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14 abril 2024 11h15

Como decidir onde investir o reembolso do IRS?

Jornal de Negócios

Ao optar por aplicar o reembolso do IRS no investimento em produtos financeiros, deverá ter em conta que na altura em que recebe este rendimento "extra” os bancos centrais estão a entrar num novo capítulo da política monetária, que poderá ter impacto na sua carteira.


Já está a decorrer a nova campanha de IRS. Depois de entregar a declaração, é tempo de fazer as simulações para saber quanto pode receber (ou não) de reembolso fiscal, um rendimento "extra”, que pode servir para várias finalidades, incluindo investir. Caso seja este o seu caso, saiba que se está prestes a assistir a uma mudança de política monetária dos bancos centrais, que poderá ter impacto na sua carteira, de acordo com os especialistas ouvidos pelo Negócios.


"Uma eventual aceleração do abrandamento da inflação daria margem aos bancos centrais para descerem as suas taxas de juro, contribuindo para um desempenho positivo da dívida soberana”, começa por explicar Paulo Rosa, economista sénior do Banco Carregosa. Entretanto, "se os dados económicos nos EUA se mantiverem robustos, as ações poderão ter um suporte adicional”. Esta sustentação proporcionada por uma economia sólida poderá ainda favorecer "as obrigações emitidas por empresas, que são mais caracterizadas por um maior risco de crédito”, que conseguirão assim "ter um melhor desempenho do que a dívida soberana”, acrescenta Paulo Rosa.


Em março, a inflação na Zona Euro desceu para 2,4%, em termos homólogos, face aos 2,6% contabilizados em fevereiro, segundo a estimativa preliminar do Eurostat. Após a última reunião do Banco Central Europeu (BCE), a presidente da autoridade monetária, Christine Lagarde, insistiu na necessidade de aguardar por mais dados para uma decisão de um primeiro corte de juros, ainda que "alguns membros” se tenham sentido "suficientemente confiantes” para avançar com uma descida.


Nos EUA, o líder da Reserva Federal (Fed) norte-americana, Jerome Powell, também mantém uma mensagem de cautela, esperando por mais informação para tomar uma decisão. Ainda assim, no mercado de "swaps” as apostas são claras: ambos os bancos centrais devem começar a cortar os juros diretores em meados deste ano. Assim, tudo está em aberto.


Por um lado, "se a descida das taxas de juro também for acompanhada por uma recessão económica, [o modelo de] carteira ótima dos últimos três anos” – que foi marcada pela presença de "80% [de ações] e 20% [de dívida] – regressará à habitual e tradicional [composição] de 60% [de ações] e 40% [de dívida]”, antecipa o economista sénior do Banco Carregosa. "Neste cenário, as obrigações tendem a oferecer um desempenho melhor que as ações”, acrescenta.
Por outro lado, "se a economia se mantiver resiliente e o eventual cortes de taxas de juros for apenas pontual, a carteira considerada ótima vai continuar [a apresentar uma composição] superior aos 60%/40% e as ações vão manter um desempenho superior às obrigações” sobretudo do Tesouro, prevê Paulo Rosa.


Também o analista da XTB Vítor Madeira defende a possibilidade de a dívida poder começar a ocupar mais espaço no portefólio dos investidores, "à medida que a inflação se vai aproximando dos níveis desejados”. Assim, "as obrigações podem beneficiar de um contexto de descida das taxas de juro e um menor risco de incumprimento de crédito”, acrescenta Vítor Madeira.


No entanto, tal não significa que o mercado acionista deixe de ser atrativo. "O investimento em ações e ‘exchange traded funds’ (ETF) [que replicam o desempenho dos instrumentos deste mercado] poderá continuar a ser rentável, tendo em conta que não se prevê ,num futuro próximo, a existência de sinais disruptivos na economia”, diz o analista da XTB.


Gestão passiva ou ativa? Faça as contas


Além do desempenho dos ativos há outro fator que deve ter em conta quando escolhe os produtos financeiros em que pretende investir, ou seja, a tolerância ao risco de desvalorização desse mesmo instrumento. Por outras palavras, deve saber qual é o seu perfil de investidor.
"O perfil de investidor tem em conta três variáveis: a tolerância ao risco, as expectativas sobre o retorno do investimento realizado e o horizonte temporal em que se está a investir”. Se pretende saber se é um investidor mais conservador ou com maior apetite pelo risco pode aceder a uma série de questionários disponibilizados por corretoras e bancos.


Assim que já tenha consciência sobre onde prefere investir, está na hora de escolher se é mais propício à gestão ativa ou passiva. O montante que irá receber como reembolso pode ajudar na resposta, já que, por exemplo, caso o Fisco devolva apenas entre mil e dois mil euros "a gestão ativa pode, eventualmente, ser mais cara”, sublinha Paulo Rosa.


Já Vítor Madeira frisa que "a gestão do capital depende de cada um, não havendo um certo ou errado”. A título de exemplo, "se classificarmos a gestão passiva como um investimento em ETF dos principais índices mundiais, então pode ser uma boa gestão. Da mesma forma, podemos optar por investir em certas ações e vendê-las daqui a seis meses e obter uma rentabilidade superior”, explica ainda o analista da XTB.


O peso de ações e dívida no portefólio de investimento vai depender dos cortes de juros e do seu impacto.