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19 maio 2023 09h55

Índices acionistas perto de máximos

Índices acionistas perto de máximos
PAULO ROSA Economista sénior do Banco Carregosa

FECHO DA SEMANA

Nasdaq 100 em máximo dos últimos 10 meses e DAX muito perto da alta histórica de 16.290 pontos no dia 18 de novembro de 2021.

O dólar mantém-se resiliente nas últimas semanas, impulsionado em parte pela subida dos juros soberanos. O rendimento do tesouro norte-americano a dois anos subiu de 3,65% no dia 4 de maio para os atuais 4,23%, sustentando a alta do dólar, tendo o "Dollar Index” valorizado quase 3% desde essa altura. No entanto, e ao contrário das obrigações que têm sido penalizadas nas últimas semanas, os mercado acionistas têm conseguido registar gradualmente um crescimento relativamente sustentável, sobretudo as big tech, mas não só.

Também os sectores mais cíclicos têm recuperado nos últimos dias, inclusive o índice da banca regional norte-americana, o KBW, obtendo na passada quarta-feira o maior ganho diário desde 6 de janeiro, corroborando uma crescente melhoria no comportamento em bolsa dos títulos do sector bancário e um recuo dos receios.

Depois de mais de um ano de correlação positiva entre ações e obrigações, tendo ambas as classes de ativos sido substancialmente penalizados pela subida da inflação e, consequentemente, pela alta dos juros, há atualmente uma descorrelação entre estas duas classes de ativos, provavelmente focadas cada vez mais no crescimento económico e menos na inflação.

Uma alta dos juros tem sido, atualmente, interpretada como um sinal de crescimento económico resiliente, beneficiando as ações, na esperança de melhores resultados, mas penaliza os títulos soberanos. É certo que esta subida se deve maioritariamente à excelsa evolução das FAAMG (Meta, Amazon, Apple, Microsoft e Alphabet) desde o início do ano, tendo sido impulsionadas pela visível e gradual maior democratização da Inteligência artificial (IA) no final de 2022, um impulso mais tangível para o crescimento económico suportado pelo considerável avanço tecnológico na melhoria das relações laborais, não sendo uma ameaça. O mais provável é que não seja a IA a afastar o ser humano do mercado do trabalho, mas os seres humanos que utilizam IA possivelmente a terem mais sucesso no mercado de trabalho do que aqueles que não a utilizam.

Entretanto, o GDP Now publicado no site da Fed de Atlanta antecipa uma subida de 2,9% do PIB dos EUA no segundo trimestre, sendo impulsionado pelo mercado laboral e pela melhoria do sector da construção residencial. Ainda esta semana, os pedidos de subsídio de desemprego nos EUA caíram cerca de 22 mil solicitações em relação à semana anterior, ditando novamente um mercado de trabalho ainda relativamente resiliente e capaz de suportar a economia e os resultados das empresas. E sendo os índices acionistas nominais e tendo o PIB nominal nos EUA crescido substancialmente no ano passado, mais precisamente 9,2%, seguindo essa tendência este ano, a trajetória é de melhoria dos resultados das empresas mesmo que as margens operacionais se mantenham (um aumento da receita e dos custos operacionais em 10% implica uma alta dos lucros operacionais em 10%, apesar de a margem se manter).

Em virtude da elevada liquidez das empresas, tendo ainda muitas empresas não sido sujeitos à renovação da sua dívida vencida por novas emissões aos atuais juros, os encargos financeiros de financiamento ainda não sofreram aumentos substanciais. No entanto, até aquelas que renovaram a dívida têm conseguido absorver esse aumento dos custos pelo aumento nominal do PIB devido à inflação.

Todavia, os resultados vão também depender da resiliência do consumidor ao aumento dos juros e deterioração do seu rendimento. Após mais de um ano, o primeiro

flight to quality apareceu em março, num momento de stress financeiro. Agora, diante de alguma acalmia, o dinheiro regressa às ações. Um contexto de inflação e crescimento económico é mais favorável para as ações, sendo uma melhor aposta do que as obrigações.