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17 maio 2022 00h00
Fonte: Jornal i

Portugal lidera crescimento com PIB a subir 5,8% este ano

Portugal lidera crescimento com PIB a subir 5,8% este ano
Analistas contactados pelo i lembram que Portugal está a beneficiar "com o acréscimo do turismo e com alguma deslocalização de investimento que estava destinado ao leste europeu”.

A Comissão Europeia está mais otimista e vê o Produto Interno Bruto (PIB) português a crescer 5,8% este ano, o que significa uma revisão em alta face às anteriores projeções de 5,5% e fica bem acima das metas apontadas pelo Governo e pelo Banco de Portugal que apontam para um crescimento de 4,9%.

Bruxelas justifica esta revisão com o "forte arranque do ano” afirmando que o setor dos serviços, particularmente o do turismo internacional, irá recuperar "intensamente” face à base baixa dos anos anteriores afetados pela pandemia. Esta revisão em alta acontece depois de o Instituto Nacional de Estatística (INE) ter revelado que o PIB cresceu 2,6% em cadeia no primeiro trimestre, superando todas as expectativas.

A manterem-se estes números, Portugal seráo país da União Europeia que mais irá crescer este ano. Segue-se a Irlanda (5,4%), Malta (4,2%) e Espanha (4%). A média dos 27 Estados-membros da UE, assim como a média dos 19 Estados-membros da Zona Euro, crescerá 2,7% em 2022, em consequência da guerra na Ucrânia.

Paulo Rosa, economista do Banco Carregosa, lembra que "a guerra na Ucrânia influenciou negativamente as projeções económicas para a União Europeia, facto que forçou Bruxelas a rever em baixa o crescimento do PIB para 2022 e em alta a inflação, agudizando os receios de uma estagflação na Europa”, refere ao i.

No entanto, lembra que o nosso país "poderá ser considerado um ‘beneficiário líquido’ da atual situação geopolítica no leste europeu porque Portugal é percecionado como mais longínquo do conflito, podendo, assim, capitalizar com um acréscimo de turismo e alguma deslocalização de investimento que estava destinado ao leste europeu”.

Também Paulo Rosa analista da XTB diz ao i que "é importante destacar que as projeções da Comissão Europeia apontam para um crescimento económico este ano em Portugal, acima da média europeia, esperando que cresça cerca de 5,8%, em contraste com as grandes economias europeias como Alemanha e França que deverão crescer cerca de 1,6% e 3,1% respetivamente”. Uma tendência que, segundo o mesmo, contraria as perspetivas para a Zona Euro "com um crescimento de apenas 2,7% este ano e 2,3% em 2023, enquanto que a inflação foi revista em alta para os 6,8% este ano, muito acima das previsões de fevereiro que apontavam para um aumento da taxa de inflação de ‘apenas’ 3,5%”.

António Costa reagiu a estes números e acenou com a robustez da economia e com a inflação controlada no médio prazo. "As projeções económicas publicadas pela Comissão Europeia são muito favoráveis a Portugal, superando mesmo as atuais previsões de crescimento do Governo. De acordo com a Comissão, teremos o maior crescimento da UE em 2022 e retomamos a convergência”, escreveu o primeiro-ministro no Twitter.

Para 2023, a previsão da Comissão Europeia é que a economia portuguesa desacelere para um crescimento de 2,7%. A procura interna deverá continuar a sustentar o crescimento nestes dois anos, com o investimento . a crescer mais do que o consumo privado — ajudada pela redução da taxa de poupança de 10,9% para 7,7% — por causa da imple- . mentação do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

INFLAÇÃO SOBE E DESEMPREGO CAI De acordo com os mesmos dados também a taxa de inflação em Portugal foi revista em alta e deverá fixar-se nos 4,4% em 2022, enquanto a taxa de desemprego deverá cair para 5,7% este ano, face aos 6,6% registados em 2021 e para 5,5% em 2023. Os técnicos de Bruxelas destacam ainda que a taxa de emprego atingiu um máximo histórico no final de 2021 e início de 2022, ainda que as horas trabalhadas permaneçam abaixo do nível pré-pandemia. "Apesar da Comissão Europeia ter revisto em alta o PIB português para 2022 em 3 décimas, de 5,5% para 5,8%, a aceleração da subida dos preços da energia e dos alimentos, desde o início da Ucrânia, levou a uma revisão em alta da inflação portuguesa para 4,4% em 2022. Um acréscimo do PIB nominal permite também que o rácio da divida pública desça abaixo dos 120% este ano, segundo a comissão europeia, um número melhor do que o estimado pelo Executivo português de 120,7%”, lembra Paulo Rosa.

DÍVIDA ABAIXO DOS 120% A Comissão Europeia antevê uma descida maior do rácio da dívida pública em percentagem do PIB: 119,9%, já abaixo dos 120%, o que compara com os 120,7% do PIB previstos pelo Executivo. Em 2023, poderá chegar a 115,3% do PIB, atingindo o nível pré-pandemia (116,6% do PIB em 2019). E um défice de 1,9% do PIB este ano, abaixo dos 3,4% estimados no outono, estando assim em linha com a estimativa do Ministério das Finanças para este ano que está presente na proposta do Orçamento do Estado.

Bruxelas destaca que Portugal registou um défice de 2,8% do PIB em 2021, abaixo dos 5,8% observados em 2020, devido a uma maior entrada de receitas de impostos e contribuições sociais eà maior entrada de fundos da União Europeia face a 2020, mas também das receitas extraordinárias devido ao reembolso da margem pré-paga ao Mecanismo Europeu de Estabilidade. Por outro lado, a despesa pública continuou a pesar, com as pressões ascendentes da despesa pré-pandemia, especialmente com prestações sociais e massa salarial pública, a serem ampliadas pela necessidade de resposta ao impacto da covid19. No entanto, admite que as finanças públicas deverão continuar a melhorar ao longo do horizonte de previsão, apoiadas pelo crescimento económico. "Por um lado, espera-se que a redução gradual das medidas temporárias tomadas em resposta à pandemia contribua para reduzir o défice, apesar dos efeitos possivelmente duradouros do consumo intermédio, relacionados com a saúde ea massa salarial pública”, diz o documento.

Por outro lado, a despesa pública continuou a pesar, com as pressões ascendentes da despesa prépandemia, especialmente com prestações sociais e massa salarial pública, a serem ampliadas pela necessidade de resposta ao impacto da Covid-19.

A Comissão Europeia assinala, assim, que o investimento público deverá acelerar para 3% do PIB em 2022 e permanecer num nível historicamente alto em 2023, impulsionado pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

ÍCPortugal poderá ser considerado um ‘beneficiário líquido’

da atual situação geopolítica

C.C Crescimento da economia portuguesa contrasta com Alemanha e França”

Números

5,8%

Perspetiva de crescimento da economia, acima do valor previsto pelo Governo de 4,9%

4,4%

Taxa de inflação prevista pela Comissão Europeia para este ano

5,7%

Taxa de desemprego prevista para este ano, abaixo dos 6,6% registados em 2021

1,9%

Previsão do défice para este ano, em linha com o que está definido no Orçamento

119,9%

Rácio da dívida pública face ao PIB e deverá descer para 115,3% em 2023

2,7%>

Previsão de crescimento 1 para a zona euro e 2,3% S para o próximo ano

Antonio Costa afirma que previsões de Bruxelas "são muito favoráveis”

e provam "robustez”. Défice previsto vai ao encontro do que foi apresentado por Medina


FMI revê em alta crescimento do PIB para 4,5% este ano


Mas piorou a taxa de inflação para 6% e defende ajuste orçamental.

A equipa do Fundo Monetário Internacional (FMI), que esteve em Portugal para a sua avaliação anual, melhorou a perspetiva de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) português para 4,5% este ano, no entanto, piorou a taxa de inflação para 6%, mas acredita que irá começar a recuar em 2023 devido à queda dos preços da energia e dos alimentos.

O organismo internacional No World Economic Outlook, publicado em abril, previa uma expansão do PIB de 4% este ano e de 2,1% em 2023. Mas, no documento agora revelado, diz que o crescimento deverá ser impulsionado pelo consumo privado, apoiado por uma normalização mais rápida da taxa de poupança das famílias, pelo investimento público, refletindo o Plano de Recuperação e Resiliência, e pelas exportações, com o turismo a atingir o nível pré-pandemia em 2023.

No entanto, dá nota dos novos riscos provocados pela guerra na Ucrânia, considerando que apesar do impacto para Portugal ser sobretudo indireto, os preços das ‘commodities’, maiores estrangulamentos na oferta, confiança e procura externa mais fraca e condições financeiras mais apertadas deverão pesar na recuperação e na subida dos preços.

O FMI defende também que Portugal irá precisar a partir de 2023 de um ajuste gradual de forma a reconstruir o espaço orçamental, responder às pressões do envelhecimento, aumentar o investimento público e reduzir os riscos com a dívida. Para a missão liderada por Rupa Duttagupta, "estes esforços são fundamentais para cumprir a prioridade de longo prazo de aumentar o potencial de crescimento de Portugal e acelerar a convergência de rendimentos com o resto da zona euro”.