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Subida das bolsas impulsiona economia
Fecho da bolsa a Dados preliminares apontam para um crescimento económico resiliente nos EUA de 2,8% no terceiro trimestre. Nos últimos 12 meses, o PIB cresceu 2,7%, enquanto o S&P 500 valorizou 35%.
A economia dos EUA mantém-se relativamente robusta, apesar da persistência de taxas de juro elevadas há dois anos. Permanecem restritivas tanto as taxas de juro de longo prazo, como os rendimentos das obrigações do tesouro dos EUA a 10 anos (4,30%) e a 2 anos (4,20%), quanto as taxas de curto prazo, como a Fed Funds Rate, entre 4,75% e 5%. Entre o final de 2009 e 2021, a yield soberana dos EUA a 2 anos cotou consistentemente abaixo de 1%, com exceção dos períodos entre 2017 e 2019, nos quais os valores médios oscilaram entre 1,50% e 2,50%. Apesar deste contexto de juros elevados, o mercado acionista dos EUA atravessa um momento de forte valorização, impulsionado pela Inteligência Artificial (IA), atingindo sucessivos máximos históricos. Desde o final de outubro do ano passado, o S&P 500 ganhou mais de 40%.
Alguns indicadores preditivos da evolução económica, estatisticamente relevantes para antecipar recessões, apontam para uma possível contração económica já há algum tempo. Entre estes, destacam-se a regra de Sahm, os indicadores avançados da economia (Leading Economic Index, LEI) e a curva de rendimento das obrigações do Tesouro dos EUA, embora atualmente já não apresente uma inclinação totalmente negativa, assumindo agora um formato mais próximo de um "U”. No entanto, os mercados acionistas mantêm-se fortes, registando máximos consecutivos, impulsionando a economia. O crescimento económico também tem sido suportado pela política orçamental expansionista dos EUA, marcada por défices fiscais consecutivos. Em 2024, as contas públicas registaram um saldo negativo de 6,3%.
A subida dos índices acionistas, como o S&P 500, tem sustentado a economia dos EUA de várias formas, tanto direta quanto indiretamente. Nos últimos 12 meses, a valorização significativa dos mercados de ações teve impactos positivos na economia via efeito riqueza, proporcionando às famílias que investem em ações diretamente ou através de fundos de pensões ou fundos de investimento, maior segurança financeira, estimulando o consumo de bens duradouros (como carros e casas) e não duradouros (como lazer). O consumo é a componente mais importante do PIB dos EUA, pesando 70% no PIB. Mas não é apenas a confiança dos consumidores, há também o aumento dos investimentos das empresas em novas infraestruturas, inovação, ou maior capacidade produtiva, impulsionando o crescimento económico. Favorece igualmente o financiamento via emissão de ações (quando os preços das ações sobem, o custo do capital para as empresas diminui), e propicia fusões e aquisições. As empresas beneficiam ainda de uma maior capacidade de endividamento, ditada pelo aumento do valor de mercado das empresas, permitindo obter empréstimos em condições mais favoráveis. Este ciclo promove a criação de empregos e aumenta as receitas fiscais, impedindo um défice orçamental ainda mais elevado.
Em suma, o efeito riqueza impulsiona sobretudo a confiança dos consumidores e das empresas, facilita o acesso mais barato ao capital, suportando o consumo, o investimento e, consequentemente, o crescimento económico. Mas este efeito riqueza pode ter um lado menos positivo, se não for equilibrado, pois quando as pessoas se sentem mais ricas podem abandonar o mercado de trabalho mais cedo, reduzindo a força de trabalho e a capacidade produtiva do país (caso a inovação não compense), culminando na queda da produção, aumento da inflação e desequilíbrios económicos, revertendo um círculo virtuoso num nefasto círculo vicioso. Além disso, caso o investimento significativo em IA não tiver o retorno esperado, as cotações das ações podem sofrer uma considerável correção.
Paulo Monteiro Rosa
Economista sénior do Banco Carregosa