Voltar
14 novembro 2024 13h30
Fonte: Eco Magazine

Petróleo e gás rendem mais que o “verde". Mas há pressão para a transição

Petróleo e gás rendem mais que o “verde". Mas há pressão para a transição

As empresas do setor do petróleo e gás não estão a investir tanto na transição energética como é necessário para travar o aquecimento global.

 

 

O retorno dos projetos de baixas emissões ainda não é o mais atrativo.

 

 

A indústria do petróleo e gás é responsável por apenas 1% do investimento em energia limpa a nível global. "Uma coligação mais alargada [na indústria], com objetivos muito mais ambiciosos, é necessária", afirma a Agência Internacional de Energia (AIE). No entanto, o retorno financeiro dos projetos de combustíveis fósseis é, ainda, superior aos de baixo carbono.

 

 

"De momento, os projetos tradicionais de petróleo e gás têm retornos mais elevados do que os investimentos de baixo carbono. Contudo, os negócios têm interesse em diversificar incluindo uma proporção cada vez maior de baixo carbono, uma vez que a transição energética deverá resultar em crescentes pressões regulatórias e de mercado sobre os hidrocarbonetos”, escreve Gabor Petroczi, diretor de recursosnaturais e matérias-primas na Fitch Ratings. A pressão é exercida também tendo em conta as metas de neutralidade carbónica avançadas pelos governos e outras entidades.

 

 

Um relatório da Agência Internacional de Energia, de novembro de 2023, aponta que os projetos de petróleo e gás dão origem a retornos sobre o investimento "ligeiramente mais elevados” que os associados às renováveis, com o senão destes serem "menos estáveis". Entre 2010 e 2022, o retorno desta indústria poluente oscilou, em média, entre 6 e 9%, enquanto os projetos de energia limpa entregaram retornos médios de 6%, informa o relatório "A Transição para a Neutralidade Carbónica da Indústria de Petróleo e Gás”. Petrolíferas como a Shell e a BP apontam para futuras rentabilidades dos seus investimentos em renováveis entre os 6 a 8%. já a TotalEnergies estima atingir os 12% em 2028, segundo dados da Bloomberg NEF.

 

 

As petrolíferas não só "deveriam fazer mais pela transição energética”, como também "podem fazê-lo de forma mais rápida e eficaz, dado o seu poderfinanceiro, tecnológico e operacional”, considera o Banco Carregosa. Porém, o economista chefe do banco, Paulo Rosa, concede que as petrolíferas "podem ser confrontadas com custos mais elevados e margens de lucro mais baixas".

 

 

O contexto é de facto de transição. "O momentum nas energias limpas continua forte o suficiente para levar a um pico na procura por cada um dos combustíveis fósseis até 2030”, prevê a AIE num relatório de outubro, o "World Energy Outlook 2024". Em paralelo, a procura por petróleo deverá desacelerar já em 2024 e 2025, em comparação com os anos pós-pandemia (2022 e 2023), sobretudo devido à queda verificada na China, que está a virar-se para a eletrificação.

 

 

Investimento ainda aquém

 

 

Apesar de, pelas contas da AIE, ainda se justificar o investimento no setor do petróleo e gás, os 800 mil milhões de dólares que são investidos atualmente a cada ano são o dobro do requerido para dar resposta à procura em 2030, respeitando o objetivo do Acordo de Paris de não ultrapassar um aquecimento global de 1,5 graus centígrados face ao período pré-industrial. As emissões relacionadas com o petróleo e o gás têm de reduzir mais de 60% até 2030 de forma a manter vivo este objetivo.

 

 

Na ótica da Fitch Ratings, a Shell, a Eni, a TotalEnergies e a BP têm as estratégias "mais abrangentes" para endereçar os desafios da transição energética. Isto porque têm "claramente delineadas" metas de curto prazo, acompanhadas de estratégias de longo prazo, além de detalhes "razoáveis” de como pretendem alcançar os objetivos. A TotalEnergies sobressai também, do ponto de vista da Bloomberg NEF, tendo em conta os planos de expansão do portefólio renovável. Esta pretende atingir a neutralidade carbónica em 2050, com 75% do m/x energético assente em energias de baixo carbono, conjugado com tecnologias de captura de carbono e compensação de emissões. Mas tem objetivos definidos já para 2025, como a redução das emissões de âmbito 1 e 2 (relacionadas com a operação e consumos da empresa) em 15% face a 2015, uma quebra que deverá ser de 40% até 2030.

 

 

Da captura de carbono aos combustíveis renováveis, as novas apostas

 

 

"Faz sentido investir numa combinação de tecnologias renováveis e complementares que se alinhem com as suas capacidades técnicas existentes e infraestrutura”, considera Paulo Rosa, pelo que as melhores opções dependem do negócio de cada empresa. No entanto, o economista chefe do Carregosa aponta várias possibilidades: o hidrogénio verde, a energia solar, os combustíveis sustentáveis de aviação (SAF) e a energia eólica são "oportunidades", enquanto a captura de carbono "é um investimento estratégico que pode ajudar a mitigar o impacto ambiental das suas operações durante a transição energética".

 

 

A Bloomberg NEF identifica como os "queridos da indústria” precisamente a captura de carbono, os combustíveis renováveis e materiais avançados — com propriedades que lhes conferem um desempenho superior em relação aos materiais convencionais, já que os hidrocarbonetos são usados, também, no fabrico de plástico. A mesma fonte estima que 53% do investimento de baixo carbono feito em 2023 inseriu-se no segmento de "moléculas limpas”.

 

 

ANA BATALHA OLIVEIRA