Voltar
11 novembro 2024 18h10

A falta de literacia financeira é um desafio mundial

A falta de literacia financeira é um desafio mundial

Em Portugal são necessários programas de literacia financeira e de educação financeira para incentivar a poupança e o investimento.

Leonor Mateus Ferreira, Bárbara Barroso, João Queiroz, Miguel Ferreira, e Sofia de Sousa Vale, no debate ‘O Impacto da Poupança e Investimento’. "Os impostos são importantes, mas não devemos confiar demasiado nos impostos como forma de incentivar a poupança, quando a raiz do problema é a falta de literacia financeira e de conhecimento financeiro da população. Não é um problema só de Portugal, a falta de literacia financeira é um desafio mundial", afirmou Miguel Ferreira, professor de Finanças na Nova SBE, na mesa-redonda sobre o Impacto da Poupança e Investimento, da 13ª edição da Grande Conferência O Futuro dos Mercados Financeiros, organizada pelo Negócios e o Banco Carregosa, e com o apoio do ISCTE Business School.

Existem muitos estudos sobre a literacia financeira, que utilizam inquéritos com cinco questões básicas sobre finanças, relacionadas com a inflação, a diversificação, os juros compostos, etc. Na população mundial apenas um terço responde corretamente a três das perguntas. Na União Europeia, apenas metade da população tem conhecimentos financeiros razoáveis básicos.

"Em Portugal a situação ainda é mais grave apenas 40% tem esses conhecimentos e somos o segundo pior na Europa à frente da Roménia. Esta falta de conhecimentos financeiros exige estratégias nacionais para atacar o problema", refere Miguel Ferreira.

 

 

Finanças para adultos Considera que há uma grande falta de políticas públicas baseadas em evidência científica e na literacia financeira. "Uma política pública essencial é a formação em literacia financeira, que deve começar no primeiro ciclo e acompanhar o percurso escolar. Muitos estudos mostram que os comportamentos financeiros melhoram com educação financeira: há menos insolvências e mais investimento em títulos financeiros", salienta Miguel Ferreira.

Além disso, defende que em Portugal são necessários programas de literacia e educação financeira para a população adulta, caso contrário, "teremos de esperar várias gerações para atingirmos níveis satisfatórios de literacia financeira".

Para Sofia de Sousa Vale, professora no ISCTE Business School, "é importante introduzir uma disciplina de literacia financeira, bem como adotar medidas de incentivos fiscais à poupança, mas receio que, sem alterações de contexto, como a melhoria do rendimento médio, ainda baixo em comparação com os países da zona euro, estas mudanças mais amplas sejam difíceis de alcançar". Ignorância e burlas A razão para os baixos níveis de poupança também está relacionada com os baixos salários, "mas está muito ligada à falta de educação financeira, que impede as pessoas de assumirem riscos, pois não compreendem os conceitos", reforçou Miguel Ferreira.

O investidor português opta, sobretudo, por depósitos bancários e certificados de aforro, como explica Bárbara Barroso, especialista em finanças pessoais e fundadora do MoneyLab. No entanto, procura "capital garantido com rentabilidades de dois dígitos, o que leva a um paradoxo: dizem-se muito conservadores, mas querem capital garantido com um elevado nível de risco". Bárbara Barroso acrescentou que "a iliteracia financeira, a ganância e a falta de noção de risco tornam-nos vulneráveis a burlas e fraudes, que surgem precisamente por falta de literacia para avaliar o risco e compreender as suas implicações."