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27 março 2023 10h55
Fonte: Novo

Bancos centrais sobem juros apesar da crise bancária

Bancos centrais sobem juros apesar da crise bancária
Os bancos centrais, nomeadamente o Banco Central Europeu, a Reserva Federal dos EUA e o Banco de Inglaterra, mantiveram os seus planos de subida de taxas de juro, apesar do colapso do Silicon Valley Bank e da crise no Credit Suisse, que ditou a sua compra pelo UBS no último fim-de-semaha. Para o mercado, isto revela confiança no sistema bancário e que o problema está a ser superado

Depois de o Banco Central Europeu (BCE) ter subido as taxas de juro, na semana passada, foi a vez de a Reserva Federal dos EUA (Fed) e o Banco de Inglaterra darem o mesmo passo, nos últimos dias. Os bancos centrais mantiveram, assim, o seu plano de normalização da política monetária, apesar da turbulência no mercado provocada pelo colapso do Silicon Valley Bank (SVB) e da crise no Credit Suisse, que acabou por culminar na sua venda ao rival UBS.

"A postura hawkish dos bancos centrais, nomeadamente do BCE, da Fed e do Banco de Inglaterra, aumentando as suas taxas de juro directoras perante a actual crise bancária, não é uma atitude paradoxal, bem pelo contrário: evidencia confiança no actual sistema bancário, corroborando também que o problema é gradualmente ultrapassado’, afirma Paulo Rosa, economista sénior do Banco Carregosa.

O BCE subiu as taxas de juro em 50 pontos-base na semana passada, mantendo o rumo previsto. Numa conferência de imprensa, a presidente do banco central, Christine Lagarde. não se comprometeu em relação a decisões futuras, sublinhando, contudo, que "se o cenário-base nas nossas projecções mais recentes se confirmar, ainda temos algum caminho a percorrer para assegurar que as pressões inflacionistas sejam reduzidas”. A taxa de inflação na zona euro terá abrandado em Fevereiro, em comparação com o mês anterior. Ainda assim, mantém-se elevada, situando-se nos 8,5%.

Já o Banco de Inglaterra anunciou uma subida das taxas de juro em 25 pontos-base, colocando a taxa de referência nos 4,25%, o valor mais elevado em 14 anos. "O comité considera que o sistema bancário do Reino Unido mantém um capital robusto e posições fortes de liquidez e está bem posicionado para continuar a apoiar a economia”, incluindo num período de subida dos juros, afirmaram os responsáveis do banco.

"Caso o problema fosse suficientemente grave, os bancos centrais não subiriam as taxas de juro; bem pelo contrário, estariam a descê-las, tentando mitigar a crise bancária”, frisa Paulo Rosa.

Fed vê ciclo de subidas perto do fim

Nos EUA, a Fed também não alterou os seus planos devido à turbulência na banca internacional. Contudo, o banco central subiu os juros em apenas 25 pontos-base, ficando aquém do último aumento, de 50 pontos-base - isto num esforço para manter o combate à inflação, ao mesmo tempo que responde à instabilidade do sistema financeiro. Foi ainda sinalizado que o ciclo de subidas pode estar perto do fim.

Jerome Powell, presidente da Fed, revelou que os membros do banco consideraram fazer uma pausa na subida dos juros nos dias que antecederam a reunião, devido ao que aconteceu no SVB e no Credit Suisse. O responsável explicou que estes acontecimentos "deverão resultar em condições de crédito mais restritivas para famílias e empresas’ e afectar "a actividade económica, as contratações e a inflação”. Ou seja, "este aperto nas condições financeiras funcionaria na mesma direcção que o aperto nas taxas”.

Por outro lado, a Fed eliminou da sua declaração habitual a necessidade de "aumentos contínuos” dos juros, apontando agora que "alguma política adicional de firmeza pode ser apropriada”.

A confiança na banca por parte dos bancos centrais acabou por levar o Stoxx 600, o índice de referência europeu, a subir no conjunto da semana, ainda que a sessão desta sexta-feira tenha sido marcada por quedas, perante a desvalorização do sector bancário. O Deutsche Bank chegou a cair mais de 10%, prolongando a tendência verificada na quinta-feira. Em Wall Street, os investidores continuam a digerir os últimos acontecimentos, com o índice norte-americano a recuar ligeiramente nos últimos cinco dias.

Enquanto o Banco Central Europeu subiu as taxas de juro em 50 pontos, a Reserva Federal dos EUA e o Banco de Inglaterra aumentaram em 25 pontos-base, garantindo ao mercado que continuam focados na sua missão de combater a escalada da inflação