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24 January 2025 01h15
Source: Vida Económica

As eleições alemãs em fevereiro e o futuro da Europa

As eleições alemãs em fevereiro e o futuro da Europa

As eleições legislativas alemãs foram antecipadas para o próximo dia 23 de fevereiro, anteriormente previstas para setembro de 2025, após o colapso da coligação que sustentava o governo germânico, penalizada sobretudo pela crise económica do país. A Alemanha registou em 2024 o segundo ano consecutivo de recessão, algo que apenas ocorreu uma outra vez desde o fim da Segunda Guerra Mundial, no início dos anos 2000, após a implosão das dotcom. A economia alemã perde competitividade a cada dia que passa, sendo urgente encontrar soluções eficazes. Ao mesmo tempo, a revitalização da economia francesa é igualmente imprescindível.

 

 

Há dez anos, qualquer ascensão nas sondagens ou nas eleições dos partidos populistas de direita na Europa era vista pelos investidores como um fator negativo para a economia. As reações nos mercados financeiros eram de forte desconfiança, traduzindo-se em quedas nas bolsas e um sentimento generalizado de receio, sobretudo porque estes partidos defendiam, e alguns ainda defendem, a saída do euro como uma das suas principais bandeiras caso chegassem ao poder. Enquanto os partidos da direita tradicional, do centro e do centro-esquerda — ou seja, a mainstream — consideram o euro um dos pilares da coesão e da UE, os partidos dos extremos do espectro político opõem-se habitualmente à moeda única europeia, continuando a gerar apreensão entre os investidores. Porém, a extrema-esquerda, historicamente contra o euro, tem perdido influência eleitoral, deixando de representar uma preocupação para os mercados. Além disso, por exemplo, a ascensão do SYRIZA na Grécia, em 2015, apesar de inicialmente defender a saída do euro, acabou por adotar as diretrizes de Bruxelas ao chegar ao poder.

 

 

Nos últimos anos, a perceção dos investidores sobre a ameaça representada pelos partidos populistas de direita favoráveis à saída do euro tem diminuído, sobretudo no que respeita a uma saída desordenada e de curto prazo. Há dez anos, a atual primeira-ministra de Itália, Giorgia Meloni, defendia posições eurocéticas, incluindo a saída da moeda única. No entanto, já antes de chegar ao poder em 2022, a sua retórica foi sendo moderada à medida que o partido ganhava popularidade e se tornava uma alternativa viável de governo. Antes das eleições gerais de 2022, Meloni adotou uma abordagem mais pragmática, afirmando que a Itália não sairia do euro.

 

 

Embora mais confiantes, os investidores ainda demonstram receios pontuais. O crescimento do RN de Marine Le Pen, em junho de 2024, afetou negativamente o CAC 40 e agravou o spread da dívida francesa face à alemã. Apesar de Le Pen já não defender a saída do euro, os mercados continuam a considerar a sua possível chegada ao poder um risco, devido às suas políticas protecionistas e à possibilidade de mudanças políticas radicais em França, que poderão estender-se à Alemanha, pilares da UE, comprometendo a estabilidade do bloco económico.

 

 

Os partidos do centro político europeu, conhecidos como partidos moderados e que governam a Europa há décadas, influenciam as políticas definidas por Bruxelas e defendem, para os próximos anos e no seguimento da pandemia, uma maior contenção da dívida pública e dos défices orçamentais, mesmo perante o atual cenário de estagnação económica. Todavia, políticas orçamentais expansionistas poderiam impulsionar a recuperação económica e um eventual afrouxamento das regras fiscais europeias poderia revelar-se desejável. À medida que a inflação desacelera, o BCE já iniciou o apoio monetário através da descida das taxas de juro.

 

 

Sendo a UE uma das maiores economias exportadoras do mundo, competindo diretamente com a China, as eleições alemãs de 23 de fevereiro poderão ser determinantes para o futuro da Europa nos próximos anos. As sondagens, compiladas pelo jornal Politico, indicam, a 17 de janeiro, intenções de voto de 30% para a CDU, 21% para a AfD, 16% para o SPD e 14% para os Verdes. Porém, na Alemanha, a AfD defende formalmente a saída do euro e, enquanto mantiver essa posição, continuará a ser excluída de qualquer coligação governamental.

 

 

Um dos aspetos positivos da ascensão da direita populista, tradicionalmente defensora de políticas económicas expansionistas, é a pressão que exerce sobre os partidos do centro — que controlam as políticas europeias e receiam perder eleitorado — para adotarem medidas mais ambiciosas de crescimento económico, como uma maior flexibilidade nas políticas orçamentais. Outro aspeto favorável é o consenso entre os partidos populistas de direita quanto à diversificação das fontes de energia, com destaque especial para a energia nuclear. Na Alemanha, a defesa desta opção pela AfD poderá ter contribuído decisivamente para a mudança de postura da CDU, agora mais favorável ao nuclear. A Europa, especialmente a Alemanha, enfrenta desafios devido ao elevado custo da energia, o que exige uma adaptação urgente a fontes mais acessíveis, como a energia nuclear, para recuperar a competitividade

 

 

Paulo Monteiro Rosa, Economista Sénior do Banco Carregosa