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05 abril 2024 08h00

Subida da gasolina e inflação nos EUA

Vida Económica

Desde outubro que a inflação subjacente nos EUA medida pelo índice de preços no consumidor, que exclui os itens voláteis, energia e alimentação, tem-se mantido muito estável à volta dos 4%, tendo desacelerado muito ligeiramente de 4,1% para 3,8%, corroborando as perspetivas de há um ou dois anos de que seria relativamente fácil à Reserva Federal norte-americana conseguir uma descida da inflação dos 8% para os 4%, mas seria mais difícil ter sucesso num abrandamento da inflação de 4% para 2%, o objetivo de estabilidade de preços do banco central dos EUA. No entanto, esta desaceleração de 8% para 4% parece claramente muito pouco perante uma subida das taxas de juro da Fed de 0,25% para 5,50%, em apenas 16 meses, e um quantitative tightening iniciado em junho de 2022 que contraiu o balanço do banco central dos EUA em 15%, a par de uma descida da cotação do barril de petróleo dos 120 dólares em maio de 2022 para os 70 dólares no final de 2023. A relativa robustez da economia norte-americana, sobretudo alicerçada num mercado de trabalho resiliente, num bom momento da inteligência artificial e numa política orçamental expansionista, ameaça manter a inflação relativamente elevada, sendo um entrave à estabilidade dos preços nos 2%. A subida do preço do barril de petróleo desde o início de fevereiro, de 70 dólares para 85 dólares, promete suportar também a inflação em níveis indesejáveis, bem acima do objetivo da Fed.

 

Os rendimentos das obrigações do tesouro dos EUA sobem quase 50 pontos em 2024, mais precisamente de 4,25% para 4,73% a yield a 2 anos e de 3,86% para 4,37% a yield a 10 anos. Assim, as obrigações soberanas norteamericanas descem desde o início do ano, nomeadamente o ETF TLT (iShares 20+ Year Treasury Bond ETF) perde 6%. Esta subida dos rendimentos do tesouro é um reflexo da relativa robustez da economia dos EUA e das perspetivas de inflação relativamente elevada, corroborando o ‘higher for longer’ (taxas de juro mais elevadas por mais tempo). Entretanto, a cotação do ouro regista máximos históricos, impulsionada pelas tensões geopolíticas e pelas compras dos bancos centrais globais, à medida que a principal moeda fiduciária do mundo perde atratividade, ou seja, um dólar inflacionado afasta os investidores. Também eventuais compras de ouro por parte de investidores chineses podem justificar o aumento de procura do metal amarelo, à falta de alternativas, após o colapso do imobiliário e a fragilidade do mercado acionista chinês.

 

É certo que taxas de juro elevadas retiram atratividade ao ouro (um ativo que não gera rendimento, valendo apenas aquilo que dão por ele), mas a inflação ainda elevada e persistente à volta dos 4% nos EUA distancia os investidores do dólar, desempenhando o ouro um cabal ativo de refúgio, justificando também a rara correlação negativa há dois anos entre o rácio cobre/ouro e o rendimento do tesouro dos EUA a 10 anos. Habitualmente, existe uma correlação positiva entre o rácio cobre/ouro e a yield do tesouro norte-americano a 10 anos. No entanto, desde março de 2022 o rácio cobre/ ouro tem descido, indiciando desaceleração económica, ou seja, menor procura de cobre, um metal industrial, e mais procura de ouro, este último um porto seguro perante recessões, mas o rendimento do tesouro a 10 ano subiu perto de 240 pontos base de 2% para quase 4,40%, sinalizando crescimento económico.

 

Qual estará certo? Normalmente, o rácio cobre/ouro tende a antecipar entre 6 a12 meses a evolução dos rendimentos do tesouro. Então uma recessão ocorrerá em 2025? O futuro o dirá… Mas é preferível uma economia mais forte com menos cortes nas taxas de juro do que uma economia mais fraca com mais cortes nas taxas. Entretanto, a alta do preço do barril de petróleo ainda não se repercutiu no índice de preços no consumidor dos EUA.