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Os desafios e as incertezas económicas da vitória de Trump
A reação do mercado à vitória republicana sugere que Trump garantirá um crescimento mais rápido nos EUA, mas as contas públicas ameaçam
A vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos EUA e a reconquista do controlo do Senado pelo Partido Republicano, estando também perto de vencer a Câmara dos Representantes, impulsionou os índices acionistas americanos para máximos históricos, alicerçados nas expectativas de novos estímulos fiscais, fortalecendo igualmente o dólar. No entanto, as Bolsas europeias e chinesas recuaram, receando a política protecionista de Trump. As Obrigações do Tesouro americano também foram penalizadas, com os investidores a temerem um agravamento do défice orçamental e um novo impulso inflacionista, causado pelo aumento dos preços dos bens e serviços ditado pelo protecionismo.
A reação do mercado à vitória republicana sugere que Trump garantirá um crescimento mais rápido nos EUA, enquanto o resto do mundo enfrentará dificuldades para acompanhar. Contudo, o cenário otimista pode ser ameaçado pelas contas públicas. No ano fiscal de 2024, o défice orçamental atingiu 6,3%, e uma redução de impostos pode agravar ainda mais o saldo negativo, mantendo altas as taxas de juro de longo prazo, sobretudo os rendimentos das obrigações soberanas dos EUA, representando um cabal entrave ao crescimento. A yield do Tesouro dos EUA a 10 anos é atualmente de quase 4,5%, enquanto em 2016 era de apenas 2%.
Parafraseando Frédéric Bastiat, "há aquilo que se vê e aquilo que não se vê”. Recuando ao primeiro mandato de Trump (2017-2020), detalhes hoje despercebidos podem ser cruciais para antecipar a evolução económica dos três grandes blocos — EUA, Europa e China — nos próximos anos. Mark Twain afirmou que "a história nunca se repete, mas muitas vezes rima”, e essa perspetiva é relevante. Durante aquele período, apesar da retórica protecionista e tarifas adicionais, a globalização não reverteu, como evidenciam dados do "CPB World Trade Monitor”, que mostram recuos no comércio internacional apenas em períodos de recessão. O peso das trocas comerciais dos EUA no seu PIB nominal manteve-se em 26% de 2017 a 2020 e os défices comerciais em 3% do PIB, evidenciando uma interação económica ‘normal’ e não isolacionista. Vale a pena relembrar que as principais empresas mundiais são americanas, tendo ramificações e interesses globais.
Muitos temem que um controlo total dos republicanos sobre a Administração e o Congresso seja prejudicial. Em 2016, Trump tinha uma equipa inexperiente, mas hoje é mais robusta e profissional. Além disso, o Partido Republicano e a democracia dos EUA possuem freios e contrapesos capazes de impedirem políticas económicas irresponsáveis. E, apesar de uma eventual equipa mais capacitada, os saldos negativos orçamentais são mais elevados, encurtando a margem para políticas ainda mais expansionistas.
Em novembro de 2016, o rácio da dívida pública era de 104% do PIB nominal, enquanto hoje é de 122%, e o défice orçamental subiu de 3,1% para 6,3%. Além disso, os EUA nunca dependeram tanto de financiamento externo como agora. A poupança líquida das famílias, empresas e Governo é negativa desde o primeiro trimestre de 2023, algo inédito em mais de 75 anos, excetuando a Grande Recessão de 2008/2009 e o segundo trimestre de 2020. Esta situação foi compensada pelo aumento da poupança líquida de investidores estrangeiros com rendimentos em dólares e pela valorização do património líquido dos EUA, impulsionado pelo boom da inteligência artificial.
Diante dos défices comerciais crescentes, é provável que os dólares ganhos por estrangeiros continuem a ser investidos em ativos dos EUA, mas as ações precisam de continuar a valorizar para atraírem os investidores. Todavia, o S&P 500 já valorizou 40% nos últimos 12 meses!
Quanto às Obrigações do Tesouro, a questão é qual o prémio que os estrangeiros exigirão para compensar o risco de um Governo potencialmente hostil e contas públicas desequilibradas. Uma yield a 10 anos acima dos 5% poderia redundar em recessão. Porém, um país dependente de financiamento externo não se pode dar ao luxo de ter um Governo hostil aos investidores.
O Partido Republicano e a democracia dos EUA possuem freios e contrapesos capazes de impedirem políticas económicas irresponsáveis
PAULO MONTEIRO ROSA
Professor e economista sénior do Banco Carregosa