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06 dezembro 2024 00h50

Ascensão da China e emergentes na indústria automóvel

Ascensão da China e emergentes na indústria automóvel

Desde 2009, a China tornou-se no maior produtor mundial de automóveis ligeiros e comerciais, respondendo, em 2023, por quase um terço da produção global, de acordo com a OICA (Organização Internacional de Fabricantes de Automóveis). Um crescimento impressionante, considerando que, no início do século, a China detinha apenas 3,5% da produção mundial. À época, os EUA, o Japão e a Alemanha dominavam o mercado, com quotas de 21,9%, 17,4% e 9,5%, respetivamente, representando quase metade da produção global. No entanto, ao longo das últimas duas décadas, essas economias perderam cerca de metade das suas quotas de mercado, enquanto países emergentes, como a China e a Índia, registaram uma expansão significativa. A Índia, em particular, quintuplicou a sua produção, atingindo 6,3% da quota global em 2023. Por outro lado, a Coreia do Sul manteve a sua quota estável, em cerca de 5%.

 

 

É um facto a transferência da liderança do setor automóvel para os mercados emergentes, enquanto os líderes históricos enfrentam desafios crescentes relacionados com a globalização, a deslocalização da produção e a competitividade. A expansão da produção automóvel na China foi impulsionada por uma combinação de industrialização acelerada, políticas governamentais de apoio à produção local e uma classe média em rápido crescimento. A China emergiu como o maior consumidor global de automóveis, reforçando ainda mais a sua influência. Paralelamente, a Índia consolida gradualmente a sua posição como um importante produtor e exportador, reconfigurando o mercado global.

 

 

Desde o início do século, o setor automóvel foi profundamente impactado por fatores como a globalização, alterações tecnológicas, políticas ambientais e a transição energética. Uma das alterações mais significativas foi a deslocalização da produção para regiões de custo mais baixos, como a China, o México e a Europa de Leste. Empresas como a General Motors (GM), a Volkswagen e a Toyota aproveitaram as condições específicas destas regiões, incluindo incentivos fiscais e custos laborais mais baixos. A Volkswagen, por exemplo, criou joint ventures com empresas chinesas, como a SAIC e a FAW, enquanto a GM firmou parcerias estratégicas para reforçar a sua presença na China. No México, tanto a GM quanto a Volkswagen possuem fábricas destinadas ao mercado norte-americano. Na Europa de Leste e no Sudeste Asiático, marcas como a Toyota expandiram as suas operações, beneficiando o crescimento económico e a procura crescente nestas regiões.

 

 

A partir da década de 2010, o setor automóvel experimentou uma ‘revolução’ tecnológica, com a aceleração do desenvolvimento dos veículos elétricos. Liderada inicialmente por empresas como a Tesla, esse segmento foi rapidamente dominado pela China, tornando-se no maior produtor mundial de veículos elétricos e líder na cadeia global de abastecimento de baterias. Startups como Tesla, Rivian e NIO desafiaram os fabricantes tradicionais, enquanto empresas chinesas como BYD e SAIC Motor consolidaram a sua posição como líderes na produção de veículos elétricos. A transição para este tipo de veículos foi motivada por regulamentações ambientais mais rigorosas, avanços tecnológicos e alterações nas tendências dos consumidores, reforçando o papel da inovação na definição do futuro do setor.

 

 

Embora a globalização tenha permitido maior eficiência e acesso a novos mercados, também trouxe desafios. A dependência das cadeias globais de abastecimento expõe a indústria a vulnerabilidades, como as interrupções causadas pela pandemia de COVID-19 e pela crise dos semicondutores. Estas crises evidenciaram a necessidade de maior resiliência e diversificação nas cadeias de produção, levando os fabricantes a repensarem as suas estratégias. As marcas chinesas têm expandido a sua presença global, incluindo em Portugal, onde empresas como MG e BYD oferecem veículos que combinam design moderno, tecnologia avançada e preços competitivos. Esta expansão reflete o esforço da China em consolidar a sua posição como líder global, sobretudo no segmento de veículos elétricos, onde possui uma clara vantagem competitiva graças à sua capacidade tecnológica e escala de produção.

 

 

Em suma, as últimas duas décadas foram marcadas por alterações profundas no setor automóvel. A ascensão da China e da Índia, a deslocalização da produção para mercados emergentes e a revolução tecnológica dos veículos elétricos redefiniram o panorama global. Enquanto as economias tradicionais enfrentam desafios, os mercados emergentes assumem a liderança, moldando o futuro da indústria. O setor automóvel continua a evoluir num cenário de inovação constante, impulsionado pela procura da eficiência, novas preferências dos consumidores, sustentabilidade, e competitividade global.

 

 

Paulo Monteiro Rosa, Economista Sénior do Banco Carregosa