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Validação da bitcoin puxa cripto para mercado de biliões
Para Diogo Mónica, CEO da Anchorage, a decisão da SEC peca por tardia e traz "validação brutal" ao mercado cripto.
Depois de uma primeira falsa partida, a Securities and Exchange Commission (SEC) acabou mesmo por aprovar a criação do primeiro ETF (Exchanged-Traded Funds) de bitcoin . A decisão histórica foi amplamente celebrada pelos investidores de criptoativos, que veem nesta aprovação uma validação "brutal” por parte do regulador do mercado norte-americano e a abertura ao investimento de milhões de milhões de dólares. Ainda assim, os especialistas deixam alertas para o risco do investimento.
Os ETF são fundos de investimento que podem ser negociados na bolsa de valores , seguindo o desempenho de ativos como ações, matérias primeiras ou obrigações, e agora, nos EUA, de bitcoin.
Gary Gensler, o presidente do regulador norte-americano, que há sete anos vinha a negar a cotação de um fundo de bitcoin, anunciou a aprovação da negociação 11 ETF de bitcoin, fundos cotados em bolsa e que dão exposição à evolução dos preços do ativo. Com esta aprovação, Gensler traz a criptomoeda [regulada como uma commodity nos EUA] para o mercado regulado – ETF têm que seguir as regras de mercado – e dá um sinal de força há muito aguardado pelo setor, mas não sem antes deixar alertas aos investidores.
"Embora tenhamos aprovado hoje a cotação e negociação de certas ações ETP [Exchange-traded Products] de bitcoin à vista, não aprovamos nem endossamos a bitcoin. Os investidores devem permanecer cautelosos sobre a miríade de riscos associados à bitcoin e aos produtos cujo valor está vinculado aos cripto ”, avisou o líder do regulador dos EUA, em comunicado.
Embora tenhamos aprovado hoje a cotação e negociação de certas ações ETP de bitcoin à vista, não aprovamos nem endossamos a bitcoin. Os investidores devem permanecer cautelosos sobre a miríade de riscos associados à bitcoin e aos produtos cujo valor está vinculado aos cripto.
Os preços das criptomoedas reagiram em alta a este anúncio, com a bitcoin a superar os 47.000 dólares , uma cotação que ainda assim está abaixo dos máximos de 69.000 dólares alcançados em novembro de 2021. A criptomoeda, criada há já 15 anos, tem atualmente uma capitalização de cerca de 900 mil milhões de dólares.
Mas a bitcoin não será a única beneficiada pelo aval da SEC. Os especialistas são unânimes em considerar que, após a aprovação de ETF de bitcoin, outras moedas digitais se seguirão, num verdadeiro "game-changer” para um mercado de criptoativos avaliado em 1,7 biliões de dólares.
"Há uma validação brutal do mercado de criptoativos” , afirma Diogo Mónica, ao ECO, mostrando "muito feliz” com uma decisão que diz ser tardia, após "uma luta de sete anos”. Para o presidente e co-fundador do Anchorage Digital, o primeiro banco de criptoativos regulado nos Estados Unidos. Para Mónica, esta aprovação "marca o fim das criptomoedas como uma classe de ativos emergentes”, trazendo estes ativos para os portefefólios tradicionais e abrindo a porta ao investimento de milhões de milhões.
Há uma validação brutal do mercado de criptoativos. É um novo mercado dentro dos mercados tradicionais.
O facto de passarem a ser transacionados no mercado regulado e de estarem disponíveis nas principais corretoras " vai aumentar a acessibilidade de forma brutal. Vai passar a ser um ativo tradicional ”, justifica.
Para o mesmo responsável, a decisão comunicada esta quarta-feira vem "aumentar a distribuição, a confiança e traz a validação” dos criptoativos, institucionalizando este mercado.
Os 11 ETF aprovados pela SEC incluem fundos das maiores gestoras de ativos do mundo, como a BlackRock, Invesco, Fidelity ou Franklin Templeton. Nomes que dão também maior confiança aos investidores. " É um novo mercado dentro dos mercados tradicionais ”, sintetiza Diogo Mónica, que vê uma enorme oportunidade não só para a bitcoin, mas especialmente para outras criptomoedas.
"A seguir vai haver ETF de ethereum, solana, depois das Top 10 criptomoedas, de índices, etc”, antecipa, acrescentando que a curto prazo os preços das moedas digitais podem já ter descontado esta decisão da SEC, mas a médio e longo prazo "vai haver um aumento de preço” dos criptoativos.
Segundo Henrique Tomé, analista da XTB, " espera-se que a entrada de novo capital aumente consideravelmente no mercado cripto ”, adiantando que "a Bloomberg referiu recentemente que a introdução dos ETF pode trazer a entrada de mais de 10 mil milhões de dólares ao longo da primeira semana, sendo que o impacto positivo não deve ser visto apenas a curto prazo, mas sim a longo prazo”.
João Queiroz, head of trading do Banco Carregosa, concorda que o lançamento destes produtos vai "permitir, o acesso dos segmentos institucional e de investidores de perfil mais conservador ”, assim como aumentar a liquidez e trazer maior competitividade entre as diversas estruturas de negociação como bolsas eletrónicas e os fundos listados em bolsas”.
"Esta aprovação abre caminho para um maior desenvolvimento e diversificação de produtos financeiros relacionados a criptoativos, potencialmente incluindo outros fundos?, o que incrementa a diversificação e as opções do mercado”, acrescenta João Queiroz.
A introdução dos ETF pode trazer a entrada de mais de 10 mil milhões de dólares ao longo da primeira semana, sendo que o impacto positivo não deve ser visto apenas a curto prazo, mas sim a longo prazo.
ETF não "protege” investidores de volatilidade do ativo
Também Filipe Garcia, economista e presidente da consultora IMF-Informação de Mercados Financeiro realça que este " é um passo importante porque legitima ainda mais os criptoativos como classe de ativos, facilitando o investimento ao torná-lo acessível a uma maior quantidade de investidores norte-americanos e internacionais e com mais proteção regulatória ”.
O especialista alerta, porém, que " todo o processo está a gerar uma notoriedade aos criptoativos e para muitos investidores, ver a SEC a aprovar os ETF significa que a SEC também está a legitimar o investimento em bitcoin, o que não é bem a mesma coisa ”. No próprio comunicado emitido pela SEC ontem, o próprio regulador avisa que a bitcoin é um ativo "especulativo” e volátil.
Todo o processo está a gerar uma notoriedade aos criptoativos e para muitos investidores, ver a SEC a aprovar os ETF significa que a SEC também está a legitimar o investimento em bitcoin, o que não é bem a mesma coisa.
"O facto de ser um ETF regulado não significa que algo se tenha alterado em relação ao subjacente”, realça Filipe Garcia. "Ou seja, a volatilidade inerente à bitcoin continua e continuará presente e se, por algum motivo, a bitcoin perder totalmente o seu valor, o mesmo acontecerá com o ETF ” e, "em caso de investidores que alavanquem posições, a volatilidade da bitcoin poderá causar sérios dissabores”.
"O facto de um instrumento financeiro estar cotado não significa segurança, devendo os investidores perceberem se estão aptos à volatilidade do ativo ou não”, nota também Pedro Lino. Para o CEO da Optimize, " tendo maior volatilidade, a percentagem do portefólio deve ser menor, por forma a não sofrer um grande impacto caso o Bitcoin tenha uma forte desvalorização”.
Temos assistido à falência de alguns ETF ou ETN e isso demonstra que os investidores devem manter a atenção e respeitar o seu perfil de risco, muitas vezes descurado neste tipo de investimento.
Para Pedro Lino, " o facto de a SEC aprovar um instrumento financeiro, neste caso os ETF, não significa segurança do investimento . Temos assistido à falência de alguns ETF ou ETN e isso demonstra que os investidores devem manter a atenção e respeitar o seu perfil de risco, muitas vezes descurado neste tipo de investimento”.
Ainda que os ETF sejam negociados em mercado regulamentado, eliminando riscos de exposição a corretoras de pouca confiança, os investidores continuam expostos ao risco do próprio ativo. Ou seja, se a bitcoin desvalorizar, o mesmo acontecerá com o ETF.
Estes produtos vão permitir o acesso dos segmentos institucional e de investidores de perfil mais conservador.
"É importante notar que continuam a existir riscos. Os investidores devem ter em consideração que a volatilidade em cripto continua a ser superior do que nos mercados tradicionais”, avisa Henrique Tomé. " É importante que os investidores avaliem se esta nova classe de ativos está enquadrada no seu perfil de investidor e tolerância ao risco ”, acrescenta o analista da XTB .