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31 outubro 2024 01h20

Impacto económico das eleições nos EUA

Impacto económico das eleições nos EUA

Os principais candidatos às eleições presidenciais dos EUA apresentam propostas económicas distintas. Donald Trump e Kamala Harris têm abordagens diferentes em áreas como impostos, comércio internacional, habitação e benefícios sociais. No que diz respeito aos impostos, Trump pretende manter e expandir as reduções fiscais de 2017 (Tax Cuts and Jobs Act), com novas reduções para empresas, fixando as taxas entre 15% e 20%. Enquanto isso, Harris defende aumentos de impostos para os americanos com rendimentos do trabalho e do capital superiores a 400 mil dólares, além de um aumento dos impostos sobre os ganhos de capital acima de um milhão de dólares. Este plano da candidata democrata visa financiar programas sociais e de infraestrutura. No comércio internacional, Trump propõe aumento de tarifas, incluindo uma tarifa geral de 10% sobre importações e até 60% para produtos chineses. Esta estratégia pode aumentar os preços dos bens de consumo. Harris não planeia novas tarifas, focando-se em negociações comerciais equilibradas para manter a competitividade sem pressionar a inflação. Quanto à habitação, Harris pretende limitar o aumento das receitas e incentivar a construção de habitação económica, enquanto Trump afasta controlo de preços, preferindo promover créditos fiscais para o setor habitacional. Ambos os candidatos apoiam um reforço do crédito fiscal infantil, mas com propostas diferentes. Harris sugere até 6 mil dólares anuais para recém-nascidos, enquanto Trump defende um crédito único de 5 mil dólares por criança. Embora estas medidas possam reduzir a pobreza infantil, representam desafios para o equilíbrio orçamental, podendo agravar o défice, sobretudo a longo prazo. Em suma, Harris centra-se mais no aumento de impostos sobre os rendimentos mais elevados para sustentar programas sociais, enquanto Trump foca-se mais na redução dos impostos e no reforço das tarifas alfandegárias para promover o crescimento interno, apesar do risco de um eventual aumento da inflação.



Quanto aos mercados financeiros e sistema monetário, um governo que tem uma relação construtiva com a Reserva Federal dos EUA, respeitando a sua independência, contribui para a manutenção da inflação controlada, evitando bolhas financeiras nos mercados, fundamental para um crescimento económico sustentável a médio e longo prazo. A melhor perspetiva económica, em geral, ocorre quando o candidato vencedor consegue equilibrar políticas fiscais responsáveis (reduzindo o défice público e promovendo investimentos em infraestrutura e inovação tecnológica) com políticas comerciais de abertura ao mercado externo. A globalização é mais favorável ao crescimento económico, sendo também deflacionista.



Os EUA enfrentam saldos orçamentais negativos superiores a 6% do PIB e uma dívida pública de 122% do PIB nominal. O atual crescimento nominal de 5,5% consegue absorver grande parte do défice de 6,3% deste ano de 2024, embora seja incomum observar saldos negativos tão altos em períodos de expansão económica. Prevê-se a continuidade dos défices elevados, independentemente do partido vencedor, impulsionados pelos custos associados a uma população envelhecida, especialmente em cuidados de saúde, e pelo aumento do serviço da dívida (juros). Além disso, uma eventual desaceleração económica, ou mesmo uma recessão, agravaria ainda mais o saldo orçamental negativo, provavelmente acima dos 10%, com menores receitas e maiores despesas decorrentes dos estabilizadores automáticos.



Segundo o Congressional Budget Office, a dívida pública em mãos do público, 28,5 biliões de dólares, poderá aumentar de 99,5% para 125% do PIB até 2035. Num cenário de poder dividido, onde a Casa Branca é controlada por um partido e o Congresso por outro, a dívida deverá subir acima dos 125%, mas, se um partido dominar ambos os poderes, o aumento será mais acentuado. O Comité para um Orçamento Federal Responsável estima que, se Harris implementar as suas promessas, a dívida possa chegar a 133% do PIB até 2035, enquanto, com Trump, a dívida poderia atingir 142%, dada a redução das receitas fiscais. Em 2024, a despesa com juros foi de 1,16 biliões de dólares (882 mil milhões líquidos), apenas superada pelas rubricas saúde e segurança social. Enquanto o crescimento nominal do PIB for superior às taxas de juro de longo prazo, o risco permanece controlado. No ano fiscal de 2024, a taxa média de juros da dívida pública dos EUA foi de 3,32%, inferior ao crescimento nominal do PIB de 6,6% em 2023. Controlo do défice fiscal e da inflação, inovação e competitividade tecnológica, e melhorias nos setores de educação e saúde são essenciais para uma economia globalmente robusta e competitiva a longo prazo. Uma administração americana que promova estabilidade comercial e segurança energética beneficiará a Europa, enquanto políticas protecionistas tendem a dificultar o comércio transatlântico e a penalizar o crescimento económico europeu.



PAULO MONTEIRO ROSA
Economista Sénior do Banco Carregosa