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16 abril 2024 06h45

Mercados calmos apesar das tensões no Médio Oriente

Diário de Notícias

Agravamento do conflito entre Israel e o Irão não assustou os investidores. Petróleo seguia a desvalorizar na segunda-feira face a sexta-feira.


O mais recente episódio entre Irão e Israel, que elevou em mais um degrau as tensões geopolíticas no Médio Oriente, não está, para já, a provocar disrupções nos mercados, quer na negociação de commodities (matérias-primas), quer na negociação das ações das diferentes empresas cotadas em bolsa, de acordo com os analistas ouvidos pelo DN/Dinheiro Vivo.


"É provável que os mercados financeiros não sejam substancialmente afetados”, comenta Paulo Rosa, o economista sénior do Banco Carregosa. A ideia é partilhada por Vítor Madeira, analista de mercados da XTB: "As tensões no Médio Oriente acabaram por ter menos importância para os mercados do que foi previsto. O mercado espera agora que a escalada do conflito abrande, depois de o Irão demonstrar que não quer abrir uma guerra contra Israel.”


No domingo, dia 14, o Irão levou a cabo um ataque de retaliação, com mísseis de cruzeiro e balísticos e com mais de 300 drones, contra Israel, na sequência de um ataque israelita ao consulado do Irão em Damasco, capital da Síria, que matou sete membros do Exército dos Guardiães da Revolução Islâmica. Ontem os mercados pareciam ignorar o sucedido.


Ao início da manhã, os preços do ouro - habitualmente um ativo de refúgio para investidores em ocasiões idênticas - subiam 0,5% para 2350 dólares. Já o barril de petróleo Brent do Mar do Norte (que serve de referência para Portugal), para entrega em junho, abriu a cotar 89,74 dólares no Intercontinental Exchange Futures (ICE) de Londres, depois do ataque do Irão contra Israel na noite de sábado. Uma descida face à cotação de 90,45 dólares de sexta-feira.


Ao final da tarde de ontem seguia a desvalorizar 1%, um comportamento que os analistas consideram ser uma correção face à valorização de 4% antes do fim de semana. "Depois do recente episódio de conflito, o mercado desconta agora a menor probabilidade da escalada do conflito”, afirma Vítor Madeira, da XTB.


Em Portugal, a Bolsa de Lisboa terminou a sessão de ontem em queda, com o índice PSI a perder 1,08% para 6268,88 pontos, em contraciclo com a maioria das praças europeias. "As quedas não foram provocadas pela tensão no Médio Oriente, mas por fatores internos”, acrescenta o analista.

 

Paulo Rosa explica que a praça portuguesa fechou em queda penalizada pela "família EDP, acompanhando a tendência negativa das utilities  europeias”. Também a Galp penalizou o PSI, devido à "desvalorização do setor oil & gas europeu, castigado pela queda do barril de petróleo”. E mesmo com a recente escalada entre Irão e Israel, os investidores do setor da energia assumiram "uma postura de buy the rumors, sell the news no que toca ao barril de petróleo e às empresas petrolíferas”, acrescenta.Uma eventual escalada do conflito entre Irão e Israel, todavia, pode levar ao encarecimento do petróleo, à valorização do dólar norte-americano e dos ativos de refúgio, como o ouro e as obrigações soberanas. Nesse cenário, o economista sénior do Carregosa admite que as ações e obrigações com risco de crédito possam ser penalizadas. No entanto, considera atualmente esse cenário "pouco provável”. Não se "perceciona”, diz, nos mercados financeiros, "até agora, uma aversão ao risco”.


Não obstante as correções verificadas, sublinhava ontem Paulo Rosa, "as ações seguem a valorizar e as obrigações soberanas desvalorizam, a par também de uma queda da cotação do barril do petróleo, mostrando pouca aversão dos investidores ao risco. Os mercados seguem relativamente tranquilos”."Espera-se que os mercados descontem este efeito e regressem aos seus valores de base”, conclui Vítor Madeira, da XTB.