugal e no futuro do feminismo que, sendo o da mulher, é o do país. Nada fará calar a voz de Antígona”,Maio de 1975, Ano Internacional da Mulher, escreveu Elina Guimarães em "Mulheres Portuguesas: Ontem e Hoje”, que a Comissão da Condição Feminina publicou em 1979.
Nos primeiros meses sucederam-se novos direitos para homens e mulheres como o salário mínimo, 13º mês, férias pagas, subsídio de desemprego, prestações familiares, subsídios por doença, subsídios de maternidade e paternidade. Mas o 25 de abril de 1974 e a democratização de Portugal abriram as portas às mulheres desde o voto ao divórcio, o subsídio de maternidade, o planeamento familiar, a interrupção voluntária da gravidez, o fim do conceito jurídico do homem pai de família, passando pelo acesso às várias profissões como a magistratura, a carreira administrativa local, a carreira diplomática, a militar, a policial, leis de paridade, entre tantas outras conquistas pela equidade e a diversidade.


No texto citado Elina Guimarães dizia que "do que se passou depois é ainda cedo para falar”. Já passaram 50 anos e hoje já se pode falar de direitos, de poder, de paridade, mas, sobretudo, de visibilidade porque a história da democracia não se faz sem mulheres. Ainda hoje são uma minoria nos lugares de poder de decisão, mas são mais de metade da população em Portugal, são a maioria. Segundo dados do Eurostat, Portugal tinha 90,7 homens por cada 100 mulheres. O que não é de agora. Em 1974 existiam 4,6 milhões de mulheres, eram 52,9% da população residente em Portugal.


Da resistência à liberdade


Se o golpe que derrubou o Estado Novo e deu início ao processo da democratização foi efetuado por militares, é preciso não esquecer o movimento de resistência ao antigo regime, que contou com muitas mulheres, embora muitas vezes lhe fosse dado um papel secundário e até doméstico. O que não aconteceu com Margarida Tengarrinha (1928-2023) , militante do PCP que era casada com o militante comunista e artista José Dias Coelho, que foi morto pela PIDE em 1962, e que participou nas falsificações de documentos para os militantes na clandestinidade. Ou Isabel do Carmo (1940) , que depois de militar no Partido Comunista, fundou as Brigadas Revolucionárias que fez a luta armada contra o regime e que depois do 25 de abril de 1974 fundou o Partido Revolucionário do Proletariado. Também Virgínia Moura , uma das primeiras licenciadas em engenharia pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, foi uma militante comunista com grande atividade clandestina, tendo sido presa pela PIDE várias vezes,  e que o poeta Teixeira de Pascoais considerou "uma força da natureza” e o escritor Ferreira de Castro "das mais corajosas mulheres de Portugal”.


Maria Barroso (1925 – 2015) , mulher de Mário Soares, que foi primeiro-ministro e Presidente da República, foi a única mulher a intervir na sessão de abertura do III Congresso da Oposição Democrática, que se realizou em 1973. Foi, ainda, a única presença feminina na fundação do Partido Socialista, em 1973, na Alemanha, e depois foi deputada pelo PS e chegou a presidir à Cruz Vermelha Portuguesa. Mas houve também referências morais e ativistas como Helena Cidade Moura (1924 –2012), que militou e foi deputada pelo MDP-CDE, e foi responsável pela maior campanha de alfabetização organizada em Portugal no pós-25 de Abril, ou Maria Lamas (1893-1983) , que foi militante do PCP, que se preocupou com o estatuto da mulher, as liberdades cívicas, a alfabetização e que tem a obra indelével, Mulheres do Meu País . Maria Lamas foi jornalista, escritora, diretora, editora, antifascista, defensora da paz e dos direitos humanos.


Não era resistente, mas viu a sua carreira universitária amputada por ser mulher. Chamava-se Isabel Magalhães Colaço (1926-2004). Licenciou-se em 1948 mas não pode seguir a carreira académica porque foi impedida por um grupo de professores, entre os quais Marcelo Caetano, tendo sido colaboradora deste professor e futuro presidente do Conselho, e em missões internacionais. Foi a primeira mulher a doutorar-se na Faculdade de Direito de Lisboa, em 1954, e até 1992 não houve outra, mas só conseguiu lecionar em 1968, quando Marcelo Caetano troca a Faculdade de Direito de Lisboa por funções governativas. Era então a única mulher catedrática na Faculdade de Direito de Lisboa quando foi chamada pelos militares depois do 25 de Abril para fazer parte do Conselho de Estado e da Comissão Constitucional onde fez o primeiro parecer sobre o princípio da igualdade. Depois foi fundamental na revisão do Código Civil, em 1977 em que também participou Maria da Nazareth Lobato Guimarães , a primeira mulher a lecionar Direito na Universidade de Coimbra.
Nas palavras de Alda Nogueira (1923-1998) , do Partido Comunista Português, esta revisão "dignifica e valoriza moral e socialmente o conceito de família, reintegra a mulher no lugar que lhe compete nesta família, como o ser de iguais direitos e deveres que é e que a Constituição reconhece sem sombra de qualquer dúvida. De sublinhar são igualmente os preceitos que a proposta em apreço apresenta e que vão neste mesmo sentido de redignificação da mulher como mãe, como cidadã, como trabalhadora”.


Cargos de governo no feminino


Em 1974 Maria de Lurdes Pintasilgo tornou-se ministro dos Assuntos Sociais e só em Novembro de 1985 é que surge novamente uma ministra, quando Leonor Beleza (1948) assumiu a pasta da Saúde. Quando em 1982 foi convidada para a secretaria de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, Leonor Beleza pediu para ser nomeada secretária de Estado e não secretário de Estado. Três anos depois, foi nomeada para a pasta da Saúde e repetiu o pedido. "Como ministra era mais complicado, causava engulhos. Como secretária de Estado não fazia impressão, pois era secretária”, recordou ao Público . Foi o primeiro membro do Governo em Portugal que foi designado no feminino. Sublinhou: "sou feminista, sou. Sempre disse que sou. Nem percebo a dificuldade que as mulheres na política têm em dizer que são feministas”. Em 1993 o governo de Cavaco Silva teve pela primeira vez duas mulheres no Governo, com Manuela Ferreira Leite, no Ministério da Educação, e Teresa Patrício de Gouveia (1946), que tinha sido secretária de Estado da Cultura, como Ministra do Ambiente e dos Recursos Naturais.


Foi 25 anos depois do 25 de Abril de 1974 que se deram os maiores efeitos sobre as placas tectónicas da dominação masculina, que apenas chegaram no século XXI. Por exemplo, a Assembleia da República só foi presidida pela primeira vez por uma mulher em 2011 com Assunção Esteves (1956) , que foi, em 1989, a primeira mulher a ser juíza do Tribunal Constitucional. Só em 2012 o posto máximo dos diplomatas foi ocupado por uma mulher quando Ana Martinho (1948) assumiu o cargo de secretária-geral. Maria Laura Maia (1937) foi a primeira juíza conselheira quando, em 2004, foi empossada no Supremo Tribunal de Justiça. Manuela Ferreira Leite (1940) foi a primeira mulher líder de um Grupo Parlamentar (PSD), entre 2001 e 200, ano em que foi a primeira portuguesa a ser ministra das Finanças e a primeira portuguesa a chefiar um partido, ao ser eleita, em 2008, presidente do PSD.


Hoje as lideranças partidárias, com exceção do Partido Socialista e do PCP, já contam ou contaram com mulheres, como o PSD com Manuela Ferreira Leite, o Bloco de Esquerda com Catarina Martins (1973) e Mariana Mortágua (1986) , o PAN como Inês Sousa Real (1980) e o CDS com Assunção  Cristas (1974) . O partido Os Verdes foi criado, em 1982, mas concorreu sempre coligado com o PCP, e desde então teve várias líderes, chamados porta-vozes, como Maria Santos (1952) entre 1985-87, mais tarde deputada pelo PS, Isabel Castro (1954), entre 1991 e 2002, e Heloísa Apolónia (1969) desde 2005.
Em 1932 a feminista Emília de Sousa Costa escrevia "nós não nos queremos rivalizar convosco nas turbulências das politiquices de campanário, ser Ministro ou Presidente da República, mas temos direito a participar em todas as manifestações de vitalidade nacional, nos lugares mais adequados à nossa feminilidade e ver os nossos méritos premiados e estimulados, como os dos homens…”. Mas na vida das instituições públicas e do Estado, demorou mais até que as mulheres fizessem parte desse universo.


A 21 de Agosto de 1970, ainda no Estado Novo, Maria Teresa Lobo (1919-2018) , era nomeada secretária de Estado da Saúde e Assistência, mais foi em democracia que Maria de Lurdes Pintasilgo (1930-2004) , que fez sua carreira profissional como engenheira na CUF, foi a primeira mulher primeira-ministra em Portugal — embora por pouco mais de 100 dias em 1979 —, foi a primeira embaixadora, nomeada para a UNESCO em 1975, depois de ter sido a primeira mulher ministra quando assumiu os Assuntos Sociais no II e III Governo Provisório e a primeira mulher candidata à presidência da República.


Foi um processo lento, mas o Governo que tomou posse em 30 de março de 2022 e cessou funções a 2 de abril de 2024 era paritário e as ministras eram Mariana Vieira da Silva (1978) , ministra da Presidência, Helena Carreiras (1965) , ministra da Defesa Nacional, Catarina Sarmento e Castro 1970) , ministra da Justiça, Ana Catarina Mendes (1973) , ministra-adjunta e dos Assuntos Parlamentares, Elvira Fortunato (1964) , ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Ana Mendes Godinho (1972) , ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Marina Gonçalves (1988) , ministra da Habitação, Ana Abrunhosa (1970) , ministra da Coesão Territorial, e Maria do Céu Antunes (1970) , ministra da Agricultura e da Alimentação.


Mas a história não tem um percurso linear, e o tempo da democracia também se faz de recusas . Zita Seabra (1949) é uma espécie de ponte entre as resistentes à ditadura e a evolução para posições mais conservadoras. Vera Lagoa (1917-1996) , que foi a primeira locutora da RTP nas suas primeiras emissões em 1956, tornou-se depois do 25 de Abril de 1974 famosa pelas suas diatribes contra a esquerda militar e política através do jornal O Diabo . Mas tem havido vozes conservadores como Maria José Nogueira Pinto (1952-2011) que foi a primeira provedora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, e foi deputada pelo CDS, ou Assunção Cristas que foi ministra da Agricultura e líder do CDS, embora com pouca fortuna.


As pioneiras a partir de Abril


A jurista Teresa Pizarro Beleza (1961) escreveu que a ‘Mulher no Estado Novo’ não existe, mas "existiam mulheres de muito diferente condição económica, social, cultural e até sexual. Entre uma camponesa, uma empregada doméstica, uma operária, uma intelectual, uma prostituta e uma senhora mulher de um ministro do Governo de Salazar — que ministras não havia —, as diferenças eram abissais. Em comum teriam apenas as limitações à sua capacidade que lhes eram impostas antes do mais pela Lei, mas também em larga medida pelos hábitos e convicções sociais dominantes, pelos quadros ideológicos que informavam o regime vigente e pela prática política e social do mesmo regime (…) Não eram cidadãs de pleno direito”.


Por isso a lista de pioneiras que os 50 anos de democracia legaram é extensa. A primeira mulher a ser diretora de uma faculdade foi a historiadora Virgínia Rau (1907-1973) , em 1964, quando passou a liderar a Faculdade de Letras, mas a primeira reitora foi a historiadora Maria José Ferro Tavares (1945) na Universidade Aberta, instituição de ensino superior público a distância, entre 15 de junho de 1998 e 2006, enquanto Maria Helena Nazaré (1949) , física, foi reitora da universidade de Aveiro, entre janeiro de 2002 a fevereiro de 2010, e na Universidade Católica Portuguesa em julho de 2012 foi escolhida para reitora a jurista Maria da Glória Garcia (1953) .


Por isso a partir da democratização do país o feminismo e conceitos como equilíbrio de géneros e paridade ganharam um novo peso e até um conceito: o empoderamento das mulheres. Foi um movimento que se foi alargando às várias atividades e setores. Em 1977, Rute Garcês (1934-2006) começou a trabalhar no Tribunal de Leiria como juíza de instrução criminal. Joana Marques Vidal (1955) foi a primeira procuradora-geral da República e Lúcia Amaral a primeira provedora da Justiça. No movimento sindical, Isabel Camarinha (1960) foi a primeira líder de uma central sindical a CGTP, entre 2019 e 2024.
As mulheres vão fazendo a sua marca nas diversas instituições e profissões, em que a primeira é a heroína e, com o tempo e a paridade, se chega à normalidade, provavelmente a primeira vez na história . Maria Leonor Machado de Sousa (1932-2021) que foi a primeira mulher a dirigir a Biblioteca Nacional, entre 1990 e 1996, e a historiadora Miriam Halpern Pereira (1937) foi a primeira diretora do Arquivo Nacional Torre do Tombo, entre 2001 e 2004.


Ana Maria da Silva de Jesus , a primeira oficial do quadro permanente do Exército em 1998, Mariana Diniz de Sousa (1929- 2012) foi a primeira bastonária da Ordem dos Enfermeiros, entre 1999/2003, Alexandra Bento , como bastonária da Ordem dos Nutricionistas entre 2012 e 2023, Irene Silveira (1944-2013) foi a primeira mulher bastonária da Ordem dos Farmacêuticos ao ser eleita em 2007. Na Ordem dos Contabilistas Certificados, Filomena Moreira chegou a bastonária após a morte de  António Domingues , e Paula Franco foi eleita em janeiro de 2018 . Um papel especial se reserva para Maria de Jesus Serra Lopes (1933-2022), que além de ter sido a primeira mulher bastonária da Ordem dos Advogados, exercendo o cargo entre 1990 e 1992, foi também a primeira conselheira de Estado, entre 1996-2000 e entre 2001-2005.


Em 2018 Regina Mateus (1966) , que era diretora do Hospital Militar, foi primeira mulher promovida a general. Isabel Mota (1951) , a primeira mulher a exercer o cargo de presidente do Conselho de Administração da Fundação Calouste Gulbenkian, entre 2017 e 2022. Maria Margarida Corrêa de Aguiar, que é presidente da ASF (Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões), Nazaré Costa Cabral mantém-se como presidente do Conselho de Finanças Públicas, ou Margarida Matos Rosa (1973) que foi presidente da Autoridade da Concorrência, deixam as suas marcas pioneiras, que um dia serão apenas história.


O trabalho também pode ser a gestão


As empresas, que nem sempre são vistas como uma revolução no mundo do trabalho e da paridade, deram uma nova configuração às relações entre as pessoas e abriram oportunidades crescentes para todos. Primeiro, pelas empregadas domésticas, depois pelas operárias, escriturárias, e secretárias e depois pelos quadros intermédios, e mais tarde pelos quadros superiores e de administração. Mas não se pense que foi uma ascensão fácil. Em 1973, Helena Sacadura Cabral (1934) , que foi um dos melhores alunos do ISCEF onde se licenciou, entrou para os quadros técnicos do Banco de Portugal, quase na mesma época em que Teodora Cardoso (1942-2023) chegou também ao Banco de Portugal. Era a primeira mulher e "no princípio, abriam a porta do gabinete, espreitavam e tornavam a fechar. Ao fim de dois dias o Ernâni Lopes disse-me para ir para o gabinete dele e que eles deixariam de espreitar”, recordou no livro "Memórias de Executivas”.


Relevante para o pensamento económico, as práticas de planeamento e a luta contra a pobreza foi Manuela Silva (1932-2019) que, em 1954 foi um dos primeiros quatro portugueses e a primeira mulher a licenciar-se em Economia numa universidade portuguesa, no seu caso o Instituto de Ciências Económicas e Financeiras (ISCEF) da Universidade Técnica de Lisboa (UTL).


Como escreveu Ana de Castro Osório em 1905, "julgaram os homens por acaso – tamanha será a sua ingenuidade?! – que podiam em vão dispor de metade da humanidade, reduzi-la ao papel farfalhudo de deusa do lar, nuvem, anjo, demónio, e todas quantas mais banalidades se têm dito e escrito há séculos, e dizer-lhe: fica aí! O teu destino é agradar-me ou servir-me, conforme o meu capricho de senhor!?”. De facto, em 1970, apenas 7% das mulheres tinham "profissões liberais e científicas” e eram quase inexistentes nos "quadros superiores ou de direção”. Além disso, o número de mulheres com o estatuto de "patrão” era quase insignificante, mas as poucas que se encontravam estavam em setores como o comércio a retalho, restaurantes e hotéis, serviços pessoais e domésticos, indústria do calçado, têxtil e vestuário.


Manuela Morgado (1937) foi uma das primeiras mulheres a ocupar lugares relevantes na gestão de empresas, nomeadamente pública, como primeira administradora do Banco de Portugal, tendo assinado a nota de 50 escudos de 1980, primeira mulher presidente de um banco comercial (BNU em 1987) e primeira mulher presidente da RTP. Isaura Simões (1937), que se licenciou em Finanças pelo ISEG, fez carreira na banca (BPA e Fonsecas & Burnay) e, mais tarde, foi administradora da Sociedade Nacional de Sabões, tal como Celeste Hagatong (1952), que esteve na criação do Banco Português de Investimento, um dos primeiros bancos privados, em 1984, depois das nacionalizações massivas iniciadas em Março de 1975 e que atingiu bancos, seguradoras, grande parte das empresas de transporte rodoviário, adubos, petróleos, petroquímica, estaleiros navais, entre outros. Entre os bancos públicos e o advento dos bancos privados, Portugal foi palco da aventura da D. Branca , a Banqueira do Povo, de nome Maria Branca dos Santos (1902-1992).


Nos anos 1990 duas mulheres davam carta no mundo da publicidade em Portugal, Vera Nobre da Costa (1952), que dizia que só haveria paridade nas empresas na gestão quando houvesse tantas mulheres incompetentes como há de homens , e Rosalina Machado (1941-2021), presidente da Ogilvy & Mather, lideravam duas das principais agências de publicidade, enquanto Maria Cândida de Morais (1945) pontificava na vidreira BA- Barbosa e Almeida, hoje BA Glass. Maria do Carmo Portela de Herédia Vieira da Fonseca foi CEO da Sociedade Portuguesa de Seguros, que pertencia a AGF Assurances e foi objeto de uma OPA pelo grupo Allianz em 1998, e pertenceu, em 2010, ao Conselho Consultivo do Instituto de Seguros de Portugal, hoje ASF.


Num exercício de memória a Bolsa em Portugal teve menos mulheres CEO que os dedos de uma mão. A mulher que durante mais tempo geriu uma empresa cotada foi Esmeralda Dourado (1953) . Esta engenheira com carreira industrial e financeira foi presidente da comissão executiva da SAG, de 2000 até agosto de 2009. Nessa época Ana Maria Fernandes (1962) foi CEO da EDP Renováveis entre Outubro de 2007 e Fevereiro de 2012. Seguiu-se Isabel Vaz que entre 2014, quando a Espírito Santo Saúde entrou em Bolsa, e 2018, quando a agora Luz Saúde foi retirada da Bolsa pela acionista Fidelidade, que se manteve na empresa e vai liderar o regresso à Bolsa da empresa de saúde.


A Bolsa teve a sua primeira corretora mulher em 1981 quando Maria Cândida Rocha e Silva (1944) se registou como corretora oficial da Bolsa, quando já trabalhava desde 1970 na LJ Carregosa, no Porto, que depois passou a Banco Carregosa, de que é a principal acionista e chairwoman , em que também se destacou a partir da abertura do mercado de capitais a luso-americana, Domitília dos Santos .


Estrela cadente neste firmamento foi Judite Correia (1951) que tinha 40% da Sofin – Sociedade Financeira de Corretagem e que era corretora da bolsa quando viu esta implodir em 1991. Maria João Carioca (1971) foi a primeira mulher a liderar a empresa da Bolsa de Lisboa e é uma gestora com uma carreira de peso, que foi CFO da Caixa Geral de Depósitos e hoje está na Galp Energia. Por sua vez, Cláudia Goya foi a primeira mulher a liderar uma grande empresa de telecomunicações, mas apenas quatro meses. Luísa Antas , que tinha sido subsecretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros num governo de Pinto Balsemão em 1982 viria a ser acionista e administradora do Banco Finantia.


Apesar do pioneirismo de D . Antónia Adelaide Ferreira (1811-1896 ), a Ferreirinha, empresária de Vinho do Porto, não há muito exemplos de mulheres empresárias e foram sempre ao longo da história casos de exceção. Com a instauração da democracia, a paridade tornou-se um objetivo nos campos da vida em sociedade. Hoje dois dos grandes impérios empresariais têm mulheres como principais referenciais. Se no grupo Américo Amorim as acionistas são a viúva, Fernanda Amorim , e as filhas, Paula , chairwoman da Galp, Marta e Luísa , que são também a família rica de Portugal, no Grupo Sonae, os acionistas com mais de 50% através da Efanor Investimentos são a viúva, Maria Margarida , os filhos, Paulo e Nuno, e a filha, Cláudia de Azevedo (1969) , que é CEO do grupo. Também as três irmãs Filipa, Mafalda e Lua Queiroz Pereira , filhas do empresário Pedro Queiroz Pereira, falecido em 2017, são as principais acionistas de empresas como a Navigator, a Secil ou o Hotel Ritz em Lisboa.


Fernanda Pires da Silva (1926-2020) foi um dos ícones do empresariado feminino, até por causa dos conflitos com o Estado por causa das nacionalizações, em 1975, do Grupo Grão-Pará e por ser então proprietária do autódromo do Estoril. Maria Helena Cerveira , que detinha com Sílvio Cerveira, a Sanitana, empresa na área da cerâmica, fundada em 1979, destacou-se como dirigente associativa da região de Aveiro até que em 1999 venderam a empresa à Roca.


Vera Pires Coelho foi durante 22 anos a líder de um dos maiores grupos de construção portugueses, a Edifer, cuja holding Gestifer já fora presidida por Maria da Providência Catarino Pereira, que fora administradora da Edifer desde 1966. Conseguiu fazer do grupo de construção um dos principais em Portugal até que, em 2011, uma tempestade perfeita abateu-se sobre a empresa e acabou num fundo de recuperação de construtoras em dificuldades. Entre as empresárias mediáticas contava-se ainda Estela Barbot (1959) , licenciada em economia pela Universidade do Porto, que estava ligada à Sarcol e à AGA e hoje é administradora não executiva da REN, membro da Comissão Trilateral, foi presidente do Conselho Geral da Universidade Nova e international senior adviser da Roland Berger, entre muitos outros cargos.


Uma empresária invisível, mas que construiu um império é Manuela Medeiros , uma mulher cosmopolita que um dia na zona de complementos de moda da loja TopShop teve a ideia de lançar uma marca só de acessórios. Em 1994, nascia na rua de Santa Catarina, no Porto, a primeira loja da Parfois, que hoje está em mais de 70 países com mais de mil lojas.


Aptas para os conhecimentos sublimes

"As mulheres são aptas para todo o género de ciências, e conhecimentos sublimes, e não têm tantos, e tão grandes defeitos como lhe querem impor, contra a verdade”, escrevia o editor da segunda edição do livro " Dos privilégios e prerrogativas que o género feminino tem por direito comum e Ordenações do reino mais que o género masculino ” de 1557 e da autoria de Ruy Gonçalves. Os tempos provaram a razão desta asserção e recentemente a pandemia de Covid-19, que assolou Portugal e o Mundo, entre março de 2020 e princípios de 2022, que teve no comando da luta da pandemia uma ministra da Saúde, Marta Temido (1974) , e uma diretora geral, Graça Freitas (1957) . No campo da ciência também se deu a emergência pública das cientistas.


Uma ilustração podem ser as capas com cientistas que a revista E do semanário Expresso fez por duas vezes com Elvira Fortunato, que viria a ser ministra da Ciência e do Ensino Superio r, e uma com Maria Manuel Mota e com o facto de os estúdios de televisão, os sites, as publicações, se terem transformado em extensões das universidades, dos hospitais, dos centros de investigação, das instituições de saúde.


Mas esta foi a espuma dos dias porque na prática o sistema científico português reagiu para suprir necessidades para o combate à pandemia. Por exemplo, o IMM, de Carmo Fonseca e Maria Manuel Mota, avançou para a produção de testes da covid-19 que escasseavam em Portugal. Mas na história recente da ciência portuguesa estão nomes como Odette Ferreira (1925-2018), farmacêutica, professora universitária e investigadora, que fez parte da equipa luso-francesa que descobriu e identificou o VIH-2, em meados da década de 80. Mas também Maria Sousa (1939-2020), que foi das primeiras mulheres portuguesas a serem reconhecidas internacionalmente pelas suas descobertas científicas, pelas contribuições que deu para a definição da estrutura funcional dos órgãos que constituem o sistema imunitário e desempenhou igualmente um papel fundamental no desenvolvimento do sistema científico nacional e na criação de toda uma nova geração de cientistas portugueses. Mas também Manuela Veloso (1957) cientista da computação, robótica portuguesa, e inteligência artificial, que é professora na Universidade Carnegie Mellon. Nas pioneiras está o nome de Laura Ayres (1922-1992) que se dedicou à investigação em Saúde Pública, na área da Epidemiologia, onde realiza estudos sobre a gripe e outras doenças respiratórias e criou, em 1955, Laboratório de Virologia do Instituto Nacional de Saúde.


Paula Rego (1935-2022) nasceu em Lisboa no seio de uma família republicana e liberal. O seu pai disse-lhe "segue o teu caminho fora daqui. Este país não é para mulheres. Pelo menos para mulheres como tu, que ambicionam mais do que ser aquilo que o regime fascista lhes impõe”. Foi para Inglaterra e, em 1952, rumou à Slade School of Fine Art, Londres, Reino Unido, onde conhece o artista inglês Victor Willing, ainda estudante, com quem viria a casar e teria três filhos. Um das suas principais referências foi o pintor Jean Dubuffet, que conheceu em Londres. Na década de 1960 começou a expor em Inglaterra mas as suas maiores exposições individuais foram em Portugal. Mais tarde repartiu-se por Inglaterra e Portugal. Hoje os seus quadros são disputados a golpes de milhões de dólares, tal como os de Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992), que viveu grande parte da sua vida em França. São ainda artistas relevantes neste período Helena Almeida (1934-2018) , com práticas mais experimentais, e, mais recentemente, Joana Vasconcelos com uma arte mais exuberante e de grande dimensão.


De acordo com as palavras de Eduardo Lourenço, os acontecimentos, inerentes e consequentes ao 25 de Abril, convergiram para o desejo de "desenhar outro mapa” e, através das suas coordenadas, descobrir "em que País estávamos, em que País nos tínhamos tornado com a perda desse império”.


Surgem ou afirmam-se nomes como Lídia Jorge (1946), Natália Correia (1923-1993), Maria Teresa Horta (1937), Ana Harherly (1929-2015) , na ficção, que liberta da censura se torna um arquipélago. Como disse em 1984, Eduardo Lourenço, num balanço da literatura em 10 Anos de Democracia Literária, apareceram "novelas do mundo imperial, emigrante e de libertação» e outras, conduzidas por um novo psicologismo e existencialismo, na invenção ou (re) criação de «outra maneira de nós mesmos”.


O Prémio Camões, instituído, em 1988, foi concedido a Sophia de Mello Breyner (1919-2004) em 1999, e a Agustina Bessa Luís (1919-2019), que também foi diretora do Teatro D. Maria e a primeira mulher diretora de um matutino português, o portuense Primeiro de Janeiro , Hélia Correia (1949) , Maria Velho da Costa (1938-2020) . Em 2004 Margarida Rebelo Pinto (1966) surgiu com uma escrita mais fácil e considerada mais light que, de certo modo, criou uma linhagem, que cruzou com a cultura pop, como antes Clara Pinto Correia (1960) rompera com alguns cânones. Outros nomes emergiram como Inês Pedrosa (1962) , e a poeta Ana Luísa Amaral (1956-2022) .


" Maria João Avillez (1945) é a cronista da democracia portuguesa”, escreveu Carlos Gaspar no prefácio de "As Sete Estações da Democracia” que, de certa forma se formou como jornalista nos tempos em brasa que se seguiram. Mas a história das mulheres no jornalismo também passa por Maria Elisa (1950) , jornalista que foi diretora de programas da RTP, Margarida Marante (1950-2012), Judite de Sousa (1960) ou Manuela Moura Guedes (1955) , mas também Maria Antónia Palla (1933), que entrou para o Diário Popular em 1965 , ou La Sallete Fernandes , a primeira mulher diretora de um jornal económico, ou Ana Sousa Dias (1956) , ou Helena Vaz da Silva (1932-2002), que liderou o Centro Nacional de Cultura e foi deputada europeia. Também D iana Andringa (1947) que deixou a medicina pelo jornalismo ainda antes do 25 de abril numa época em que fazer jornalismo não era para mulheres e que depois fez carreira na RTP. "Essa era a opinião do seu diretor na revista Vida Mundial, onde teve de entrar como tradutora em 1968, por não lhe serem reconhecidas capacidades enquanto jornalista”, recordou numa entrevista.


A 5 de Abril de 1986, o nome de uma mulher surgiria pela primeira vez no cabeçalho de um grande jornal, como diretora adjunta o DN , Helena Marques (1935-2020) . Mas hoje já vários órgãos de comunicação tiveram mulheres como diretoras de informação como Maria Flor Pedroso , da RTP ou Luísa Meireles (1956) , da Lusa , ou diretoras como  Isabel Canha na Cosmopolitan, Exame e Executiva , Mafalda Anjos (1975) , na Visão , Graça Franco , diretora de informação da Rádio Renascença , Sandra Felgueiras (1977) na revista Sábado , Inês Cardoso (1975) no Jornal de Notícias , ou Bárbara Reis, no Público, entre outras.


A cultura e o entretenimento


Amália Rodrigues (1920-1999) foi uma estrela internacional do fado nos dois mundos, tanto no Estado Novo como na democracia, embora tivesse vivido tempos de sombra depois do 25 de Abril de 1974. Retomou o seu percurso e acabou por ajudar a criar uma frente de mulheres que fez do fado e do fado canção uma das músicas do Mundo através de Mariza (1973) , Mísia (1955) , Ana Moura (1979) , Carminho (1984), Aldina Duarte (1967), e tantas outras. Simone (1938) foi um dos nomes da transição da cançonetismo nacional do Estado Novo para uma música ligeira, que se manteve apagada durante uns tempos por causa da música de intervenção, sobretudo feita por homens.


Na música clássica e contemporânea em que a presença das mulheres é pequena irromperam nomes de compositoras como Constança Capdeville (1937-1992) , Clotilde Rosa (1930-2017) , Isabel Soveral (1961), Andreia Pinto Correia (1971), a que se junta a figura incontornável das pianistas Maria João Pires (1944), Olga Prats (1938-2021) . Para a historiadora Helena Lopes Braga, a primeira mulher a reger uma orquestra foi Josephinne Amann (1840-1887) em 1879. Mais tarde seguiram-se, em 1928, Francine Benoît (1894-1990). Nas décadas entre 1930 e 1960 mais mulheres se aventuraram na direção, entre as quais se salientam por atividade regular Berta Alves de Sousa (1906-1997), Natércia Couto (1924-1999) e Elvira de Freitas (1927-2015). As carreiras foram breves até Joana Carneiro (1976) que é o nome que é hoje internacionalmente reconhecido.


Na dança, se Águeda Sena (1927-2019) é uma figura incontornável, seguiram-se nomes como Olga Roriz (1955) , Clara Andermatt (1963) , Vera Mantero (1966) ou Tânia Carvalho (1976). No cinema, o primeiro filme realizado por uma mulher em Portugal foi "Três Dias sem Deus”, de Bárbara Virgínia (1923-2015) , que apenas se estreou em 1946, o segundo filme foi "Trás-os-Montes”, co-realizado por Margarida Cordeiro (1938) e António Reis , em 1976. No mesmo ano, Noémia Delgado (1933-2016) realizou "Máscaras”, e Solveig Nordlund (1943) , Monique Rutler (1941) e Manuela Serra (1948) desenvolvem os seus primeiros projetos para cinema. A mesma chama foi continuada depois por Margarida Gil (1950) , Teresa Villaverde (1966), Leonor Telles (1982), Catarina Vasconcelos (1986), Ana Rocha e Sousa (1975), Margarida Cardoso (1963) recuperam uma certa frescura para o cinema português.


A moda também tem tido as suas estrelas. Se Sara Sampaio (1991) atingiu o Olimpo das supermodelos, em Portugal nomes como Ana Salazar (1941) , que com a loja Maçã, que abriu em Lisboa, vendia roupa que trazia de Londres e lançou a marca Harlow, Fátima Lopes (1965), Katty Xiomara (1974), Manuela Gonçalves , Maria Gambina (1969 ), deram sentido ao estilismo e à criação, ligando-o à libertação da mulher. Mas foi a televisão, e hoje os media sociais, que produzem estrelas e sobretudo celebridades. Ganharam um grande peso na cultura e entretenimento em Portugal quando a partir de 1992 se deu a liberalização da televisão e surgiram as estações de televisão e depois a televisão por cabo e por internet. Apareceram figuras como Cristina Ferreira (1977) , Fátima Lopes (1969), mas como disse uma vez Júlia Pinheiro (1962) , uma dessas estrelas fazedoras de audiências, que foi diretora de programas e de canais temáticas na SIC e na TVI, "estamos a ser muito mais lentos do que deveríamos. Já se mudou muita coisa, mas continuo a achar que atingimos o glass ceiling. Nós chegamos até às chefias, as últimas da hierarquia, antes dos conselhos de administração, das Comissões Executivas. Nós conseguimos subir isso tudo, somos altamente eficazes, temos quase sempre uma relação de paridade com os nossos colegas masculinos, mas depois quando chegamos às decisões na parte mais alta da nomenclatura, não entramos ou com grande dificuldade entramos.”

 

Ana Matias , que foi uma das pioneiras do marketing desportivo em Portugal, desde o futebol aos eventos olímpicos, confessou que "foi preciso alterar os estatutos da antiga federação de motociclismo para eu poder entrar e no futebol diziam que as mulheres davam azar.” De facto, o caminho das mulheres no desporto não tem sido o mais fácil apesar de terem escrito algumas das páginas douradas do olimpismo português. Rosa Mota (1958) é talvez o principal símbolo das mulheres desportistas em Portugal porque é provavelmente uma das melhores maratonistas de sempre, tendo sido medalha de bronze nas Olimpíadas de 1984 a que se seguiu o ouro em Los Angeles em 1988. 


Nas medalhadas olímpicas contam-se ainda Fernanda Ribeiro (1969) , que é a atleta com mais medalhada de sempre, conseguiu, nos 10 mil metros, uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996, e depois a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Sydney, em 2000. Seguiram-se no atletismo Vanessa Fernandes (1985) , Patrícia Mamona (1988) , e no judo, Telma Monteiro (1985) . Mas nesta galeria também cabe Elisabete Jacinto (1964) , que começou pelas motas todo-o-terreno, tendo participado várias vezes no Paris-Dakar e tendo ficado em primeiro na classificação feminina em 2000. Mais tarde, preferiu aventurar-se nos camiões e, em 2019, venceu o África Eco Race tornando-se a primeira mulher do mundo a ganhar esta prova em camião.

 

Numa altura em que o futebol feminino ganha terreno como desporto de massas tanto em Portugal como no Mundo, é importante salientar que Alexandrina Cruz (1977) é a primeira mulher a chegar à presidência de um clube de futebol da Primeira Liga, o Rio Ave. No lado oposto está o caso de Helena Costa (1978) , que em junho de 2014 foi convidada para treinadora do Clermont Foot, então na segunda divisão francesa, o que seria a primeira vez que uma mulher treinava uma equipa masculina de futebol profissional, mas esteve apenas alguns dias no clube, mas já liderou as equipas de scouting do Celtic de Glasgow, Eintracht de Frankfurt e Watford.


"Na História oficial há muito vencedores e heróis. Quase nunca se lembram os derrotados, os que tiveram de ceder ou os que ficaram em minoria. Mas o silêncio maior é a quase ausência de mulheres”, escreveu Marisa Matias no prefácio do livro Portuguesas com M Grande , de Lúcia Vicente, editado em 2018. Mas, 50 anos depois do 25 do Abril é impossível contar a verdadeira história deste meio século sem as mulheres. "Neste grandioso teatro, que se chama a pátria portuguesa, não basta que a mulher seja espectadora, é necessário que represente o seu grande papel”, escreveu D. António da Costa na obra póstuma, A Mulher em Portugal, publicado em 1892.