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30 março 2023 09h15

Solidez do Deutsche Bank afasta receios de nova crise

Solidez do Deutsche Bank afasta receios de nova crise
Após o Credit Suisse, o "stress” virou-se para o Deutsche Bank. Este movimento foi irracional ou tem fundamento? Os analistas sublinham que o banco é lucrativo e chave para a economia europeia. Porém, os riscos percecionados pelo mercado subiram.

O banco alemão tem estado nos últimos dias no centro do debate, com as ações a desvalorizarem cerca de 15% na sexta-feira, naquilo que o economista do Banco Carregosa Paulo Rosa classifica como um "teste à fidúcia e resiliência bancária”. Na altura, os analistas do Citigroup classificaram o movimento de "pânico irracional” e o efeito psicológico dos revezes na banca foi visto como razão consensual.

Desde a queda do banco em bolsa, os títulos já recuperaram 7%, em parte porque os reguladores de mercado disseram que afinal o movimento pode ter sido causado por uma única aposta em "credit default swap” (CDS) do Deutsche Bank, que pode ter acontecido por medo que eliminassem obrigações subordinadas (não seniores).

"O facto de parte das obrigações subordinadas (não seniores) do Credit Suisse terem sido eliminadas, levando a perda total dos montantes pelos seus detentores, poderá ter feito com que alguém tivesse sentido receio que acontecesse o mesmo com as obrigações júnior do banco alemão”, diz o presidente da IMF - Informação de Mercados Financeiros, Filipe Garcia.

Porque é que o medo de perder se reflete nos CDS? "Um investidor que tenha em sua posse obrigações de um emitente, neste caso do Deutsche Bank, pode sentir receio que a situação se deteriore e que a obrigação não seja reembolsada e, para se cobrir desse risco, compra um CDS. Funciona como uma apólice de seguro”, explica Filipe Garcia, acrescentando que "os CDS costumam ser um bom barómetro do risco apercebido pelo mercado”.

A referida aposta rondou os cinco milhões de euros e visou os CDS associados à dívida júnior (dívida de curto prazo, neste caso a um ano) do Deutsche Bank, avançaram à Bloomberg fontes próximas do assunto – que dizem que os reguladores falaram com os participantes de mercado sobre esta transação.

Contudo, não está ainda claro quem fez a aposta ou por que motivo a fez, referiu a Bloomberg, citando as mesmas fontes. E também não há, até ao momento, provas de que a negociação tenha sido feita de forma desonesta.

O que se sabe é que a aposta levou estes ativos – que funcionam como uma espécie de seguro – a atingirem um máximo histórico nos 196,9 euros, desencadeando, desta maneira, uma queda acentuada por se tratar de "um mercado pouco líquido”, diz Paulo Rosa, economista do Banco Carregosa.

"Sendo um mercado relativamente pouco líquido, o preço terá disparado e contaminado os CDS da dívida sénior, assustando o mercado, que vendeu ações”, concorda Filipe Garcia. Os níveis dos CDS a cinco anos do banco alemão já aliviaram, embora a cotação ainda esteja em a 185,5 euros, "o que demonstra que os receios ainda persistem”, refere.

Caso difere do Credit Suisse

Apesar deste indicador de risco se manter em níveis elevados, o economista do IMF sublinha que estes "estão muito abaixo do que cotavam os do Credit Suisse há duas semanas”. O preço do CDS chegou a atingir 997,2 euros.

O risco percecionado pelo mercado é maior, mas "há que ter em consideração as condições de partida e o Deutsche Bank não parece reunir as condições de base para justificar um colapso”, indica. Também Paulo Rosa pensa que o termo é "exagerado”, uma vez que "os rácios de capital estão normais, estão bem capitalizados, é rentável e tiveram lucros”.

Quatro anos após o anúncio de um plano de reestruturação, o banco alemão obteve, em 2022, um lucro de 5,03 mil milhões de euros, o mais elevado em 15 anos, enquanto o rácio de capital CET1 situou-se em 13,4%, acima do objetivo mínimo do banco de 12,5%.

O gestor do BIG - Banco de Investimento Global Stevan Santos afasta igualmente a possibilidade de colapso, uma vez que "se o Credit Suisse teve ajuda, o Deutsche Bank ainda mais por ser um banco chave na economia europeia”, remata. Além disso, "após a última crise financeira global, foram implementados mecanismos regulatórios de natureza prudencial, que tornam o setor financeiro mais robusto e resiliente”, diz ainda o presidente da Maxyield Carlos Rodrigues.