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06 agosto 2024 10h45

Taxas de juro: o que são e o que significam para os investidores

Taxas de juro: o que são e o que significam para os investidores

 

Descubra o que são as taxas de juro, como funcionam e como impactam os seus investimentos. 

 

Praticamente no mesmo dia de abril, duas notícias abalaram quem detinha euros e dólares. A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, anunciou numa conferência de imprensa que a batalha contra a inflação estava ganha - e que se preparava para cortar as taxas de juro em breve. Ao mesmo tempo, um relatório nos EUA mostrava que a economia se mantinha forte apesar da inflação mais elevada do que o esperado. Em resposta, a Reserva Federal Americana anunciou que não planeava mexer nas taxas de juro diretoras da maior economia do mundo. 

 

Foi um momento de corte com a longa tradição das duas entidades em seguir políticas monetárias paralelas – e as consequências não se fizeram esperar. No final dessa mesma semana, o euro estava a caminho da sua maior queda em 19 meses. Por norma, as taxas de juro mais altas levam os investidores a manterem a respetiva divisa, o que por sua vez valoriza face a outras moedas com retornos mais baixos. 

 

Situações como esta mostram a importância de acompanhar as variações das taxas de juro. Compreender e equacionar esta variável nos seus investimentos é fundamental para gerir o risco e aproveitar oportunidades. Veja como o fazer. 

 

 

O que são as taxas de juro?

 

As taxas de juro são o preço do crédito. Por outras palavras, correspondem ao valor pago por alguém ao utilizar o dinheiro de outrem durante determinado período, restituindo posteriormente o capital acrescido de um rendimento (juro). Trata-se do custo de oportunidade que se perde ao abdicar da utilização do próprio dinheiro, enquanto outra pessoa, sem capitais próprios, toma emprestado esse dinheiro para concretizar os seus projetos de consumo ou investimento, pagando ao final do contrato um juro (sendo este o custo do crédito concedido ou obtido). As taxas de juro refletem as preferências temporais entre aqueles que adiam o consumo ou investimento (emprestando o seu dinheiro) e aqueles que antecipam o consumo ou investimento (pedindo emprestado).

 

O risco, o tempo, a escassez, a inflação, a evolução da atividade económica e os bancos centrais influenciam as taxas de juro. Quando mais arriscado o empréstimo, mais elevada é a taxa de juro. Quanto mais tempo, também mais arriscado é, logo a taxa de juro tende a ser mais alta. Forte atividade económica pode ditar subida das taxas de juro pelos bancos centrais para travar eventuais surtos inflacionistas.

 

Com mais atividade há igualmente mais dinheiro, mais liquidez e mais dinheiro para emprestar, assim o preço do dinheiro tende a diminuir.  Não admira que a gestão deste "preço” seja uma das ferramentas mais poderosas ao alcance dos Bancos Centrais.

 

TAXA DE JURO NOVOS EMPRÉSTIMOS DOS BANCOS ÀS EMPRESAS - BCE

 

 


Fonte: Banco de Portugal

 

Em períodos de forte crescimento económico, a procura por bens e serviços aumenta, o que pode levar a um aumento dos preços - ou seja, inflação. Para evitar que a inflação fuja do controlo, os Bancos Centrais podem aumentar as taxas de juro, o que torna o crédito mais caro e a economia mais lenta. Por outro lado, em períodos de recessão, os Bancos Centrais podem reduzir as taxas de juro para incentivar o consumo e o investimento. Juros mais baixos tornam os empréstimos mais baratos, o que pode ajudar a estimular a economia.

 

Estas decisões vão naturalmente influenciar as condições de todo o mercado financeiro, incluindo as taxas de juro aplicadas a particulares e empresas quando solicitam financiamento. Por norma, quando um Banco Central aumenta a sua taxa de juro diretora (a taxa de juro praticada entre Bancos), está efetivamente a tornar mais caro o custo do dinheiro para todos, dos Bancos às empresas e particulares. Quando as taxas diretoras descem, acontece o inverso.

 

 

Tipos de taxas de juro

 

As taxas de juro podem afetar as estratégias de investimento, pelo que é importante conhecer os tipos que existem e os respetivos impactos. 

 

Taxas de juro nominais vs. reais

 

A taxa de juro nominal é a taxa de juro não ajustada pela inflação. Por exemplo, se tiver um investimento que rende 5% por ano, essa é a taxa nominal. Por outro lado, a taxa de juro real é a taxa ajustada pela inflação, que vai refletir o verdadeiro poder de compra dos rendimentos do seu investimento. Para calcular a taxa de juro real, deve subtrair a taxa de inflação da taxa nominal. Por exemplo, se a taxa nominal é 5% e a inflação é 2%, a taxa de juro real seria de 3%.

 

Em ambientes de alta inflação, a taxa real pode ser significativamente menor que a nominal, o que interfere no retorno real dos investimentos. Por isso, é crucial considerar este fator ao avaliar os rendimentos reais dos seus portefólios.

 

Taxas de juro fixas vs. variáveis

 

Como o próprio nome sugere, as taxas de juro fixas mantêm-se constantes ao longo do período do investimento, o que proporciona alguma previsibilidade. Os investidores podem saber com maior grau de certeza quanto pagarão ou receberão. Por outro lado, as taxas de juro variáveis sofrem flutuações de acordo com as mudanças nas taxas de mercado, muitas vezes indexada a uma taxa de referência como a Euribor a 3, 6 ou 12 meses.

 

O que significa isto para quem se financia? Num cenário de taxas de juro crescentes, uma taxa fixa pode ser vantajosa, pois pode proteger os detentores de créditos contra os aumentos de custos. Por outro lado, num ambiente de taxas decrescentes, uma taxa variável pode permitir algumas poupanças. Os investidores devem avaliar a sua tolerância ao risco e perspetivas de mercado ao escolher entre taxas fixas e variáveis.

 

Pelo contrário, um aforrador, num cenário de taxas de juro crescentes, deve procurar uma taxa variável, pois pode beneficiar dos aumentos de juros. Por outro lado, num ambiente de taxas decrescentes, uma taxa fixa pode permitir algum rendimento extra obtido pela fixação das taxas num patamar mais elevado. Os aforrados também devem avaliar a sua tolerância ao risco e perspetivas de mercado ao escolher entre taxas fixas e variáveis.

 

Taxa de juro de referência ou diretoras

 

As taxas de juro de referência (ou diretoras) são os juros que o BCE cobra aos Bancos pelos empréstimos concedidos. Estas taxas têm impacto nas taxas de juro dos empréstimos e dos depósitos praticados pelos Bancos europeus. Por sua vez, esta taxa reflete-se no custo do financiamento dos agentes económicos junto dos seus Bancos.

 

As decisões sobre as taxas de referência afetam diretamente os retornos dos investimentos. Podem até desencadear ajustes em larga escala nos mercados financeiros, afetando tudo, desde hipotecas até títulos corporativos. Por isso, os investidores devem acompanhar as políticas dos Bancos Centrais para prever movimentos nas taxas de juro e ajustar as suas estratégias de investimento.

 

Taxas de juro de curto e longo prazo

 

As taxas de juro de curto prazo referem-se às taxas aplicadas no mercado monetário, como a Euribor na Zona Euro, e têm uma maturidade até um ano, sendo diretamente influenciadas pelo banco central. Em contraste, as taxas de juro de longo prazo, com maturidade superior a um ano, correspondem às taxas do mercado de capitais, como os rendimentos dos títulos do tesouro, por exemplo.

 

 

O que ter em conta antes de investir

 

No que toca às taxas de juro, isto é o que deve ter em conta antes de investir.

 

1. Avalie o contexto económico

 

Antes de investir, compreenda o contexto económico do mercado-alvo, incluindo a tendência das taxas de juro, inflação e crescimento económico. Este entendimento ajuda a tomar decisões informadas sobre o timing e os tipos de investimento. Acompanhar o mercado e os eventos macroeconómicos é fundamental. Informação como as Perspetivas Trimestrais do Banco Carregosa, podem ajudar a tomar decisões de forma informada.

 

2. Calcule a rentabilidade real

 

Considere não apenas a taxa de juro nominal oferecida pelo investimento, mas também a inflação esperada. Calcule a rentabilidade real subtraindo a inflação da taxa de juro nominal para compreender o retorno real.

 

3. Analise as projeções de taxas de juro

 

Estude as previsões de taxas de juro do Banco Central dos mercados em que pensa investir. Acompanhe as estatísticas, publicações e calendários de reuniões dos Bancos Centrais para o ajudar a antecipar futuras mudanças nas taxas de juro e ajustar a sua estratégia de investimento em conformidade.

 

4. Diversifique o portefólio

 

Diversificar o portefólio com uma variedade de investimentos, incluindo títulos de diferentes prazos e setores, pode ajudar a mitigar os riscos associados a variações nas taxas de juro.

 

5. Tenha uma estratégia de longo prazo

 

As taxas de juro podem flutuar ao longo do tempo. Ter uma estratégia de investimento de longo prazo pode ajudar a superar as flutuações de curto prazo e alcançar objetivos financeiros de forma mais consistente.

 

6. Esteja atento às políticas dos Banco Centrais

 

Mantenha-se atualizado sobre as decisões dos Bancos Centrais. Mudanças nas políticas monetárias podem ter um grande impacto nas taxas de juro e nos mercados financeiros como um todo e, por isso, afetar os seus investimentos.

 

 

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