O saldo orçamental das contas públicas portuguesas em 2023 foi positivo de quase 3,2 milhões de euros, representando um excedente orçamental de 1,2%, o maior em democracia. Apesar da conjuntura desfavorável na Zona Euro, sobretudo da economia europeia, a Alemanha, a economia portuguesa poderá continuar a apresentar um crescimento favorável, impulsionada pela desaceleração da inflação, um suporte ao consumo, e pelo PRR, um importante apoio ao investimento. Nos últimos anos, a economia nacional tem sido suportada pelo significativo acréscimo de emprego e pelo contributo robusto do setor turismo. Desde 2013, a população empregada aumentou mais de meio milhão de trabalhadores, tendo superado já superado os 5 milhões. Mais empregados significa não apenas mais receita parafiscal para os cofres da segurança social, mas também um acréscimo de PIB e consequente aumento das receitas fiscais, impulsionadas também pela resiliência do setor do turismo. Esta melhoria suportará as contas públicas portuguesas, contribuindo para excedentes orçamentais e descida do rácio da dívida pública em relação ao PIB nominal. Internamente as variáveis são positivas, mas eventuais fatores exógenos desfavoráveis, sobretudo agravamento das tensões geopolíticas a nível global ou uma evolução económica externa desfavorável, poderão penalizar uma economia nacional caracterizada por um elevado grau de abertura. No final da década de 1960 e início da década de 1970, as contas públicas portuguesas registaram excedentes orçamentais perto dos 2%, tendo sido alcançado no ano de 1970 um saldo orçamental positivo de 2,48%.
Existem dois saldos muito importantes para avaliar a robustez de uma economia e muito falados no seio dos economistas, o orçamental e o das contas externas (balança corrente). Quando ambos os saldos são negativos, é habitual os economistas falarem de défices gémeos e dos seus prejuízos para a economia, sobretudo quando são crónicos. Os EUA têm há mais de 20 anos défices gémeos crónicos, saldo orçamental negativo desde 2002 e défice da balança corrente desde 1982, excetuando o ano de 1991. Em recessão, o saldo orçamental das contas públicas de um governo tende agravar-se, penalizado pela ativação dos estabilizadores automáticos, mas o saldo as contas externas tende a melhorar, explicado pela menor procura de produtos externos, redução das importações e do poder de compra, devido ao aumento da taxa de desemprego e à diminuição dos rendimentos (salários, juros, rendas e lucros). Portugal tem registado défices orçamentais crónicos desde 1974, excetuando 2019 e 2023, mas saldos negativos das contas públicas podem não aumentar o rácio da dívida face ao PIB nominal, caso o crescimento económico seja considerável. Por exemplo, um crescimento do PIB nominal de 5% consegue acomodar um défice orçamental de 5% sem aumentar o rácio da dívida. É certo que a dívida pública cresce em termos nominais, ou seja, em termos absolutos, acumulando o défice orçamental de 5%, isto é, receitas fiscais e parafiscais 5% inferiores a todas as despesas públicas acrescidas dos juros pagos pelo total da dívida pública existente (serviço da dívida), mas a dívida pública em termos relativos, ou seja, como percentagem do PIB mantém-se inalterada. Imaginemos que o PIB nominal de uma economia fixou-se em 100 mil milhões de euros em 2022 e a dívida pública atingiu o mesmo montante nesse ano, confirmando um rácio da dívida pública (face ao PIB nominal) de 100%. Entretanto, no ano de 2023 o PIB nominal dessa economia cresceu 5%, alcançando os 105 mil milhões de euros e o défice orçamental das contas públicas desse Estado soberano foi de 5 mil milhões de euros, aumentando a dívida pública nesse montante, sendo agora de 105 mil milhões de euros, mantendo o rácio na mesma em 100%. Se o crescimento do PIB nominal for superior ao défice orçamental, o rácio cai. A dívida pública alemã à volta de 2800 mil milhões de euros é quase 11 vezes superior à dívida portuguesa de 263 mil milhões, mas a germânica representa 65% do seu PIB nominal e a portuguesa 99,1%. Uma eventual dívida de milhões de euros de um rico pode ser menos preocupante que a dívida de um pobre de alguns euros. Tudo depende do património que está por trás dessa dívida.
A balança de bens portuguesa é cronicamente deficitária, mas tem sido compensada na última década por um crescente saldo positivo da balança dos serviços, suportado pelo turismo, contribuindo para uma gradual melhoria da balança comercial (bens e serviços), cujo saldo é positivo desde 2011 na maior parte dos anos. A balança de rendimento primário (salários, juros, rendas e lucros) tem contribuído negativamente, mas o saldo da balança de rendimento secundário (sobretudo remessas dos emigrantes) é positivo e contrabalança o défice primário. Assim, um eventual saldo negativo da balança corrente (bens, serviços, primário e secundário) tem de ser compensado pelas balanças de capitais, destacando-se fundos da União Europeia, e pela balança financeira, ou seja, venda de património nacional ao estrangeiro.