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21 fevereiro 2025 02h50
Fonte: Expresso

Entrada em Bolsa não tira PSI do clã dos menos valiosos

Entrada em Bolsa não tira PSI do clã dos menos valiosos

Banco português trará maior atratividade ao PSI, mas não é suficiente para o fazer subir uns lugares na tabela.


A próxima paragem do Novo Banco poderá ser a Bolsa de Lisboa, através de um IPO (Oferta Pública Inicial, na designação em português), que deverá ter lugar entre o segundo e o terceiro trimestres deste ano, segundo uma mensagem de Mark Bourke, presidente executivo, enviada aos trabalhadores. A conclusão desta operação poderia fazer com que o valor de mercado total do PSI, o índice nacional, subisse até ao máximo de €73,1 mil milhões, mantendo-se no mesmo lugar na comparação europeia.


"Podemos referir que, mesmo com o Novo Banco, o PSI continuará a ser um dos índices menos valiosos, porque a economia portuguesa ainda não tem cotadas com escala global suficiente para competir com mercados semelhantes nem representatividade em temas globais como inteligência artificial, veículos elétricos de condução autónoma ou outra tecnologia que lhe proporcione uma vantagem comparativa”, começa por explicar ao Expresso João Queiroz, responsável pelo trading no Banco Carregosa.


Enumera ainda outras razões, como a "menor liquidez e interesse internacional e histórico de falências e reestruturações bancárias”.


Na semana passada, a casa de investimentos JB Capital estimou uma avaliação para o Novo Banco no intervalo entre €4,8 mil milhões e €6,2 mil milhões. A confirmar-se este número, a Bolsa portuguesa passaria a valer entre os €71,7 mil milhões e os €73,1 mil milhões, ficando ainda mais de €15 mil milhões aquém da Irlanda, um lugar acima na tabela, na melhor das avaliações.


Portugal compara mal com países semelhantes em termos de população e tamanho. O PSI é liderado pela Jerónimo Martins (€12,3 mil milhões), EDP (€12,1 mil milhões) e Galp (10,8 mil milhões) e tem "um peso elevado no sector bancário e utilities, que tendem a crescer menos” do que as tecnológicas e a indústria, explica João Queiroz.


Na área do euro há um total de 30 empresas que, sozinhas, valem mais do que todo o PSI, já contando com a entrada do Novo Banco ao preço da avaliação mais alta. A lista vai desde a francesa LVMH (Louis Vuitton), avaliada em €356 mil milhões, até ao italiano UniCredit (€73,8 mil milhões).


Dentro do PSI, o Novo Banco passaria a ser a sexta cotada mais valiosa, acima da Navigator (€2,3 mil milhões) e abaixo do rival BCP (€8 mil milhões), que pode beneficiar com a presença do segundo banco neste lote de empresas. De há um ano para cá as ações do BCP dispararam cerca de 100% e nos últimos dias as notícias sobre a entrada do Novo Banco em Bolsa motivaram uma nova subida na sua cotação, atualmente em máximos de 2015.


"Se mantiver uma estratégia eficiente, [o BCP] pode beneficiar do aumento do interesse no sector bancário português”, explica o bancário. Primeiro, pode provocar um "maior interesse no sector bancário português, que poderá estar já a aumentar a atratividade do BCP para investidores institucionais”, comprovada pela valorização das ações. Depois, o BCP teria um concorrente que lhe podia permitir apresentar "melhores indicadores de eficiência e rentabilidade”. E, por último, caso o cenário da consolidação bancária permaneça na Europa, pode representar uma "potencial parceria ou fusão futura”.


Também os analistas do JB Capital, na mesma nota, tinham indicado que "as potenciais sinergias podem adicionar entre 0,5 e mil milhões de euros ao potencial comprador já estabelecido em Portugal”.


Contudo, o responsável do Banco Carregosa lembra que nem tudo podem ser rosas para o BCP: "Existem alguns riscos, como a concorrência direta, em que o Novo Banco pode competir de forma mais agressiva pela quota de mercado do BCP, especialmente no segmento corporativo, e diluição de investimento, ao desviar o interesse de investidores e traders que antes se focavam apenas no BCP e podem doravante dividir os seus investimentos entre ambos.”


O clima de fusões e aquisições que se vive no sector bancário europeu tem animado as ações destas empresas no Velho Continente. Este ano, o Stoxx 600 Banks, índice que agrupa os bancos mais valiosos na Europa, já valorizou 18%, mais do que o índice geral (Stoxx 600), que ganha 8% no mesmo período.



Gonçalo Almeida
galmeida@expresso.impresa.pt