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22 maio 2024 16h15

Semicondutores: como investir

Banco Carregosa

 

À semelhança do petróleo, o mercado dos semicondutores é um jogo geopolítico. Descubra o que ter em conta para investir.

 

A procura por semicondutores aumentou significativamente nos últimos anos. Em 2023, o mercado global de semicondutores estava avaliado em 545 mil milhões de dólares e estima-se que deverá atingir cerca de 1140 mil milhões no prazo de 10 anos, até 2033.

 

 

 

[Fonte: Precedence Research]

 

O otimismo acrescido surge das necessidades e das exigências de performance das novas tecnologias, como a inteligência artificial. Por este motivo, apresentam-se várias oportunidades de investimento especialmente atrativas, não estando isentas de riscos. Descubra qual o ponto de situação atual do mercado de semicondutores, o que tem atraído a atenção dos investidores e o que deverá considerar ao investir. 

 

 

O que são semicondutores?

 

Quando nos referimos a semicondutores estamos a falar de circuitos integrados (CIs) ou chips, à escala nanométrica. Estes componentes altamente especializados fornecem funcionalidades de processamento, armazenamento e transmissão de dados. Por sua vez, os semicondutores sa~o compostos por transistors, dispostos numa camada fina de material semicondutor (os wafers), geralmente feitos de silício. Segundo os dados da SIA (Semiconductor Industry Association), os semicondutores ocupam o quarto lugar na lista dos produtos mais transacionados no mundo. 

 

A cadeia de produc¸a~o global da indu´stria de semicondutores e´ altamente especializada, com players de diferentes regio~es do globo, existindo a necessidade de uma relac¸a~o simbio´tica entre os pai´ses intervenientes, com livre transac¸a~o de materiais, equipamento, propriedade intelectual, e produtos interme´dios. Um dos maiores riscos de longo prazo para a indu´stria e´ precisamente a continuidade destas cadeias em certas regio~es do globo.  Segundo as estimativas da SIA, a instabilidade ao longo da cadeia de valor poderia originar um aumento de 35% a 65% do prec¸o dos semicondutores, impactando o custo de todos os dispositivos eletro´nicos. 

 

Numa perspetiva económica geral, é possível classificar as indústrias como intensivas em R&D (Research and development) ou em CapEx (CAPital EXpenditure). Os dados apresentados no gráfico abaixo, relativos a 2019, mostram que a indústria de semicondutores é líder em ambas as classificações: o segmento de design representa mais de metade do R&D da indústria, enquanto o segmento de manufatura representa mais de três quartos do CapEx da indústria.

 

 

 

Neste setor, a concorrência é intensa e a inovação constante. As tendências indicam um foco em semicondutores especializados, como os destinados à inteligência artificial, veículos autónomos e IoT (internet das coisas), criando oportunidades estratégicas de investimento.

 

 

Tipos de semicondutores

 

Apesar de existirem classificações mais técnicas, é possível dividir os chips em 3 categorias principais:

 

• Processamento: este tipo de chips funciona com base em códigos binários (0 e 1), sendo esta a base fundamental do cálculo e da computação: microprocessadores (CPUs e GPUs), processadores gerais (FPGAs), microcontroladores (MCUs) e produtos de conectividade (modems de rede móvel, WiFi, Bluetooth e Ethernet). 

 

• Memória: chips de armazenamento de dados, necessários à realização de qualquer computação. Os 2 tipos principais são os: 

 

     •  DRAM: armazenamento dos dados, ou o código do programa, necessários ao funcionamento de um processador;

 

     • NAND: é a memória flash (SSDs,      HDDs). Ao contrário da DRAM, consegue armazenar dados de forma permanente. 

 

 •  DAOs (Discrete, Analog, and Others): estes chips transmitem, recebem e transformam dados de variáveis contínuas (p.e.: temperatura e voltagem): 

 

    • Chips discretos: projetados para funções elétricas;

 

    • Chips analógicos: conversores de sinais analógicos, como voz, para sinal digital;

 

    • Outros: sensores óticos, bem como uma ampla variedade de sensores de dispositivos. 

 

 

Quem são os principais players no mercado?

 

A indústria de semicondutores mudou bastante ao longo de seis décadas de história. Na década de 1960, um grupo seleto de empresas dominava todas as etapas da cadeia de valor, com uma integração vertical praticamente completa. No entanto, com o aumento da complexidade, surgiu a necessidade de escalar os modelos de negócio para manter o ritmo de inovação, impulsionando assim o nível de especialização dos agentes de mercado.

  

Empresas IDM (Integrated Device Manufacturer)

 

As empresas IDM (ou Integrated Device Manufacturer) foram as pioneiras do setor, integrando os vários segmentos da cadeia de valor: design, fabrico, montagem, embalagem e teste. Nas primeiras décadas da indústria, o modelo IDM era predominante, mas o crescimento dos investimentos em R&D e CapExp criou a necessidade de especialização. 

 

Empresas Fabless

 

As fabless têm o seu foco no design dos chips, incluindo a NVIDIA, subcontratando o fabrico, a montagem, embalagem e os testes. Este tipo de empresas surgiu da exigência do ritmo de inovação da indústria, que fez com que fosse cada vez mais difícil acompanhar os gastos de R&D e CapEx dos projetos mais inovadores, dada a complexidade técnica e o investimento inicial. Estima-se que a construção de uma fábrica de chips ronde os 20 mil milhões de euros e demore cerca de 5 anos a produzir. 

 

Foundries

 

Este tipo de empresas especializa-se na produção de semicondutores dando resposta às necessidades de produção das fabless e algumas IDMs. Este modelo de negócio requer um elevado investimento de capital de forma a cobrir as grandes despesas iniciais, sendo esta uma forte barreira à entrada de novos players. 

 

Atualmente, as foundries representam 35% capacidade de produtiva da indústria, e 50% se excluirmos o segmento de chips de memória (mais afastado da tecnologia de ponta da indústria). A sua participação sobe para 78% para o fabrico de chips de processamento nas gamas <14nm e são as únicas empresas que atualmente fabricam chips nas gamas de 5 nanómetros ou inferiores, os mais avançados do mercado.

 

Empresas Outsourced Assembly & Testing (OSATs)

 

As OSATs prestam serviços diretamente às IDMs e às fabless. Este segmento da cadeia de valor foi das primeiras especializações a ser terceirizada pelas IDMs dos EUA, nos anos 60, por ser menos intensivo em capital e mão de obra menos qualificada.

 

 

 

 

Como está organizada geograficamente a oferta

 

Conhecer a dispersão geográfica da oferta é essencial para aferir potenciais riscos geopolíticos e identificar sinergias. Este gráfico ilustra as quotas representativas de cada geografia por segmento da cadeia da oferta. 

 

 

 

O mercado está fragmentado em segmentos de domínio regional ao longo de cadeia de valor, sendo que nenhum país tem a capacidade produtiva completa na sua posse:

 

• Os EUA são líderes nas atividades intensivas em R&D, devido à quantidade de know-how que conseguem gerar num ecossistema propicio à inovação tecnológica. Os EUA têm a vantagem nas ferramentas de software que permitem "desenhar” os chips e no próprio design devido aos investimentos que realizam em R&D e ao facto de serem um foco bastante atrativo de talento. 

 

• O Leste da Ásia é líder no fabrico de wafers (as bases de silício onde serão "impressos” os chips). Esta atividade requerer um elevado investimento de capital, apoios do estado e mão de obra especializada. Taiwan é o foco da produção de chips de processamento mais avançados do mundo, devido à TSMC. 

 

 A China é líder na montagem, teste e packaging, atividades com menores barreiras à entrada, devido ao facto de este segmento não exigir mão de obra especializada. No entanto, tem investido imensos recursos para aumentar a sua quota na cadeia de valor.

 

• A Coreia do Sul tem a vantagem comparativa, ao longo da cadeia de valor, no que toca aos chips de memória. 

 

• No que toca ao equipamento, mais especificamente às máquinas de litografia, olhamos para a Europa como um todo, e não diretamente para a Holanda, devido ao conjunto dos fornecedores da ASML, maioritariamente europeus, que acabam por ser únicos no acesso a certos tipos de tecnologia.

 

 

Como investir em semicondutores

 

Pode começar a investir no setor dos semicondutores através de um cabaz de diferentes ações para diversificar, via fundos de investimento focado em tecnologia ou através de um fundos negociados em bolsa (ETF)

 

Quanto à seleção das empresas, pode investir nas que oferecem exposição direta ou indireta e ainda nas que forneçam matérias-primas ou serviços de conceção ou tecnologia ao setor dos semicondutores. 

 

Há um grande entusiasmo à volta dos semicondutores, com fortes perspetivas de procura, mas também existem alguns riscos que os investidores devem ter em conta. Por um lado, é necessário considerar as questões geopolíticas e, por outro, o potencial aumento dos custos de produção. As tensões comerciais entre as principais potências económicas, como os Estados Unidos, a China e a União Europeia, podem criar incertezas e volatilidade nos mercados de semicondutores. As restrições comerciais, as tarifas e as sanções podem afetar o comércio de chips e a colaboração entre empresas de diferentes países, levando a perturbações nas operações e impactos nos resultados financeiros das empresas.

 

Por exemplo, a tensão entre os EUA e a China já se faz sentir desde os anos da administração Trump. O atual contexto geopolítico tem impulsionado uma postura mais defensiva dos EUA, que tomaram medidas para reformular os setores com interesse de segurança nacional, dos quais faz parte o sector de semicondutores. Neste sentido, as cadeias de abastecimento são bastante sensíveis às relações internacionais que se encontram numa tendência de maior tensão. 

 

 

Banco Carregosa, aconselhamento especializado para investir em semicondutores

 

A temática dos semicondutores (chips) pode ser uma boa opção de investimento para si, mas, antes de investir, é necessário compreender como funciona a indústria, quem são os grandes intervenientes e como os desenvolvimentos podem afetar vários segmentos da economia global. No Banco Carregosa, pode contar com o apoio de consultores especializados para integrar estrategicamente os semicondutores no seu portfolio, considerando o seu perfil de risco, horizonte temporal e objetivos específicos. Entre em contacto.