- O Banco
- Pessoas
- Todos os Serviços
- Private Banking
-
Poupança e Investimento
- Conceito Poupança e Investimento
- Soluções
- Tipologias do Investidor
- Abordagem de Investimento
- Equipa
- Contactos
- Plataformas GoBulling
- Institucionais e Empresas
- Insights
- Login My.BancoCarregosa
- Contactos
Insira o seu Utilizador para ter acesso ao seu Banco. complete a sua autenticação no ecrã seguinte.
Se ainda não é cliente abra a sua conta aqui ou contacte-nos para mais informações
Faça o seu login
Economia do café

São principalmente duas as variedades de café que lideram o cultivo e produção cafeeira mundial, a Arábica e a Robusta. A Robusta é amplamente utilizada em café instantâneo granulado e em pó, enquanto o café Arábica é mais adocicado, de qualidade superior, sendo, deste modo, o mais apreciado, respondendo por cerca de 70% da produção cafeeira do Brasil. No entanto, a variedade Robusta tem ganhado quota de cultivo, destacando-se pela sua maior resistência às pragas, sendo, assim, mais produtiva e rentável. Há 20 anos, a Robusta respondia por um terço da produção global e hoje quase ombreia com a Arábica.
Todavia, quando falamos da mercadoria café ainda é a variedade Arábica a referência global na produção, exportação e stocks, representando cerca de 60% da produção mundial, sendo o Brasil o principal benchmark, o maior produtor e exportador mundial, garantindo à volta de 40% da produção global. Desta forma, quando se fala de café nos mercados financeiros, são o Brasil e a variedade Arábica as referências.
Apesar de uma procura crescente, mas relativamente previsível, o preço e os stocks de café têm dependido muito mais das colheitas, sobretudo brasileiras (é expectável este ano uma produção de 54,3 milhões de sacas de café de 60 kg cada no Brasil). Na última década, raras exceções, as colheitas foram boas (clima favorável e ausência de pragas), contribuindo para um crescente aumento da produção, mas curiosamente os stocks nas bolsas de mercadorias têm diminuído.
O café é um relevante produto agrícola, sendo o mercado cafeeiro relativamente importante nos mercados financeiros, nomeadamente dos produtos agrícolas, mas ao contrário das commodities energéticas, tais como o petróleo e o gás natural, e dos metais industriais, como o cobre ou o ouro, o café é perecível, tal como outros produtos agrícolas como o trigo, o milho e a soja. Assim, manter os stocks em bom estado de conservação não é uma tarefa fácil. Ou seja, apesar do excesso de oferta no mercado nos últimos anos, há uma queda nos stocks no final de cada colheita anual. A cotação de uma libra (453 gramas) de café Arábica é atualmente de 190 cêntimos de dólar na bolsa de mercadorias de Nova Iorque (New York Board of Trade), integrada na bolsa eletrónica ICE (Intercontinental Exchange) desde 2006, perto do máximo do ano verificado em meados de abril nos 207 cêntimos de dólar. Em 2011, o café Arábica cotou acima dos 300 cêntimos de dólar, mas o excesso de oferta, desde 2013 a 2021, excetuando 2014, penalizou a cotação do café, tendo o preço do Arábica cotado no intervalo de 100 a 150 cêntimos de dólar a libra, valores muitas vezes abaixo do custo marginal de produção de café das explorações mais pequenas, sem capacidade de beneficiar de economias de escala. Os preços baixos retiraram qualidade ao café, reduzindo a produção e os stocks de café certificado.
Para cotarem em bolsa, os grãos de café são certificados para atenderem a determinados padrões de qualidade, sendo mantidos em armazéns de comercialização para posterior entrega aos compradores de contratos futuros. Há mais de duas décadas que os stocks de café certificado nos armazéns da bolsa ICE têm diminuído. No passado dia 6 de dezembro, o stock de café na bolsa ICE era de 234699 sacas de café, o valor mais baixo desde 1999. Enquanto não é vendido, o café guardado nos armazéns vai perdendo qualidade ao longo do tempo, sendo a sua "antiguidade” penalizada pela bolsa New York Board of Trade/ ICE. A penalização aumenta com a idade, podendo ser de alguns cêntimos por libra de café até 10, 20 ou mais cêntimos. Assim, muitos produtores para não perderem dinheiro, retiravam o seu stock de café dos armazéns da ICE, procurando certificá-lo novamente, com uma qualidade semelhante à de um café recente e fresco, ou vendê-lo fora de bolsa. Este comportamento tem sido uma das principais razões para a considerável diminuição dos stocks de café Arábica junto da ICE, apesar do excesso de oferta nos últimos anos, sobretudo da produção do Brasil.
No passado dia 1 de dezembro, as regras para certificação de café nos armazéns da ICE alteraram, e, desde então, tal prática não é mais permitida e o café, uma vez certificado, não poderá mais ser voltar a ser "recertificado”. Por isso, se o produtor retirar o seu café dos armazéns da bolsa ICE perde a certificação, não podendo ser mais negociado em bolsa, restando-lhe o mercado não regulamentado, fora da bolsa ICE. Esta medida da ICE procura impedir que o café saia dos armazéns da ICE, pretendendo reestabelecer os stocks em níveis elevados, evitando também qualquer risco de rutura de stocks, reforçando novamente a fidedignidade da negociação do café na bolsa York Board of Trade/ICE. Entretanto, desde o dia 1 de dezembro, os stocks ainda não aumentaram. É preciso esperar para ver se o mercado estava realmente tão apertado e o café anteriormente retirado dos armazéns da ICE regressa gradualmente ao mercado regulamentado.
Paulo Rosa, Economista Sénior do Banco Carregosa.