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16 junho 2023
09h40
Fonte:
Vida Económica
Greedflation” esmorece e recessão aparece?
PAULO ROSA
Muitas empresas, algumas inclusive sem "pricing power”, conseguiram nos últimos dois anos manter as suas margens operacionais, ou mesmo aumentá-las. Muitas empresas subiram os seus preços acima do aumento dos seus custos, justificando inicialmente tal postura com a entropia nas cadeias de abastecimento ditada pela pandemia e, consequente, alteração dos hábitos de consumo de serviços para bens e mais tarde revertendo novamente para serviços, consoante o maior ou menor distanciamento social, gerando uma desordem na oferta de matérias-primas, culminando numa significativa subida dos preços dos combustíveis fósseis, da eletricidade e das mercadorias, sobretudo dos metais industriais com a reabertura da economia em 2021. Mais tarde, a guerra na Ucrânia aceleraria ainda mais os preços no consumidor, encarregando-se este conflito de alterar uma inflação temporária ainda algumas geografias para globalmente persistente em todas as economias avançadas, excetuando a Suíça e o Japão. As empresas fundamentaram mais uma vez o aumento dos seus preços com a intensificação dos custos das matérias-primas, sobretudo produtos agrícolas mais caros, preços dos combustíveis mais altos e preços dos fertilizantes mais elevados, tendo a "greedflation” sido mais evidente e mais percetível na Europa. As empresas justificaram mais uma vez a alta dos preços com o aumento significativo dos custos neste contexto de guerra, mas por vezes as subidas terão sido mesmo maiores do que o nível do aumento dos custos. Em suma, a pandemia e a guerra justificaram a "greedflation” e as poupanças pandémicas e os cheques governamentais alimentaram e suportaram essa mesma "greedflation”. Porém, açambarcamentos e cartéis, uma realidade em 2022, parecem aparentemente estar a desaparecer lenta e gradualmente.
Por si só, a manutenção das margens operacionais permitiria um aumento médio dos lucros operacionais na mesma ordem de grandeza da subida do PIB nominal em 2022, ou seja, de 11,5% em Portugal e 9,2% nos EUA, a título de exemplo. No entanto, parece que as margens terão mesmo subido nos EUA em 2022 e os lucros terão aumentado em média mais de 9,2%, tendo em conta que os salários norte-americanos subiram 4,8% no ano passado, os retornos nominais dos juros acima dos 5% terão sido pontuais e reservados ao "high yield”, e as rendas, sobretudo de casa, tendo em conta o "shelter” nos EUA, aumentaram 7,9% em 2022. No cálculo do PIB numa ótica do rendimento, se os salários, os juros e as rendas ficaram aquém de um crescimento de 9,2%, terão sido os lucros a subirem mais de 10% em média. Lucros mais elevados de micro, pequenas e médias empresas com "pricing power” provavelmente alimentaram a inflação em 2022, catapultando-a para níveis não vistos desde a década de 1970. Entretanto, BCE e Fed pediram às empresas um esforço no controlo dos aumentos salariais, receando uma espiral salários/inflação, mas esqueceram-se de lhes pedir também que tentassem limitar as suas margens operacionais, tendo uma espiral margens/ inflação sido talvez mesmo uma realidade, ou seja, a aludida "greeedflation” (resiliência das margens e relativo aumento dos lucros) autoalimentou a elevada inflação.
Entretanto, os índices de preços no produtor (IPP), os primeiros a subirem no início de 2021, têm desacelerado substancialmente, prometendo reverterem mesmo para uma inflação negativa nos próximos meses. Na China, o IPP homólogo foi negativo de 4,6% em maio, o 8º mês consecutivo de deflação, tendo o índice de preços no consumidor (IPC) homólogo subido apenas 0,5% em maio. São sinais de uma considerável desaceleração da atividade económica chinesa, tendo a segunda maior economia do mundo sido um "leading indicator” relativamente fiável da economia global nos últimos 3 anos. O principal índice acionista francês, o CAC 40, corrobora essa desaceleração chinesa desde o início de maio. Sendo assim, a "greedflation” tem abrandado substancialmente, fenómeno que poderá ter alimentado a inflação nos últimos 18 meses. Atualmente, as cadeias de abastecimento normalizaram (os custos dos contentores estão em níveis pré-pandémicos, depois de terem quintuplicado, e os preços das matérias-primas caíram, espelhando uma desaceleração económica). A oferta agregada tem aumentado, mas a procura agregada desacelera, penalizada pelas elevadas taxas de juro e pela diminuição das poupanças pandémicas. As empresas têm cada vez mais dificuldade em aumentarem os preços. Ou seja, o ambiente recessivo de que se fala há quase um ano é confirmado pelo Rendimento Interno Bruto (RIB) real norte-americano, tendo contraído três vezes nos últimos quatro trimestres, ainda que ligeiramente. O RIB real foi um bom preditor da grande recessão de 2008/09. Também a média entre o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) real dos EUA e o do RIB real norte-americano foi negativa em quatro dos últimos cinco trimestres. À medida que a "greedflation” diminui crescem as probabilidades de recessão, apesar dos contributos positivos da tecnologia. Conseguirá, atualmente, a inteligência artificial afastar uma das recessões económicas mais esperadas de sempre?
Economista Sénior do Banco Carregosa