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23 junho 2023 09h20

Certificados ainda podem captar mais 6,3 mil milhões

Certificados ainda podem captar mais 6,3 mil milhões
Entraram nos produtos de poupança do Estado 10,2 mil milhões de euros, com a corrida aos certificados de aforro a compensar a saída dos certificados do Tesouro. No total do ano, as Finanças esperam um saldo líquido de 16,5 mil milhões, deixando uma margem estreita. 

Os certificados de aforro e do Tesouro engordaram em 10,2 mil milhões de euros nos primeiros cinco meses do ano, tendo atingido um valor agregado de 45 mil milhões de euros – o mais elevado de sempre. Após este "boom”, a margem para o saldo anual esperado pelo Ministério das Finanças fica limitado a 6,3 mil milhões de euros.

"Em 60% do ano seria preciso ir buscar 40% do montante”, sumariza o economista Filipe Garcia, presidente da IMF - Informação de Mercados Financeiros sobre o objetivo anual. Por um lado, se se mantivesse o ritmo de captação de poupança por parte dos certificados de aforro, não só seria possível como até ultrapassável. Por outro, a mudança nas condições deste produto poderão refrear o entusiasmo e impedir que seja sequer alcançada esta meta.

"Sem a criação de novos produtos, torna-se mais difícil que se atinja esse valor. Parece-me mais provável que se falhe do que ultrapasse esse valor”, refere Filipe Garcia, sublinhando que "só em junho teremos pistas sobre como é que as pessoas reagiram” à decisão de pôr fim à anterior série (E) dos certificados de aforro e lançar uma nova (F).

Em ambos os casos o juro está indexado à Euribor a três meses, mas o tecto máximo cai de 3,5% para 2,5% (acrescido de prémios de permanência). É ainda imposto um limite de subscrição nos 50 mil euros, face ao anterior de 250 mil euros. "É certo que os certificados de aforro irão perder algum incentivo à sua subscrição, mas ainda mantêm a atratividade relativamente a outros produtos financeiros de baixo risco”, considera Paulo Rosa, economista sénior do Banco Carregosa.

A mudança deve-se à remuneração estimada em 1 ponto percentual acima do mercado e o risco de o país ter de enfrentar uma grande parede de reembolsos quando estes produtos atingirem a maturidade em 2033, mas principalmente à escala da entrada de capital no arranque do ano.

Segundo os últimos dados divulgados esta quinta-feira pelo Banco de Portugal (BdP), o dinheiro aplicado pelas famílias em produtos de poupança do Estado sobe há 14 meses consecutivos. Em maio, o último mês de comercialização da série E, entraram nos certificados de aforro 2,2 mil milhões de euros, tendo o "stock” chegado aos 32.550,18 milhões de euros em maio. Em 2023, foram mais 12.924,68 milhões de euros.

A subida acentuada no montante aplicado nestes produtos tem mais que compensado a queda registada nos certificados do Tesouro, que decorre há 19 meses. Em maio, os certificados do Tesouro voltaram a ter uma evolução negativa, tendo o "stock” caído 510,17 milhões de euros para 12.518,86 milhões. No total, o conjunto dos dois certificados cresceu 1.716 milhões de euros em maio para 45.069,04 milhões de euros.

"Na qualidade de entidade que gere responsavelmente os empréstimos obtidos do Estado português, o IGCP deve evitar demasiada exposição a um determinado instrumento, procurando também minimizar os custos. Atualmente, a dependência dos certificados de aforro é já relevante e os juros associados a este instrumento de dívida de curto prazo são mais elevados do que as fontes de financiamento de longo prazo, quando deveria ser o contrário, porque o risco cresce à medida que aumenta o horizonte temporal”, adverte Paulo Rosa.

Mesmo que a desaceleração da procura por certificados seja expressiva, os analistas afastam que a alteração crie um problema para a agência que gere a dívida pública. "O IGCP tem um calendário indicativo de colocações [de obrigações do Tesouro]. Se não se financiar de uma forma, pode financiar-se por outra”, refere o presidente da IMF.

Aliás, a subscrição de certificados de aforro tem suprido as necessidades de financiamento do Estado, que tem vindo a adiar emissões. "No entanto, diante do montante elevado que vence em outubro, provavelmente o Estado recorrerá ao mercado ou uma operação sindicada, para amortizar e rolar parte dessa dívida”, antecipa Paulo Rosa.