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06 abril 2023 09h35

Aumentam os receios de recessão

Aumentam os receios de recessão
Paulo Rosa Economista sénior do Banco Carregosa

Fecho da Semana
Os mercados acionistas travam subidas à medida que os receios de recessão aumentam.

É inevitável que o principal foco dos investidores se mova gradualmente dos números da inflação para a desaceleração económica à medida que a política monetária dos bancos centrais, nomeadamente da Reserva Federal dos EUA (Fed), começa gradualmente a refletir-se e a penalizar a atividade económica, tendo sido talvez a crise bancária de março o primeiro sinal do impacto negativo da enérgica subida dos juros, adotada para travar a inflação mais elevada das últimas quatro décadas.

Os dados mensais das ofertas de emprego, os denominados JOLTS (Job Openings and Labor Turnover Survey), não são um relatório muito conhecido, mas tornaram-se muito mais importantes nos últimos meses. No ano passado, o relatório JOLTS referente a março de 2022 atingiu um máximo histórico, superando as 12 milhões de ofertas de emprego por parte das empresas norte-americanas, ajudando a estimular o aumento das taxas de juro, influenciando também a postura dos membros da Fed e o seu sentimento cada vez mais hawkish. Entretanto, na passada terça-feira o relatório JOLTS, relativo a fevereiro, mais fraco do que o esperado, desencadeou a primeira preocupação real sobre uma potencial recessão nos tempos mais próximos. As ofertas de emprego caíram abaixo da barreira das 10 milhões de vagas, o nível mais baixo em quase dois anos (desde maio de 2021).

Após a divulgação desses dados, o dólar desvalorizou, os rendimentos do Tesouro dos EUA caíram e a cotação do ouro aumentou cerca de 2%, superando novamente a importante fasquia dos 2.000 dólares por onça. Uma recessão e a toda a incerteza associada à contração económica, bem como a consequente descida das taxas de juro, são terreno fértil para o preço do metal amarelo. Crescem também as perspetivas de descida das taxas de juro pela Fed no segundo semestre do ano. Atualmente, são esperados quatro cortes de 25 pontos base cada, de acordo com a Ferramenta da CME FedWatch da bolsa de derivados de Chicago, nas reuniões da Fed em 26 de julho, 20 de setembro, 1 de novembro e 13 de dezembro, respetivamente. Efetivando-se este eventual cenário, as taxas de juro da Fed cairiam do atual intervalo de 4,75% a 5% para 3,75% a 4% no final do ano.

O sinal mais importante para corroborar essa reversão da atenção dos investidores exclusivamente para a evolução da atividade económica e receios de recessão verificar-se-á quando uma descida da taxa de inflação seja vista pelos mercados como negativa, adotando os investidores a partir desse momento uma postura de gradual risk-off.

O GDP Now publicado no site da Reserva Federal de Atlanta referente às expectativas de crescimento do PIB norte-americano no primeiro trimestre de 2023 caíram de 3,5% em meados de maio para 1,5% no dia 5 de abril, mais um dado desfavorável.

Os preços no produtor da zona euro caíram pelo quinto mês consecutivo em fevereiro. Os preços no produtor são um leading indicator das tendências inflacionistas futuras porque as suas alterações são geralmente transferidas para os consumidores finais.

As novas encomendas de produtos manufaturados nos EUA caíram pelo segundo mês consecutivo em fevereiro devido à queda na procura de aviões civis e há sinais de que os gastos empresariais com equipamentos permaneceram fracos no primeiro trimestre. Caterpillar, considerada o termómetro do sector industrial, caiu 5,4% na terça-feira.