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Chatbots nos EUA, automóveis na China

Em 2018, a China foi apanhada de surpresa pela guerra comercial e tecnológica dos EUA. Desta vez, no entanto, as eventuais tarifas de Trump não são inesperadas, e o país parece preparado para responder. Em vez de recorrer a desvalorizações cambiais, a China pode agora valer-se da sua competitividade extra-preço, impulsionada pelos avanços tecnológicos. Hoje, a economia chinesa é significativamente mais competitiva do que em 2017. Os produtos chineses, apoiados pelo sistema bancário e pelas políticas industriais do governo, apostam cada vez mais numa independência industrial transversal, destacando-se pela sofisticação tecnológica, podendo prescindir do recurso a desvalorizações da moeda para ganhar competitividade. Esta evolução também foi possível devido ao realinhamento do crédito, com menos financiamento ao mercado imobiliário, embora isso tenha contribuído para a contínua fragilidade deste setor.
Enquanto em 2017 os EUA tinham uma visível capacidade de condicionar e afetar a economia chinesa, a situação atual está mais equilibrada e eventualmente invertida nalguns produtos. A China tem hoje a capacidade de enfraquecer as cadeias de abastecimento dos EUA, impondo restrições à exportação de matérias-primas essenciais. Em agosto, os EUA aumentaram as tarifas sobre produtos chineses da indústria de energias renováveis, como painéis solares e silício policristalino. Em resposta, a China restringiu a exportação de metais críticos para a produção de chips, como gálio e germânio, afetando a indústria americana de semicondutores.
Esta dependência preocupa os EUA, pois materiais como grafite, antimónio e ultraduros são importantes para setores críticos, como eletrónica (semicondutores e fibras óticas), veículos elétricos (grafite e baterias) e defesa (equipamentos óticos avançados). As exportações desses materiais da China para os EUA desempenham um papel vital na cadeia de abastecimentos global e na economia americana. A China detém 65% da produção global de grafite natural e 90% da sintética, além de controlar mais de 80% da produção mundial de antimónio e lidera o mercado de materiais ultraduros, como diamante sintético e carbonetos ultraduros.
A economia é a capacidade de transformar as matérias-primas existentes no nosso planeta em bens e serviços úteis, sendo a energia um elemento crucial nesse processo. Quem tiver acesso a energia mais barata terá uma vantagem competitiva substancial, sobretudo se estiver na vanguarda dos avanços tecnológicos. Nos EUA, o plano 3/3/3 de Trump, liderado por Scott Bessent, visa alcançar um crescimento económico superior a 3%, reduzir o défice orçamental para menos de 3% e aumentar a produção diária de petróleo em 3 milhões de barris até 2028. No entanto, alcançar 3% de crescimento económico, enquanto se reduz o saldo negativo das contas públicas, é um desafio hercúleo. Além disso, persiste a dúvida sobre a capacidade de os EUA atingirem essa produção adicional de petróleo.
As indústrias do futuro, como a inteligência artificial (IA), os veículos elétricos e autónomos, são intensivos em energia. Quem possuir o menor custo de eletricidade terá uma clara vantagem competitiva. Países do Sul Global, como o Brasil, Índia e China, têm custos de energia mais baixos. A China tem investido ‘energicamente’ em diversas fontes de geração de eletricidade, incluindo eólica, nuclear e carvão limpo (recorrendo a técnicas como a captura e armazenamento de carbono, que reduzem as emissões de CO2). Embora o carvão ainda represente cerca de 55% do consumo energético chinês em 2023, o país avançou rapidamente na transição energética e fortaleceu a sua segurança energética. Em abril deste ano, a capacidade instalada de produção elétrica da China atingiu 3 TW, ultrapassando a dos EUA (1190 GW no final de 2023, segundo o EIA) e a da União Europeia a 27 (1046 GW, segundo o Eurostat) juntas. Além disso, a China deverá alcançar 1200 GW de capacidade instalada de energia eólica e solar até ao final de 2024, seis anos antes da meta estabelecida, consolidando a sua posição como líder global em geração de energia, com um destaque crescente para as fontes renováveis.
Enquanto os carros elétricos chineses se tornam cada vez mais acessíveis e intensificam a aposta na democratização da condução autónoma, que parece mais próximo de acontecer na China, as empresas americanas investem em LLM (Large Language Model). Desde o final de 2022, o S&P 500 subiu quase 70%, impulsionado pelo investimento em IA das tecnológicas Microsoft, Apple, Meta, Amazon e Google, suportada pelos chips GPU da Nvidia. Enquanto os americanos refinam modelos de linguagem, os chineses consolidam avanços na indústria automóvel, garantindo uma vantagem competitiva global. Triunfará quem possuir energia barata, independência industrial e liderança tecnológica, desempenhando um papel decisivo na economia global.
Paulo Monteiro Rosa, Economista Sénior do Banco Carregosa