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Dia D da DeepSeek desafia os chips dos EUA

Nos últimos dias, a startup chinesa DeepSeek, conhecida pelo desenvolvimento de ferramentas de inteligência artificial (IA) de código aberto, abalou o setor tecnológico dos EUA ao apresentar um modelo de IA mais barato, treinado com chips mais antigos e com desempenho relativamente semelhante ao ChatGPT da OpenAI. A DeepSeek posiciona-se como uma concorrente direta da OpenAI, destacandose pela democratização da IA e otimização de custos – um paradoxo curioso vindo de um país governado por um só partido –, com o potencial de alterar o panorama global da IA, redistribuindo o poder atualmente concentrado em meia dúzia de empresas americanas. Além disso, levanta uma reflexão inquietante ao abrir uma verdadeira caixa de Pandora: e se houver outros ‘DeepSeeks’ prestes a emergir? Por outro lado, a evolução da IA não se limita ao software, e os modelos avançados de conversação estão cada vez mais próximos da maturidade, tornando-se viáveis para integrar humanoides. Nesse cenário, a China pode destacar-se, não só pelo avanço em IA, mas também por ser a fábrica do mundo.
No dia 27 de janeiro, a Nvidia caiu 18%, percecionando a ameaça da DeepSeek ao domínio das gigantes tecnológicas ocidentais, sobretudo no setor dos chips. O Nasdaq recuou 3,1%, mas o Dow Jones valorizou 0,7%, evidenciando uma rotação de capital. As tecnológicas sofreram uma queda quase generalizada, pressionando o S&P 500, que caiu 1,5% devido ao peso deste setor. Ainda assim, a Apple contrariou essa tendência, valorizando 3,4%, beneficiando da menor aposta em IA e do facto de os seus telemóveis poderem tirar partido desta abordagem mais eficiente, num movimento que também reflete o atual sentimento bull no mercado americano. Apesar da queda das tecnológicas, a maioria das empresas do S&P 500 valorizou, impulsionada por uma rotação de growth para value e de large caps para small caps, um movimento que poderá, no futuro, estender-se a outros mercados globais e reduzir a forte concentração do investimento nos EUA. No mercado chinês, o DeepSeek pode ter reforçado a confiança dos empreendedores locais, ao atenuar o receio de serem tecnologicamente esmagados pelos EUA. Este novo modelo de IA demonstrou que é possível competir com menos recursos e chips mais baratos.
O DeepSeek é mais do que um exemplo de disrupção tecnológica, sendo também um alerta para a excessiva concentração do mercado americano em poucas ações tecnológicas, conhecidas como as ‘Magnificent 7’. Nos últimos anos, este grupo tem sido o pilar do ‘excecionalismo’ dos EUA – termo cunhado por Tocqueville – levantando a questão de se, sem estas empresas, os EUA continuariam a parecer tão excecionais como antes. Criado por um hedge fund sediado em Hangzhou, o DeepSeek nasce num dos principais polos de inovação digital da China, uma das suas ‘Silicon Valleys’. A cidade é impulsionada por gigantes como Alibaba, Ant Group e NetEase, além de atrair investimentos significativos em IA, blockchain e computação em nuvem. Hangzhou, que acolhe a prestigiada Universidade de Zhejiang, compete com outras ‘Silicon Valleys’ chinesas, como Shenzhen, especializada em hardware e semicondutores, e Pequim (Zhongguancun), referência em IA e startups de deep tech. Atualmente, a China forma quase 5 milhões de estudantes por ano nas áreas das ciências, matemática e engenharia.
Avanços em software podem reduzir a dependência de hardware mais potente, tornando certos chips obsoletos. A obsessão por inovações específicas, como chips, pode levar a apostas arriscadas, subestimando o potencial de disrupções tecnológicas. A Intel, líder global de chips de CPU em 2000 e, apesar de atualmente igualmente hegemónica com 62% de quota de mercado, segundo a Statista, apresenta um valor de mercado atual sete vezes inferior ao de então. A visão linear de que os avanços em hardware, como chips, dominarão o futuro é desafiada pela entrada da DeepSeek na corrida da IA. A empresa expôs riscos ignorados durante o rali dos últimos dois anos, em que o Nasdaq 100 subiu 97% e o S&P 500 54%, como os múltiplos elevados das ações tecnológicas e os gastos avultados em IA. A ferramenta mais barata da DeepSeek, treinada em antigas GPUs Nvidia, surpreendeu os investidores dispostos a aceitar avaliações historicamente elevadas do setor tecnológico, justificadas pela falta de concorrência, pelas promessas transformadoras das Big Tech e por cotações sem margem para erro, que cotam na perfeição. O S&P 500, com um market cap 1,8 vezes superior ao PIB dos EUA e metade do PIB global, apresenta uma relação preço/lucro de 24 vezes e, segundo o Bank of America, está 70% acima da sua média histórica de 125 anos, que é de 15 vezes. A DeepSeek pode trazer alguma frieza à euforia do mercado. Mesmo que as big tech superem os lucros esperados e reforcem as perspetivas positivas nesta época de resultados, o que é o mais provável, as avaliações do setor continuam difíceis de justificar, pois não consideram os riscos da concorrência nem a possível desaceleração de encomendas no futuro. Além disso, a tecnologia tende a ser deflacionista, o que, eventualmente, fará as avaliações reverterem para a média.
Paulo Monteiro Rosa, Economista Sénior do Banco Carregosa