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10 janeiro 2025 08h20
Fonte: Negócios

Tesouro capta um quinto da dívida que precisa para este ano

Tesouro capta um quinto da dívida que precisa para este ano

Obrigações

 

 

Numa semana em que os soberanos europeus estão a inundar o mercado de dívida, Portugal conseguiu colocar 4 mil milhões de euros com um juro de 3%. A procura foi seis vezes superior.

 

 

A estreia de Portugal, em 2025, no mercado de dívida serviu para fechar um quinto do financiamento necessário para o ano, que deverá situar-se em 20,5 mil milhões de euros. Por via de uma venda sindicada de obrigações do Tesouro a 10 anos, a Agência de Gestão de Tesouraria e da Dívida Pública – IGCP emitiu 4 mil milhões de euros, com um juro de 3%. Mas os investidores estavam dispostos a emprestar seis vezes mais ao país.

 

 

"A operação decorreu dentro do esperado. O mercado esperava um ‘spread’ final dois pontos mais largo. Ficou aquém, o que do ponto de vista do emitente é positivo. Foi uma operação que certifica que as condições [de financiamento de Portugal] são positivas”, diz ao Negócios Vasco Teles, gestor de obrigações europeias da GNB Gestão de Activos.

 

 

A taxa de cupão fixou-se em 3%, correspondente a uma "yield” de 3,074%, o que representa um prémio de 55 pontos-base face à taxa "mid swap” do euro a 10 anos, de acordo com os dados finais divulgados pelo IGCP. Na abertura dos livros de ordens, o cupão apontava para um diferencial de 57 pontos-base acima da taxa de referência a dez anos (2,5279%), tendo esse valor acabado por descer muito ligeiramente em resposta à procura dos investidores.

 

 

O livro de ordens acabou por superar os 25 mil milhões de euros, pelo que a procura foi assim 6,25 vezes acima da oferta de obrigações (de uma nova linha "benchmark” com maturidade a 15 de junho de 2035), incluindo dos "joint lead managers”. Em termos comparativos, Itália registou, numa venda sindicada também esta semana, uma procura 11 vezes superior à oferta de 13 mil milhões. Por via de leilões - o que tem impacto nas ordens -, a procura por dívida de Espanha (que emitiu 20 mil milhões) e de França (que captou 7 mil milhões) ficou em ambos os casos abaixo das duas vezes a oferta. "Os últimos meses foram difíceis e o mercado esteve a criar espaço para esta janela de financiamento que é sempre muito concorrida nesta altura, por razões sazonais”, indica Teles.

 

 

Investidores mostram confiança

 

 

"A transação foi atribuída a uma vasta gama de contas de elevada qualidade”, diz o IGCP, em comunicado, apontando uma distribuição geográfica "diversificada”, com uma grande participação de investidores sediados no Reino Unido (28,3%), bem como de França, Itália e Espanha (19,2%). Os investidores portugueses ficaram com 16,2% do total. Por tipo de investidor, a procura proveio predominantemente de gestores de fundos (42,5%), bem como de bancos e bancos privados (23%), enquanto os bancos centrais e outras instituições oficiais representaram 15,5%.

 

 

"A forte procura mostra a confiança que os investidores têm na dívida nacional, o baixo ‘spread’ que temos versus a Alemanha tem permitido fazer estas emissões com uma ‘yield’ relativamente baixa”, considera Filipe Silva, diretor de investimentos do Banco Carregosa, lembrando que, no início de 2024, o "spread” foi de 40 pontos-base, quando os "swap” a 10 anos estavam nos 2,54%.

 

 

No último leilão do ano passado de obrigações do Tesouro a 10 anos, realizado em meados de novembro, a República financiou-se em 577 milhões de euros com um juro de 2,824%. Já em mercado secundário, os juros da dívida portuguesa com maturidade a 10 anos, agravaram-se 0,8 pontos para 2,991%, depois de terem negociado durante o dia acima dos 3%, no valor mais elevado desde 27 de julho de 2024, em linha com a tendência de agravamento no resto da Europa.

 

 

Uma venda sindicada é habitualmente mais cara dado o formato da operação, mas permite ao país captar montantes mais elevados de financiamento. Com o Banco Central Europeu (BCE) a cortar as suas taxas de referência e o contágio das crises políticas na Zona Euro a manter-se contido, os analistas antecipam que este ano o Tesouro beneficie de condições mais favoráveis do que no ano passado e que possa mesmo ser visto como "refúgio”.

 

 

A agência liderada por Miguel Martín indicou, em comunicado, que a operação beneficiou da trajetória de subida do rating nacional ao longo de 2024, com a dívida portuguesa a ser classificada na categoria A pela Standard and Poor’s, DBRS, Fitch e Moody’s. As melhorias permitiram ao país regressar ao FTSE Russel World Government Bonds Index, o índice de referência mundial de dívida com rating A.