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30 janeiro 2025 09h00
Fonte: CNN

Vem aí novo corte nas taxas de juro. Boas notícias não devem ficar por aqui mas há "riscos" no horizonte

Vem aí novo corte nas taxas de juro. Boas notícias não devem ficar por aqui mas há "riscos" no horizonte

Os economistas antecipam um corte de 25 pontos base agora e pelo menos outros dois até junho. Podiam ser mais os cortes, mas entre as ameaças do Presidente Trump, a guerra na Ucrânia e dois motores algo gripados na Zona Euro, entende-se a cautela de Lagarde. Ainda assim, e na vida dos portugueses, o ano de 2025 será bom para os que têm crédito à habitação e menos bom para quem pretende investir.

Não é uma surpresa. Aliás, como refere Filipe Garcia, economista e presidente da IMF - Informação de Mercados Financeiros, "surpresa era não acontecer”. Assim, esta quinta-feira o Banco Central Europeu (BCE) deve mesmo fazer cair as taxas de juro, "25 pontos [base], dos atuais 3% para 2,75%”, diz à CNN Filipe Silva, diretor de Investimentos do Banco Carregosa.

Filipe Garcia e Filipe Silva são, pois, da mesma opinião no corte. Uma opinião que é partilhada, aliás, por vários economistas há várias semanas - como revelava ainda a meio de janeiro uma sondagem da Reuters . Economistas que parecem somente discordar num ponto: o números de cortes a fazer ao longo de 2025 pela instituição liderada por Christine Lagarde.

Muitos parecem apontar, e só no primeiro semestre, para um total de quatro cortes - em 2024 foram quatro no total do ano. Uma forma de proteger uma economia da Zona Euro fragilizada pela fragilidade (económica e política) dos "motores” alemão e francês, talvez fragilizada pelas ameaças económicas do novo Presidente norte-americano, uma economia com a inflação a subir, mas ainda sem recessão no horizonte - a política monetária do BCE em 2025 pretende evitar isso mesmo, uma eventual recessão.

"Pelo menos três cortes são já dados como certos para os mercados. Ou seja, pelo menos 75 pontos, até final de junho - um corte agora, outro em março e outro em junho. E, assim, a taxa do BCE atingirá o mínimo neste ciclo de política monetária, ente 2% e 2,25%. É esse o panorama. No trimestre seguinte poderá haver mais algum [corte], mas aí é mais incerto. Arriscaria talvez até mais em outubro, setembro ou outubro”, refere Filipe Garcia.

Por sua vez, Filipe Silva, do Banco Carregosa, diz que é "preciso gerir expectativas” quanto aos cortes, até porque há "mudança de postura” no Banco Central Europeu. "Ou seja, já não deverá anunciar exatamente quais os cortes que fará no futuro, não reagirá à pressão, mas decidirá após analisar os dados num determinado momento. O BCE ganhou essa ‘folga’ por já ter feito a descida das taxas para os 3%. O BCE vai esperar para ver como é que a economia está, como reagirá - porque não nos podemos esquecer que ainda há guerra na Europa, por exemplo. Ainda assim, diversos economistas apostam para três, quatro cortes. Mas lá está: são previsões, vai depender sempre da evolução da economia, evitando [o BCE] a especulação”, explica Filipe Garcia.

Especulativa é, por ora, a chegada do presidente Donald Trump à Casa Branca. As tarifas de pelo menos 10% sobre todos os bens importados ameaçam a Europa e provocam sempre turbulência e aumento de receios nos mercados financeiros. Mas a verdade é que Trump "ainda não implementou propriamente nada”, refere Filipe Garcia, "apesar do seu discurso ser duro”.

"Mas há uma probabilidade de introdução [de medidas], que vai aumentado. E aumentam, assim, os riscos. Não é por acaso que já falou em vários cortes [do BCE nas taxas de juro] e agora se fala em três, no máximo quatro. Este corte [de janeiro] não está relacionado de todo com Trump, já estava mais do que ‘telegrafado’. Mas o BCE terá de ir medindo os riscos das políticas [de Trump], se um risco de desaceleração, de recessão, de inflação. E o protecionismo normalmente tende em gerar uma maior inflação. E com a inflação a aumentar, a probabilidade de termos cortes nas taxas é menor”, diz-nos o presidente da IMF.

Ainda para Garcia, e sendo os EUA para a Zona Euro "o primeiro cliente”, "se houver a questão das tarifas, se houver dificuldades nas exportações para lá, o crescimento é impactado e isso significaria maior propensão para cortes de taxas”. "Portanto, as políticas [de Trump] do ponto de vista das taxas de juro são um bocadinho ambivalentes”, conclui Filipe Garcia.

Já para Filipe Silva, diretor de Investimentos do Banco Carregosa, o impacto de Trump na economia da Zona Euro - o crescimento da economia dos 20 países da moeda única deverá situar-se em 1,0% este ano e 1,2% em 2026 - deve ter em conta a própria América. "É preciso olhar até mais para a história, para o que foi o último mandato dele. No último mandato [de Trump] a economia americana não estava tão endividada - hoje o endividamento é brutal! - e as taxas de juro [americanas] andavam nos 2%, nós [Zona Euro] em 4,5%. Ou seja, a própria margem que ele tem para o que ele quer fazer não é igual à que haveria no passado. Portanto, de muita coisa que ele promete, há algo que não vai concretizar”, augura.

Mas voltando ao corte nas taxas de juro 3% para 2,75%: o que é que isso significa na vida dos portugueses? Os economistas consultados pela CNN optam por diferenciar entre dois tipos de portugueses.

"Eu olho sempre para isto de dois prismas: quem está endividado e quem quer remunerar a liquidez”, explica Filipe Silva, do Banco Carregosa. E concretiza: "Para quem está endividado, e com as taxas de referência a descerem, as pessoas [com crédito à habitação] vão ser beneficiadas. Por outro lado, os que têm poupanças, e pretendem investir o capital, irão receber menos na remuneração”.

Também diferenciando entre quem faz poupanças - "e investe em produtos de poupança” - e aqueles que têm créditos, nomeadamente à habitação, o economista Filipe Garcia antevê bons tempos para os segundos. E não só pelo que aí vem. "Pela forma como é feito o cálculo das prestações, ou seja, como se faz a indexação das prestações, há um efeito de ‘memória’. Ou seja, 2025 reflete a descida das taxas de juros que houve até agora e será um ano benigno, positivo, onde as prestações vão descer para a generalidade das pessoas. Se as taxas de juro continuaram a sofrer cortes, em 2026 podemos ter uma estabilização dessas prestações”, conclui.

Rui Santos