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Oito em cada 10 funcionários do Fisco têm sintomas de ?burnout? e dois terços admitem querer sair
"O ambiente laboral na Autoridade Tributária e Aduaneira Portuguesa enfrenta desafios significativos, com elevados níveis de stress ocupacional, exaustão e insatisfação entre os colaboradores." Esta é uma das principais conclusões de um estudo realizado junto de funcionários do Fisco e segundo o qual o excesso de trabalho, as preocupações com a carreira e a remuneração são fontes proeminentes de stress.
O trabalho resultou de uma colaboração com a Associação Portuguesa de Inspetores Tributários (APIT) e foi realizado por Mariana Freitas, Ana Moreira e Fernando Ramos. Foram questionados 603 funcionários do Fisco e das Alfândegas, ao longo de abril e junho do ano passado e tanto no Continente, como nas regiões autónomas. Oobjetivo do estudo foi avaliar o efeito do stress ocupacional na rotatividade dos funcionários ou, mais exatamente, nas intenções de mudança de emprego.
As conclusões mostram que os sintomas de ‘burnout’ atingem 79,3% dos inquiridos, com ênfase nas situações de exautão. Uma fatia de quase 70% revelam baixos níveis de motivação e as intenções de saída são elevadas, especialmente entre os mais idosos, com 64,8% a admitir querer deixar as funções que agora exercem.
Ainda que mais de metade (58,2%) diga ter elevados níveis de satisfação com a supervisão, mais de 70% afirma estar descontente com os benefícios, leia-se, com o salário. A elevada média de idades entre os trabalhadores da AT, de 56 anos, é também apontada como um fator negativo (entre os inquiridos no estudo, a média de idades foi de 52 anos).
Questões relacionadas com a progressão na carreira (as carreiras aguardam por uma regulamentação desde 2008) e os baixos salários estão entre as que mais contribuem para os níveis de preocupação, com muitos funcionários a acusarem "sentimentos de injustiça" e "aumentos dos níveis de stress".
Os inquiridos referem, também, como fatores de desmotivação, a "degradação no funcionamento e perda de autoridade por parte da AT", bem como o "sistema de avaliação de desempenho", a sobrecarga de trabalho e as condições em que o mesmo é desenvolvido.
"Esses altos níveis de stress levam a um aumento nos níveis de ‘burnout’", com os trabalhadores a "desejar deixar a organização", assinalam os autores.
Os responsáveis pela AT e o próprio Ministério das Finanças devem "preocupar-se em restabelecer a progressão na carreira, reduzir a sobrecarga de trabalho e melhorar as condições de trabalho desses funcionários para que os níveis de stress ocupacional sejam reduzidos e, posteriormente, diminuam o ‘burnout’ e as intenções de saída".
"A AT e os sucessivos Governos permitiram que o Capital Humano da AT entrasse numa situação de enorme degradação, em que os sentimentos de injustiça, descrença e desmotivação, podem começar a colocar em causa o sucesso da AT", assinala Nuno Barroso, presidente da APIT.
Numa nota que acompanha a divulgação do trabalho, Nuno Barroso apela a uma intervenção "mais do que urgente" do novo Governo. "Com a reposição de justiça nos diferentes percursos profissionais dos trabalhadores, com o devido reconhecimento e dignificação das suas carreiras, remunerações, benefícios e condições de trabalho, os inspetores tributários e aduaneiros teriam níveis de stress mais baixos, diminuindo-se os níveis de burnout, aumentando os níveis de motivação e de satisfação laboral, o que levaria necessariamente à redução das intenções de saída", remata.
O estudo foi publicado na revista científica MDPI – Administrative Sciences, e pode ser consultado aqui.