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29 novembro 2024 02h50

França em mínimos, apesar dos máximos do Dow Jones

França em mínimos, apesar dos máximos do Dow Jones

Fecho da bolsa: A sustentabilidade fiscal preocupa, numa altura em que está em causa a estabilidade política. 

 

 

O índice CAC 40 atingiu mínimos dos últimos três meses nesta semana, aproximando-se dos mínimos registados em outubro do ano passado. Este desempenho assinala o início de uma possível tendência de baixa (bear market), refletindo preocupações com o aumento da dívida pública, défices orçamentais elevados, incertezas em torno do executivo francês e perspetivas de crescimento económico mais fracas em comparação com países como Portugal e Espanha, embora semelhantes à média da zona euro. Esses fatores contribuíram para o aumento do risco de crédito da França.

 

 

Enquanto a trajetória das contas públicas portuguesas aponta para uma afirmação consistente, com a previsão de um excedente orçamental em 2024 e 2025, permitindo reduzir o rácio da dívida pública face ao PIB nominal para perto de 90% em 2025, a França segue na direção oposta. O país enfrenta défices orçamentais crescentes, com projeções que apontam para um saldo negativo superior a 6% em 2024, muito acima das estimativas iniciais. Este resultado deve-se, em parte, a rearranjos de custos e receitas realizados nas últimas semanas, pois sem essas medidas, o défice seria ainda mais acentuado, agravando a dívida pública, que se aproxima do máximo histórico de 114,7% do PIB nominal.

 

 

Crescem as preocupações nos mercados financeiros quanto à sustentabilidade das finanças públicas francesas e à estabilidade política. Enquanto Portugal beneficia de uma trajetória de consolidação fiscal, França enfrenta desafios significativos para inverter a tendência negativa das suas contas públicas, num contexto de crescente pressão económica e política.

 

 

Uma combinação de fatores tem agravado o défice orçamental e a dívida pública, exigindo medidas de austeridade para restaurar a sustentabilidade fiscal. Embora o crescimento nominal do PIB impulsionado pela inflação possa melhorar as contas públicas através do aumento das receitas fiscais, como ocorreu em Portugal, este efeito positivo foi neutralizado, no caso francês, por vários fatores adversos. O aumento significativo das despesas públicas levou à implementação de pacotes de estímulo que aumentaram os gastos do Estado. Adicionalmente, o envelhecimento da população francesa contribuiu para um acréscimo nas despesas sociais, com pensões e cuidados de saúde a sobrecarregar ainda mais o orçamento.

 

 

Paulo Monteiro Rosa, Economista sénior do Banco Carregosa